Após explosões em Beirute, protestos forçam demissão do governo libanês
LÍBANO Seis dias depois das violentas explosões no porto de Beirute que devastaram a capital libanesa, o governo de Hassan Diab demitiu-se, forçado pelas manifestações populares que denunciam a corrupção e incompetência de forças que têm vindo a governar o país desde há décadas e exigem, entre outras medidas, uma nova Constituição. Os protestos prosseguem num Líbano em profunda crise.
Manifestantes exigem mudanças na Constituição do Líbano
O primeiro-ministro do Líbano, Hassan Diab, anunciou a demissão do seu governo, em resultado do aprofundamento da crise política, económica e social no país, agravada pela pandemia de Covid-19 e pelas explosões ocorridas no dia 4 no porto de Beirute, de que resultaram mais de 160 mortos, seis mil feridos e a destruição total ou parcial de bairros inteiros da capital, deixando cerca de 300 mil pessoas desalojadas.
Pressionado pelas manifestações de rua, que contestam a corrupção dos governantes dos últimos 30 anos – corrupção que, sublinhe-se, é inerente ao próprio sistema capitalista –, Diab reuniu-se na segunda-feira, 10, com os membros do seu governo e apresentou a demissão do gabinete, que tinha tomado posse em finais de Janeiro de 2020. Pouco antes do anúncio da renúncia, já vários ministros tinham apresentado a demissão.
«Hoje anuncio a demissão deste governo», disse Diab num discurso transmitido pela televisão. Criticou a corrupção que conduziu, segundo ele, «a este terramoto que atingiu o país, com todas as suas consequências humanitárias, sociais e económicas». A catástrofe que atingiu os libaneses «aconteceu devido à corrupção endémica na política, na administração e no Estado», disse o primeiro-ministro demissionário. «Descobri que a corrupção institucionalizada era mais forte que o Estado», reconheceu.
Nestes dias, Beirute tenta levantar-se com a ajuda de diferentes países e organizações internacionais e respectivos donativos, envio de assistência médica e de equipas de resgate.
Uma conferência de doadores para o Líbano organizada pelas Nações Unidas e pelo presidente francês, Emmanuel Macron, em que participaram vários países, angariou a promessa de 254 milhões de euros em assistência humanitária, que alguns querem condicionar ao cumprimento de denominadas, mas não nomeadas, «reformas».
Eliminar o vigente
sistema confessional
O executivo que acaba de demitir-se, integra partidos como a Corrente Patriótica Livre (cristão maronita), Amal (muçulmano xiita), Hezbollah (xiita) e aliados.
A imprensa de Beirute destaca que, quase em simultâneo com a renúncia do governo do Líbano, milhares de manifestantes saíram às ruas para exigir mais que a demissão. Sectores populares retomaram as reivindicações de eliminar o sistema confessional vigente. Segundo a Constituição do Líbano, a repartição de cargos institucionais tem por base um equilíbrio entre as diferentes confissões religiosas neste país.
Defender os interesses nacionais
Em comunicado e entre outros importantes aspectos, o Partido Comunista Libanês (PCL) recusou qualquer tentativa de se tirar proveito desta catástrofe em sentido contrário aos interesses nacionais, alertando que algumas forças estão a aproveitar a situação para promover lutas sectárias e regionais no Líbano. O PCL afirma que este é um momento de unidade e solidariedade nacional, e não de qualquer discurso divisionista ou excludente. O PCL rejeita particularmente todas as tentativas das forças políticas ou sectárias de tirar vantagem deste crime a fim de ajustar o equilíbrio interno de poder ou de trazer poderes estrangeiros para intervir nos assuntos internos do país.O PCL exorta os libaneses a afirmar o seu patriotismo, que provou ser essencial em todas as circunstâncias difíceis pelas quais o Líbano passou.
O PCL considera que a tarefa de construir um estado de cidadania moderno preside sobre uma qualquer tentativa de alavancar a posição de potências estrangeiras e fornecer-lhes as ferramentas e recursos para intervir nos assuntos internos do Líbano, o que proporcionaria um terreno fértil para fragmentar as instituições do Estado e minar a soberania nacional.