Pisados pela injustiça social

Manuel Rodrigues

Na pas­sada terça-feira, com grande im­pacto me­diá­tico, foi di­vul­gado mais um PISA que, como é sa­bido, é um re­la­tório da Or­ga­ni­zação para a Co­o­pe­ração e De­sen­vol­vi­mento Eco­nó­mico (OCDE), ela­bo­rado de três em três anos e que mede o de­sem­penho dos alunos de 15 anos em com­pe­tên­cias como lei­tura, ma­te­má­tica e ci­ên­cias, ava­li­ando ainda ou­tras ques­tões como o am­bi­ente es­colar e as con­di­ções de equi­dade na apren­di­zagem

De acordo com o PISA, neste caso re­fe­rente a 2018, as di­fi­cul­dades eco­nó­micas con­ti­nuam a ter efeitos ne­ga­tivos nos re­sul­tados es­co­lares dos alunos por­tu­gueses, bem como nas suas ex­pec­ta­tivas re­la­ti­va­mente à con­clusão de um curso su­pe­rior.

Para o PCP não há pro­pri­a­mente sur­presa no re­sul­tado avan­çado neste PISA: que a origem so­ci­o­e­co­nó­mica dos alunos seja um «forte in­di­cador» dos re­sul­tados es­co­lares; que os alunos de origem so­ci­o­e­co­nó­mica mais fa­vo­re­cida fi­quem acima dos que têm mai­ores di­fi­cul­dades eco­nó­micas; que os alunos mais po­bres não pers­pec­tivem con­cluir um curso su­pe­rior, o que, entre os alunos mais fa­vo­re­cidos, é um ob­jec­tivo de­cla­rado pela quase to­ta­li­dade.

Mas, se no di­ag­nós­tico, OCDE e PCP até pa­recem con­vergir, se­gu­ra­mente não con­vergem nem nas causas nem nas so­lu­ções para este pro­blema. Para o PCP, ha­vendo uma cor­re­lação entre baixos sa­lá­rios e pen­sões - po­breza - re­sul­tados es­co­lares, o pro­blema re­solve-se com sa­lá­rios e pen­sões dignos, jus­tiça so­cial, es­cola pú­blica de qua­li­dade e gra­tuita, edu­cação como di­reito, pro­gresso so­cial.

Quanto à OCDE, por mais «pisas» que pro­duza, nunca con­se­guirá en­xergar a ver­da­deira causa do fe­nó­meno. Pu­dera! pois sendo ela pró­pria uma or­ga­ni­zação do sis­tema do­mi­nante, como po­deria con­cluir que é na ex­plo­ração ca­pi­ta­lista que mer­gulha a mais pro­funda raiz do pro­blema?...




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