«Pintar de verde um sistema intrinsecamente insustentável»

«A “acção cli­má­tica”, como já antes o “de­sen­vol­vi­mento sus­ten­tável”, sal­taram para o centro do dis­curso po­lí­tico. Mas para além dos cha­vões, da pro­pa­ganda, da su­per­fi­ci­a­li­dade e até de algum opor­tu­nismo no tra­ta­mento destes temas, o que fica?», ques­ti­onou João Fer­reira, de­pu­tado do PCP no Par­la­mento Eu­ropeu (PE), in­ter­vindo no dia 20.

Ele mesmo res­pondeu: «O que fica é a in­sis­tência nas mesmas po­lí­ticas que com­pro­metem o de­sen­vol­vi­mento as­sente numa re­lação sus­ten­tável entre o Homem e a Na­tu­reza. Al­guns dos que fazem juras de em­penho na acção cli­má­tica e afirmam com­pro­missos so­lenes com o de­sen­vol­vi­mento sus­ten­tável são os mesmos que es­can­caram portas à des­truição am­bi­ental, eco­nó­mica e so­cial, por via das po­lí­ticas que aprovam».

É o caso das po­lí­ticas agrí­colas e co­mer­ciais, as­sentes no livre co­mércio, que des­troem os sis­temas pro­du­tivos mais dé­beis e des­lo­ca­lizam a pro­dução. O de­pu­tado co­mu­nista ques­ti­onou se «al­guém na Co­missão Eu­ro­peia fez as contas a quanto cus­tará em mais emis­sões de gases de efeito de es­tufa o acordo que a UE acabou de as­sinar com o Mer­cosul, para além do es­trago eco­nó­mico e so­cial?», antes de con­cluir: «Co­me­cemos por aqui. Por mo­delos de pro­dução e de con­sumo sus­ten­tá­veis e pare-se de tentar pintar de verde um sis­tema que é in­trin­se­ca­mente in­sus­ten­tável. A questão é fun­da­men­tal­mente po­lí­tica e so­cial, não apenas tec­no­ló­gica. O ca­pi­ta­lismo não é verde».

Antes, no dia 17, noutra in­ter­venção, João Fer­reira lem­brou que o BCE, o FMI e a Co­missão Eu­ro­peia cons­ti­tuíram a troika que in­ter­veio em Por­tugal, na Grécia e na Ir­landa. E lem­brou que Ch­ris­tine La­garde – que vai do FMI para o BCE – «foi grande de­fen­sora da cha­mada aus­te­ri­dade ex­pan­si­o­nista que ins­pirou os pro­gramas da troika».

Ma­ni­festou a cer­teza de que, na pró­xima crise do euro, para La­garde e quem a apoia, os sa­lá­rios e o em­prego vol­tarão a ser os fac­tores de ajus­ta­mento. E afi­ançou que, sendo a moeda e a banca «coisa de­ma­siado séria para es­tarem nas mãos de La­garde e do BCE», re­cu­perá-las para o con­trolo dos es­tados e dos povos «é con­dição ne­ces­sária para que sejam uti­li­zadas a favor dos seus in­te­resses – e não contra os seus in­te­resses».




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