Não houve ataque químico em Douma, diz às Nações Unidas perito da OPAQ

Um ex-inspector chefe da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) afirmou perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas que a sua investigação em Douma, na Síria, indicava não ter havido qualquer ataque químico naquela localidade, em Abril de 2018, mas que as suas conclusões foram suprimidas por pressão dos Estados Unidos.

O antigo investigador Ian Henderson, que trabalhou 12 anos naquela organização como chefe de equipa de inspecção e perito de engenharia, garantiu que as provas científicas reunidas sugerem que não houve um ataque com gás naquela localidade síria. Uma das missões de Henderson foi, precisamente, uma deslocação a Douma, com a sua equipa, para averiguação de factos no terreno.

Numa sessão do Conselho de Segurança da ONU, reunida a 20 de Janeiro, em Nova Iorque, convocada pela delegação da Rússia, o especialista afirmou que a direcção da OPAQ rejeitou a investigação científica da sua equipa de trabalho, demitiu-a e produziu outro relatório contradizendo totalmente as primeiras conclusões.

«Nós temos sérias dúvidas de que tenha ocorrido um ataque químico», assegurou Henderson, citado pelo sítio web de notícias The Grayzone. Acrescentou que ao longo de meses de pesquisa tinha compilado provas confirmando o ponto de vista de que não existiu um ataque químico.

Militantes islamistas apoiados por potências estrangeiras e a organização conhecida por Capacetes Brancos, criada e financiada pelos EUA e pela Grã-Bretanha, acusaram o governo sírio de lançar do ar cilindros de gás sobre a cidade de Douma, matando dezenas de pessoas, em 7 de Abril de 2018. Damasco rejeitou a acusação, denunciando logo o incidente como uma encenação de grupos terroristas pagos por potências ocidentais.

Na altura, Douma era controlada pela milícia extremista jihadista Jaysh al-Islam, que foi criada e apoiada pela Arábia Saudita e formalmente aliada à Jabhat al-Nusra, filiada síria da Al-Qaeda.

Os governos dos EUA, Reino Unido e França responderam às alegações do ataque químico – não só não comprovado mas, sabe-se agora, forjado como provocação –, lançando raides aéreos contra posições sírias, a 14 de Abril. Estes ataques militares foram ilegais, de acordo com as leis internacionais, já que os países autores não tiveram autorização das Nações Unidas para os levar a cabo.

Vistos como armas

Em Maio de 2019, um relatório interno da OPAQ foi tornado público. Da autoria de Ian Henderson, explicava que «as dimensões, as características e o aspecto dos dois cilindros» em Douma «eram inconsistentes com o que seria expectável no caso de terem sido lançados de um avião» e acrescentava existir «uma grande possibilidade de ambos os cilindros terem sido colocados manualmente» nos locais onde foram encontrados.

Em Novembro, foi divulgado um outro documento da OPAQ acusando a liderança da organização de suprimir provas, sob pressão de funcionários governamentais dos EUA.

A WikiLeaks publicou também numerosos correios electrónicos internos da OPAQ revelando alegações de que os seus responsáveis forjaram o relatório sobre Douma que serviu de pretexto para os ataques ocidentais contra a Síria.

A 20 de Janeiro passado, Ian Henderson apresentou o seu primeiro testemunho presencial sobre o assunto, numa reunião informal do Conselho de Segurança da ONU.

A missão da China nas Nações Unidas já tinha convidado o perito a testemunhar numa sessão do Conselho de Segurança. Henderson confirmou que pretendeu apresentar presencialmente o seu testemunho mas não conseguiu obter o visto, a conceder pelo governo norte-americano, de entrada nos EUA.




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