Combater o vírus e o capitalismo

João Pimenta Lopes

Com o alas­trar do surto epi­dé­mico de Covid-19 a todo o mundo, também as ins­ti­tui­ções eu­ro­peias viram o seu fun­ci­o­na­mento afec­tado, em par­ti­cular o Par­la­mento Eu­ropeu. Num es­paço de duas se­manas a sua ac­ti­vi­dade, sem que disso se desse conta, pra­ti­ca­mente cessou. Apesar disto, e do en­sur­de­cedor si­len­ci­a­mento da co­mu­ni­cação so­cial, os de­pu­tados do PCP não sus­pen­deram a sua acção e in­ter­venção po­lí­tica. Pelo con­trário, e porque nem todos estão do mesmo lado, foram vá­rias as per­guntas e ini­ci­a­tivas di­ri­gidas à Co­missão Eu­ro­peia que con­tri­buem para re­a­firmar a de­núncia e pôr ainda mais a nu as con­sequên­cias das po­lí­ticas do pro­cesso de in­te­gração ca­pi­ta­lista eu­ropeu. Desde o ques­ti­o­na­mento sobre a con­ti­nui­dade dos jogos de guerra pro­mo­vidos pela NATO em ter­ri­tório eu­ropeu, à pro­tecção de pas­sa­geiros de avi­ação, à co­brança de co­mis­sões ban­cá­rias. Ao ques­ti­o­na­mento, quer pelo ex­pe­di­ente de per­gunta es­crita, quer por uma carta subs­crita por duas de­zenas de de­pu­tados de vá­rios grupos po­lí­ticos e na­ci­o­na­li­dades, sobre a ne­ces­si­dade de im­ple­mentar me­didas adi­ci­o­nais, como: a sus­pensão do Pacto de Es­ta­bi­li­dade e a não con­ta­bi­li­zação dos in­ves­ti­mentos ne­ces­sá­rios para o com­bate à pan­demia das re­gras do de­ficit até ao fim de 2020; o fi­nan­ci­a­mento adi­ci­onal da aqui­sição de equi­pa­mentos de saúde; re­di­re­ci­onar verbas da má­quina de pro­pa­ganda da UE e das suas po­lí­ticas se­cu­ri­tá­rias e mi­li­ta­ristas, para apoio aos ser­viços pú­blicos de saúde e se­gu­rança so­cial, para apoios so­ciais, as­se­gu­rando que não há perdas de ren­di­mento e de di­reitos dos tra­ba­lha­dores afe­tados pela pan­demia, para a di­na­mi­zação da ati­vi­dade eco­nó­mica, nos apoios às micro, pe­quenas e mé­dias em­presas e no in­ves­ti­mento pú­blico em in­fra­es­tru­turas re­le­vantes; para o re­forço da co­o­pe­ração in­ter­na­ci­onal, no­me­a­da­mente com a China, para for­mação de pes­soal de saúde apto a lidar com o vírus; propor a anu­lação ime­diata de san­ções apli­cadas a países ter­ceiros afec­tados pela pan­demia.

No dia de hoje es­tará a de­correr uma sessão ple­nária num quadro aper­tado de res­trição à par­ti­ci­pação dos eleitos, já que pouco mais de uma cen­tena es­tarão em con­di­ções de par­ti­cipar fi­si­ca­mente, e onde o Par­la­mento Eu­ropeu vo­tará a sua po­sição sobre o li­mi­tado pa­cote de me­didas pro­postas pela Co­missão Eu­ro­peia. Os de­pu­tados do PCP no Par­la­mento Eu­ropeu não ab­di­carão das fer­ra­mentas de que dis­põem para tra­duzir vá­rias da­quelas pro­postas e ori­en­ta­ções po­lí­ticas em in­ter­venção e al­te­ra­ções con­cretas aos do­cu­mentos vo­tados nesta sessão.

Se algo a si­tu­ação que vi­vemos põe à evi­dência é a va­li­dade das de­nún­cias que há dé­cadas o PCP vem fa­zendo, das de­sas­trosas con­sequên­cias de ou­tras tantas dé­cadas de im­po­sição dos gar­rotes das po­lí­ticas da UE, de de­sin­ves­ti­mento nos ser­viços pú­blicos, de des­truição do apa­relho pro­du­tivo, de des­ba­ra­ta­mento de sec­tores es­tra­té­gicos, de au­mento da ex­plo­ração dos tra­ba­lha­dores. Se algo esta si­tu­ação põe à evi­dência é que há um «vírus» tão ou mais pe­ri­goso que aquele que pro­voca a Covid-19 e que põe em risco as nossas vidas. Chama-se ca­pi­ta­lismo e é pre­ciso dar-lhe com­bate. Sejam os di­fí­ceis tempos que se avi­zi­nham a opor­tu­ni­dade para fazer des­pertar a cons­ci­ência de mi­lhões de tra­ba­lha­dores por todo o mundo!




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