A ofensiva soviética do Inverno de 1945: aproxima-se a vitória!

Gustavo Carneiro

A ofen­siva lan­çada a 12 de Ja­neiro co­locou o Exér­cito Ver­melho às portas de Berlim

Se as vi­tó­rias so­vié­ticas em Sta­li­ne­grado e Kursk, em Fe­ve­reiro e Agosto de 1943, re­ti­raram de­fi­ni­ti­va­mente a ini­ci­a­tiva mi­litar aos nazi-fas­cistas e vi­raram o curso da Se­gunda Guerra Mun­dial, no início de 1945 esta es­tava ainda longe do fim. Muito em­bora ti­vessem per­dido a Leste, só no Verão e Ou­tono de 1944, um mi­lhão e meio de ho­mens, 6700 tan­ques e mais de 12 mil aviões, as tropas hi­tle­ri­anas eram ainda po­de­rosas. O su­fi­ci­ente para cer­carem norte-ame­ri­canos e bri­tâ­nicos. O fan­tasma de Dun­querque vol­tava a pairar.

No dia 6 de Ja­neiro, o pri­meiro-mi­nistro bri­tâ­nico Winston Chur­chill es­creve ao líder so­vié­tico Josef Stá­line pe­dindo-lhe ajuda: «Sa­beis por ex­pe­ri­ência pró­pria como é alar­mante uma si­tu­ação em que é pre­ciso de­fender uma frente muito ampla, de­pois de se ter per­dido tem­po­ra­ri­a­mente a ini­ci­a­tiva. (…) Ficar-lhe-ei grato se puder co­mu­nicar-me se po­demos contar com uma grande ofen­siva russa na frente do Vís­tula ou em qual­quer outro lugar, du­rante o mês de Ja­neiro, ou em quais­quer ou­tros mo­mentos que de­seje men­ci­onar. (…) Acho que o caso é ur­gente.»

A res­posta é ime­diata: «Pre­pa­ramo-nos para uma ofen­siva, mas as ac­tuais con­di­ções at­mos­fé­ricas não a fa­vo­recem. No en­tanto, tendo em conta a si­tu­ação dos nossos ali­ados na Frente Oci­dental, o Quartel-Ge­neral do Co­mando Su­premo re­solveu ace­lerar os pre­pa­ra­tivos e, apesar do mau tempo, de­sen­ca­dear am­plas ope­ra­ções de ofen­siva contra os ale­mães em toda a Frente Cen­tral, o mais tardar na se­gunda me­tade de Ja­neiro.»

Mar­cada ini­ci­al­mente para 20 de Ja­neiro, a ofen­siva é an­te­ci­pada para o dia 12. O seu êxito obriga desde logo os nazi-fas­cistas a aban­do­narem os seus planos na Frente Oci­dental. No dia 17, Chur­chill es­creve de novo a Stá­line: «Em nome do Go­verno de Sua Ma­jes­tade e do fundo do co­ração, quero ma­ni­festar-lhe o nosso re­co­nhe­ci­mento e apre­sentar fe­li­ci­ta­ções pela gi­gan­tesca ofen­siva em­pre­en­dida na Frente Leste.»

Avanço im­pe­tuoso
até ao co­ração do Reich

A ofen­siva so­vié­tica do In­verno de 1945 não re­sultou apenas no alívio das forças anglo-ame­ri­canas. Re­pre­sentou igual­mente um im­pa­rável mo­vi­mento li­ber­tador, que apenas ter­mi­naria quando, no início de Maio, a ban­deira ver­melha com a foice, o mar­telo e a es­trela de cinco pontas on­dulou no topo do Rei­chstag: de­pois de, ainda em 1944, terem sido li­ber­tadas a No­ruega, a Ro­ménia e a Bul­gária, nos pri­meiros meses do novo ano é a vez de Var­sóvia e Bu­da­peste, se­guindo-se Viena, em Abril.

Nas hostes nazi-fas­cistas rei­nava o de­sâ­nimo. O ge­neral Gu­de­rian adi­vi­nhava que a ofen­siva so­vié­tica, de uma «ra­pidez ja­mais vista», re­sul­tasse numa «ca­tás­trofe». O mi­nistro Speer es­crevia a Hi­tler ga­ran­tindo se­ca­mente: «per­demos a guerra.» Até os mais atentos ana­listas se sur­pre­en­deram com os su­ces­sivos e ful­mi­nantes golpes des­fe­ridos na­quela que, dois anos antes, era vista como uma má­quina de guerra in­fernal e vir­tu­al­mente in­des­tru­tível. A 5 de Fe­ve­reiro, es­crevia o The Times: «Em três se­manas de com­bates a uma es­cala gi­gan­tesca, as tropas do Exér­cito Ver­melho per­cor­reram o ca­minho que leva do Vís­tula [na Po­lónia] a re­giões que põem Berlim di­rec­ta­mente em causa.»

De facto, não du­raria muito até os so­vié­ticos en­trarem na ca­pital do Reich. A con­quista do úl­timo re­duto do nazi-fas­cismo foi dura, cus­tando aos li­ber­ta­dores mais de 300 mil vidas. Em Maio, o im­pério de mil anos pro­jec­tado pelos mo­no­pó­lios ale­mães e anun­ciado por Hi­tler ruía.

Cabe-nos a nós ga­rantir que nunca mais se le­vanta!




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