Jerónimo de Sousa no debate quinzenal com o primeiro-ministro

Empurrar com a barriga não resolve os problemas

Je­ró­nimo de Sousa de­sa­fiou o Go­verno a «ter em conta e a não em­purrar pela bar­riga» os pro­blemas que afectam os ser­viços pú­blicos, sus­ten­tando que a si­tu­ação em que estes se en­con­tram - da saúde à edu­cação, à jus­tiça ou às forças de se­gu­rança – é «in­se­pa­rável dos pro­blemas com que se de­batem os seus pro­fis­si­o­nais».

«São pro­blemas muito sé­rios», su­bli­nhou Je­ró­nimo de Sousa, exor­tando o pri­meiro-mi­nistro a ouvir estes pro­fis­si­o­nais e a pro­curar so­lu­ções, face à gra­vi­dade dos mesmos.

Pro­blemas, por exemplo, dos ser­viços pú­blicos de saúde, que na opi­nião do Se­cre­tário-geral do PCP per­sistem de­vido ao «in­su­fi­ci­ente in­ves­ti­mento, no­me­a­da­mente para a con­tra­tação de pro­fis­si­o­nais».

«Há muito que vimos co­lo­cando esta pre­o­cu­pação: faltam mi­lhares de pro­fis­si­o­nais – mé­dicos, en­fer­meiros, téc­nicos da área do di­ag­nós­tico e te­rapia, as­sis­tentes ope­ra­ci­o­nais e téc­nicos», enu­merou, dei­xando claro que a «con­cen­tração de ser­viços, por vezes em uni­dades que ficam a de­zenas de qui­ló­me­tros de dis­tância», não re­solve os pro­blemas co­lo­cados pela trans­fe­rência de ser­viços e en­cer­ra­mentos.

Riscos sé­rios

A este pro­pó­sito citou o caso do en­cer­ra­mento da ur­gência de pe­di­a­tria do hos­pital Garcia de Orta, exemplo de uma si­tu­ação que clas­si­ficou de «ina­cei­tável» e que «pode ter con­sequên­cias ne­fastas na vida das cri­anças».

O di­ri­gente má­ximo do PCP lem­brou ainda que há ser­viços onde uma parte dos pro­fis­si­o­nais «estão es­go­tados de tanto tra­balho para tão poucos», dando como tes­te­munho o IPO, que vi­si­tara na se­mana an­te­rior, que ca­rece de 300 pro­fis­si­o­nais, se­gundo in­for­mação que lhe foi pres­tada.

«Pro­fis­si­o­nais que se em­pe­nham e se es­forçam e cuja con­tra­par­tida, de­pois, é a sua des­va­lo­ri­zação pro­fis­si­onal e sa­la­rial», cri­ticou.

Daí instar An­tónio Costa a es­cla­recer quando pensa dar «so­lução para estes pro­blemas», sob pena de, a nada ser feito, tal sig­ni­ficar o «fim do SNS a prazo».

Sem so­lu­ções à vista

O chefe do Go­verno afirmou que as «ca­rên­cias de pes­soal têm sido re­co­nhe­cidas» e que «tem sido feito um es­forço muito grande em todos os sec­tores» para as ul­tra­passar.

Cir­cuns­cre­vendo-se à área da saúde, re­feriu que neste do­mínio «mais de 12 mil pro­fis­si­o­nais en­traram ao ser­viço nos úl­timos quatro anos», e que foi au­to­ri­zada a aber­tura de um con­curso para 1830 novos mé­dicos es­pe­ci­a­listas, em­bora 467 ti­vessem fi­cado de fora por falta de re­co­nhe­ci­mento da ido­nei­dade dos for­ma­dores. Ad­mitiu ainda como ne­ces­sário alargar a «pos­si­bi­li­dade de haver con­cursos», dando o exemplo do Garcia de Orta onde tem ha­vido uma «su­cessão de con­cursos», sem que tenha ha­vido «con­cor­rentes su­fi­ci­entes». E mais não disse… Por saber ficou de­sig­na­da­mente a po­sição do chefe do Exe­cu­tivo pe­rante os graves pro­blemas que atingem ou­tros ser­viços pú­blicos fun­da­men­tais para a po­pu­lação, como a jus­tiça, a edu­cação ou as forças e ser­viços de se­gu­rança.



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