Construir e divulgar a Festa que apoia a cultura portuguesa

FESTA Apre­sen­tado o es­sen­cial da pro­gra­mação cul­tural e co­nhe­cidas as prin­ci­pais me­didas de pro­tecção sa­ni­tá­rias que serão adop­tadas, a pre­pa­ração e di­vul­gação da Festa do Avante! en­tram agora numa nova fase. A par­ti­ci­pação nas jor­nadas de tra­balho e a venda da EP são ele­mentos fun­da­men­tais.

A Festa terá menos área cons­truída e mais es­paços de lazer e es­tadia

A Festa do Avante! con­tinua a ser cons­truída, no ter­reno e um pouco por todo o País. No pas­sado fim-de-se­mana, e à se­me­lhança do que vem su­ce­dendo desde há sen­si­vel­mente um mês, tra­ba­lhou-se com de­di­cação e afinco na Quinta da Ata­laia: nas ta­refas de lim­peza, na me­lhoria de infra-es­tru­turas e equi­pa­mentos, na cons­trução dos es­paços.

Este ano, como já foi anun­ciado, ha­verá mais área à dis­po­sição do vi­si­tante (to­ta­li­zando -30 hec­tares), menos pa­redes e uma menor den­si­dade de cons­trução, per­mi­tindo a cir­cu­lação do ar e áreas de lazer e es­pla­nada mais am­plas, de modo a ga­rantir o ne­ces­sário dis­tan­ci­a­mento fí­sico. Os es­paços estão a ser or­ga­ni­zados de forma a per­mitir cir­cuitos de cir­cu­lação que evitem con­cen­tra­ções e cru­za­mentos. É nesse sen­tido que já se tra­balha.

A im­plan­tação da edição de 2020 da Festa do Avante! re­vela já uma nova con­fi­gu­ração, no­me­a­da­mente em redor dos três palcos cen­trais, que terão áreas de pla­teia con­si­de­ra­vel­mente mai­ores: o Palco 25 de Abril cresceu mais 6000m2, o Au­di­tório 1.º de Maio deixa de ter co­ber­tura e passa a ser um es­paço ao ar livre com cerca de 5000m2, ha­vendo ainda um ter­ceiro palco de grandes di­men­sões, junto à Praça da Paz. O Avan­te­atro adap­tará a sua pro­gra­mação para te­atro de rua. Em todos estes es­paços ha­verá de­li­mi­tação fí­sica das áreas, com a mar­cação de cor­re­dores e cir­cuitos, e equipas de as­sis­tentes de pla­teia.

A pu­bli­cação, na úl­tima edição do Avante!, do su­ple­mento com os ar­tistas que com­põem o cartaz cul­tural deste ano, con­firmou o que havia sido anun­ciado: a aposta ex­clu­siva em ar­tistas por­tu­gueses, ra­di­cados em Por­tugal ou ori­gi­ná­rios dos países afri­canos de ex­pressão por­tu­guesa, numa ma­ni­fes­tação de apoio aos ar­tistas e de­mais tra­ba­lha­dores da cul­tura, for­te­mente afec­tados pelo surto epi­dé­mico de COVID-19. A di­vul­gação do pro­grama cons­titui ainda um im­por­tante apoio à venda da EP, ta­refa pri­o­ri­tária co­lo­cada nos pró­ximos tempos às or­ga­ni­za­ções e mi­li­tantes do Par­tido.

Mas para lá das al­te­ra­ções que ine­vi­ta­vel­mente se im­põem na con­cepção, cons­trução e fun­ci­o­na­mento da Festa, ela con­ti­nuará a ser o que sempre foi, dando vi­si­bi­li­dade às tra­di­ções, à cul­tura, ao con­vívio, à gas­tro­nomia, às lutas e as­pi­ra­ções dos tra­ba­lha­dores, do povo e da ju­ven­tude, à so­li­da­ri­e­dade in­ter­na­ci­o­na­lista, ao pro­jecto do Par­tido, que tão bem es­pelha. Este ano, no Es­paço Cen­tral, uma das ex­po­si­ções é de­di­cada às «le­vadas» da Ma­deira e ao di­reito ao uso da água no ar­qui­pé­lago.


A água na ilha da Ma­deira: uma luta de sé­culos
entre a apro­pri­ação in­di­vi­dual e a co­lec­tiva

 

As «le­vadas» tí­picas da Ma­deira cons­ti­tuem uma forma ori­ginal de cap­tação e dis­tri­buição de água pelos agri­cul­tores


Desde o início do po­vo­a­mento da Ma­deira que existia uma pro­funda ne­ces­si­dade de re­gu­la­mentar o con­sumo da água, de­vido à ine­xis­tência de cursos de água per­ma­nentes, o que di­fi­cul­tava a sua uti­li­zação de forma es­pon­tânea, mas também porque a pri­mi­tiva ri­queza de­ri­vada da pro­dução de açúcar exigia grandes quan­ti­dades de água e a sua dis­tri­buição de forma or­ga­ni­zada.

As me­didas quanto ao seu uso são, por isso, con­tem­po­râ­neas do po­vo­a­mento e as­sen­tavam num ca­rácter co­lec­tivo quanto à sua apro­pri­ação, em­bora, no es­sen­cial, tal vi­esse a be­ne­fi­ciar os grandes agri­cul­tores de cana-de-açúcar e os «en­ge­nhos» des­ti­nados à sua trans­for­mação.

Gerou-se, assim, um sis­tema de re­colha e dis­tri­buição que se es­pa­lhou por toda a ilha, que as­sen­tava em ca­nais, tra­di­ci­o­nal­mente de­sig­nados como «le­vadas», cuja gestão era efec­ti­vada pelos pró­prios re­gantes e, também, um re­gime legal que se veio a tornar di­fe­rente do que vi­go­rava no resto do País.

Mas estas ca­rac­te­rís­ticas não po­diam manter-se à margem das re­la­ções de pro­dução nos campos e, por isso, a ge­ne­ra­li­zação do re­gime de ex­plo­ração da terra de­no­mi­nado como «co­lonia» veio a in­tro­duzir pro­fundas mo­di­fi­ca­ções ao pa­no­rama ini­cial.

A co­lonia

Já no de­correr do séc. XVIII ge­ne­ra­lizou-se a ex­plo­ração da terra num sis­tema que ia buscar as suas raízes à Idade Média e que veio a con­sa­grar uma di­visão do di­reito de pro­pri­e­dade, no qual a pro­pri­e­dade da nua-terra per­tencia ao «se­nhorio» e tudo o que fosse feito sobre a mesma, a «ben­fei­toria», per­tencia ao «co­lono», ou, como se tornou de­sig­nação mais vulgar, ao «ca­seiro», desde que ti­vesse a sua ha­bi­tação no ter­reno.

A di­visão da pro­dução era feita por me­tade, mas ao co­lono im­por­tavam todas as des­pesas, quer com as cul­turas, quer com o in­ves­ti­mento ne­ces­sário para «des­bravar a terra», o qual era ele­va­dís­simo.

Ainda mais in­justo era o di­reito do se­nhorio a des­pejar o co­lono, por sua ex­clu­siva von­tade, apenas li­mi­tado a pagar-lhe algum valor «pela ben­fei­toria». Dado que o co­lono ge­ral­mente tinha cons­truído a sua casa sobre a terra do se­nhorio, isso cor­res­pondia a uma ex­trema vi­o­lência sobre as fa­mí­lias dos co­lonos.

Mas, para que o do­mínio dos se­nho­rios fosse total, estes apro­pri­aram-se quer das nas­centes, quer das prin­ci­pais le­vadas, fi­cando com o poder de re­tirar a água do ter­reno e dei­xando-o im­pro­du­tivo.

Por isso, o uso das águas e o re­gime da co­lonia tor­naram-se in­dis­so­ciá­veis.

As lutas

Após o 25 de Abril foi criada a União dos Ca­seiros da Ilha da Ma­deira, onde so­bres­saiu o papel de di­recção da ca­ma­rada Inês Afon­seca, que lutou efi­caz­mente por esses ob­jec­tivos através da per­sis­tente mo­bi­li­zação dos co­lonos e pe­quenos agri­cul­tores.

Também o PCP es­teve em con­so­nância com essas lutas, que para além de ou­tras ini­ci­a­tivas foram per­sis­ten­te­mente le­vadas à As­sem­bleia Re­gi­onal da Ma­deira pelo seu de­pu­tado.

A Re­volta da Água

Quando obras pú­blicas pu­seram em causa a «Le­vada do Moinho», no sítio da Lom­bada da Ponta do Sol, a po­pu­lação re­agiu com uma luta in­tensa, que só foi ven­cida através das pri­sões, es­pan­ca­mentos e o as­sas­si­nato, pela po­lícia, a 21 de Agosto de 1962, de uma jovem, co­nhe­cida como São­zinha.

Estes acon­te­ci­mentos foram to­tal­mente si­len­ci­ados pela cen­sura fas­cista e apenas foram no­ti­ci­ados pelo Avante! de Ou­tubro desse ano e re­fe­ridos por Álvaro Cu­nhal no Rumo à Vi­tória.



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