A leilão

João Frazão

Segundo um jornal da nossa praça, o Ins­ti­tuto da Con­ser­vação da Na­tu­reza e Flo­restas terá re­cla­mado uma taxa de 4,5€ por cada avião que venha a aterrar no pro­jec­tado ape­a­deiro aéreo do Mon­tijo, acres­cendo a uma taxa ini­cial de 7,5 mi­lhões de euros.

Ainda se­gundo o pe­rió­dico, esta seria a con­tra­par­tida para que o ICNF fe­chasse os olhos aos bru­tais im­pactos am­bi­en­tais que o pró­prio Es­tudo de Im­pacto Am­bi­ental, en­co­men­dado para va­lidar a opção pre­vi­a­mente to­mada pelo Go­verno, a pe­dido da Vinci, não con­se­guiu es­conder.

Se­gundo as contas, ao fim de 40 anos (qua­renta!!!), o ICNF teria uma re­ceita es­ti­mada em 12 mi­lhões de euros para mi­ni­mizar esses im­pactos.

Fa­zendo contas sim­ples, o ICNF teria a as­tro­nó­mica soma de 300 mil euros por ano para de­fender as es­pé­cies da Re­serva Na­tural do Es­tuário do Tejo e das zonas in­te­gradas na Rede Na­tura 2000.

Tudo assim numa es­pécie de leilão em que se pro­cura não saber quem dá mais mas saber quanto em­bolsa a mais a con­ces­si­o­nária pri­vada dos ae­ro­portos Por­tu­gueses, a já ci­tada Vinci.

De facto, o que está em causa nesta obs­ti­nação pela cons­trução, não de um novo Ae­ro­porto In­ter­na­ci­onal de Lisboa, no Campo de Tiro de Al­co­chete, onde há es­paço, con­di­ções téc­nicas e am­bi­en­tais, mas de um ter­minal com a ca­pa­ci­dade es­go­tada a prazo e sem ca­pa­ci­dade para ser am­pliado, na Base do Mon­tijo, é, apenas e só, a in­tenção de poupar ao Grupo Francês, a quem PSD e CDS en­tre­garam a gestão dos ae­ro­portos Por­tu­gueses, a des­pesa que com­por­taria fazer o pri­meiro.

Nem que para isso se sa­cri­fi­quem po­pu­la­ções que vão ser se­ve­ra­mente atin­gidas, se pers­pec­tivem novos pro­blemas de saúde, e se po­nham em causa ha­bi­tats na­tu­rais de ex­tra­or­di­nária im­por­tância.

Para dar um ar­zinho de pre­o­cu­pação vai-se pedir o pa­ga­mento de menos de 1% do custo total es­ti­mado para a obra no Mon­tijo.

A Vinci agra­dece. A na­tu­reza, de que agora tantos falam, nem por isso.




Mais artigos de: Opinião

Chile

De novo, em diversos países na América Latina, a luta de classes assume uma tão grande expressão de massas que dificulta o seu completo apagamento pelos meios de comunicação social dominantes, tanto mais quando estas impõem importantes recuos à política neoliberal e derrotas políticas aos governos que zelosamente a...

Urgente!

À mesma hora a que o Governo do PS tomava posse, as comissões de utentes da saúde de Almada e do Seixal convocaram um protesto contra o encerramento da urgência pediátrica do Hospital Garcia de Orta em mais um fim de semana. Pais, avós, profissionais de saúde, muitos acompanhados dos verdadeiros utentes desta urgência,...

A questão essencial

Um estudo da Comissão Europeia - «Estimativa de Evasão Fiscal Internacional por Indivíduos» - revelou recentemente que, entre 2001 e 2016, foram transferidos para paraísos fiscais (offshores) cerca de 50 mil milhões de euros pelas famílias portuguesas mais ricas, o que equivale a cerca de um quarto do PIB português. O...

O método

O método nada tem de científico, mas resulta quase sempre: quando se quiser formar uma opinião acerca do que se passa em alguma parte do mundo basta ver o que dizem as televisões portuguesas… e concluir exactamente o contrário. Este método (não sustentado na ciência, insista-se) teria sido útil a muitos nesse já...

O papel que conta

Na pas­sada sexta-feira, Rui Rio, con­ti­nu­ando o em­buste da «mai­oria de es­querda» ini­ciado em 2015, dizia aos jor­na­listas que, ao con­trário do an­te­rior, este Go­verno não tinha um acordo es­tável nem uma mai­oria par­la­mentar, logo, po­deria não chegar ao fim.