Movimento(s) do grande capital

Manuel Rodrigues (Membro da Comissão Política)

O que os in­co­moda é a in­ter­venção do PCP

Re­a­lizou-se nos pas­sados dias 10 e 11 de Março a II con­venção do Mo­vi­mento Eu­ropa e Li­ber­dade (MEL), na Cul­tur­gest em Lisboa.

A con­venção do MEL reuniu co­nhe­cidas fi­guras da di­reita por­tu­guesa, di­ri­gentes e ex-di­ri­gentes do PSD, CDS, IL e Chega e onde ti­veram pre­sença des­ta­cada os ex- pri­meiro-mi­nistro e vice-pri­meiro mi­nistro do Go­verno PSD/​CDS-PP, res­pec­ti­va­mente Passos Co­elho e Paulo Portas.

Diz-se que pro­cu­ravam um líder que com­bata o «so­ci­a­lismo ra­dical e a ex­trema-es­querda», mas, ao que pa­rece, não con­se­guiram su­perar as suas di­vi­sões (con­jun­tu­rais).

Passos Co­elho (o mais aplau­dido), cujo nome reuniu en­ten­di­mento, terá fu­gido ao de­safio; Paulo Portas, além do ras­gado elogio a Passos Co­elho, ter-se-á li­mi­tado a cri­ticar «esta coisa de go­vernar para likes»; Mi­guel Mor­gado, ex-de­pu­tado do PSD, de­fendeu o lan­ça­mento da grande «fe­de­ração das di­reitas» para com­bater o «so­ci­a­lismo, o es­ta­tismo, o com­pa­drio, a cor­rupção, o par­tido do Es­tado, os ex­tre­mismos»; Fran­cisco Ro­dri­gues dos Santos (pre­si­dente do CDS) clamou por um «líder agre­gador»; João Co­trim Fi­guei­redo (IL) disse pre­ferir apostar na plu­ra­li­dade das di­reitas; André Ven­tura avisou que não sairá do Chega en­quanto não trans­formar o Alen­tejo, Ri­ba­tejo e in­te­rior numa manta de votos do seu par­tido e que «o PCP vai ficar tão re­du­zido» que «quando olhar para trás, nem vai per­ceber o que lhe acon­teceu».

Pois bem, a II Con­venção do MEL, para lá do que deixou ex­plí­cito nas afir­ma­ções la­pi­dares aqui re­pro­du­zidas, no es­sen­cial e por an­tí­tese, con­firma a aná­lise do PCP sobre a si­tu­ação po­lí­tica na­ci­onal (veja-se o co­mu­ni­cado do Co­mité Cen­tral de 29 de Fe­ve­reiro e 1 de Março) e mostra quanto é im­por­tante re­forçar o Par­tido para pros­se­guir e in­ten­si­ficar a sua in­ter­venção.

De facto, lendo as li­nhas e en­tre­li­nhas dos dis­cursos e dos si­lên­cios deste con­clave da di­reita or­ques­trado pelo grande ca­pital, duas con­clu­sões prin­ci­pais é justo re­tirar:

1. Que, no quadro da crise es­tru­tural do ca­pi­ta­lismo que se apro­funda, o ca­pital mo­no­po­lista trava uma guerra de­ses­pe­rada e sem tré­guas para, ao mesmo tempo que apro­veita as op­ções de classe do Go­verno do PS ao seu ser­viço, con­ti­nuar a pro­mover pro­jectos re­ac­ci­o­ná­rios e an­ti­de­mo­crá­ticos que visam o agra­va­mento da ex­plo­ração, das de­si­gual­dades e in­jus­tiças e o com­pro­me­ti­mento da so­be­rania e in­de­pen­dência na­ci­o­nais que o pro­cesso de in­te­gração ca­pi­ta­lista na União Eu­ro­peia re­pre­senta e a po­lí­tica de di­reita pros­se­guida ao longo de dé­cadas por PS, PSD e CDS tem as­se­gu­rado;

2. Que a in­ter­venção do PCP, ar­ti­cu­lada com a luta dos tra­ba­lha­dores e do povo que há dé­cadas re­siste à po­lí­tica de di­reita que foi de­ci­siva para a der­rota do Go­verno PSD/​CDS e para a nova fase da vida po­lí­tica que se se­guiu às elei­ções de Ou­tubro de 2015, com a de­fesa, re­po­sição, e con­quista de di­reitos; que não de­siste de lutar por avanços na res­posta aos pro­blemas dos tra­ba­lha­dores, do povo e do País, pela rup­tura com a po­lí­tica de di­reita, por uma al­ter­na­tiva pa­trió­tica e de es­querda, parte in­te­grante de uma de­mo­cracia avan­çada vin­cu­lada aos va­lores de Abril, do so­ci­a­lismo e do co­mu­nismo, é o Par­tido que ver­da­dei­ra­mente os in­co­moda.

De facto, o que os in­co­moda é que o PCP, que ini­ciou no pas­sado dia 6 de Março as co­me­mo­ra­ções do seu cen­te­nário sob o lema «Li­ber­dade, De­mo­cracia, So­ci­a­lismo. O fu­turo tem Par­tido!», as­suma com con­fi­ança o seu com­pro­misso de sempre com os tra­ba­lha­dores e o povo na luta por uma so­ci­e­dade nova.

Tudo o mais não passa de um imenso fait di­vers a tentar des­viar as aten­ções do que é es­sen­cial: que para o grande ca­pital, é mau que haja um Par­tido que de­nuncie a es­sência e os me­ca­nismos da ex­plo­ração. Ainda pior, que mostre que é pos­sível cons­truir uma so­ci­e­dade sem ex­plo­ração do homem pelo homem. Ab­so­lu­ta­mente inad­mis­sível, que lute pela con­cre­ti­zação dessa al­ter­na­tiva e afirme que é a ela que o fu­turo per­tence.




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