Ivone Bila
Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO)

«Os moçambicanos não cruzam os braços perante os problemas do país»

De­pu­tada à As­sem­bleia da Re­pú­blica de Mo­çam­bique, eleita pela FRE­LIMO pelo cír­culo da Eu­ropa e do Resto do Mundo, Ivone Bila re­pre­sentou o seu par­tido na Festa do Avante! e falou dos vá­rios com­bates que os mo­çam­bi­canos travam: contra a pan­demia de COVID-19, contra o ter­ro­rismo, pela paz e uni­dade na­ci­onal, pelo de­sen­vol­vi­mento do país.


Em traços ge­rais, qual a si­tu­ação ac­tual em Mo­çam­bique?

En­fren­tamos a pan­demia de COVID-19, é um pro­blema mun­dial, nin­guém es­tava pre­pa­rado para esse de­safio, nós es­tamos a tentar re­solvê-lo da me­lhor forma. O nú­mero de óbitos tem sido re­la­ti­va­mente baixo, mas é uma si­tu­ação pre­o­cu­pante, porque Mo­çam­bique não tem ca­pa­ci­dade para lhe fazer face se as­sumir pro­por­ções mai­ores.

Outro pro­blema grave é o ter­ro­rismo, em al­gumas zonas da pro­víncia de Cabo Del­gado. É um ini­migo que não tem rosto, o que faz que seja muito di­fícil com­batê-lo, mas o go­verno está a mo­bi­lizar meios e apoios para esse com­bate. Os ata­ques ter­ro­ristas pro­vo­caram mais de 200 mil pes­soas des­lo­cadas, o que im­plica um grande es­forço para o seu re­a­lo­ja­mento.

Pre­o­cupa-nos ainda a in­se­gu­rança no centro do país, pro­vo­cada pela Re­namo: após uma guerra de 16 anos, essa força voltou a criar de­ses­ta­bi­li­zação. O pre­si­dente Fi­lipe Nyusi e o então di­ri­gente da Re­namo, Dh­la­kama, as­si­naram um acordo de ces­sação de hos­ti­li­dades, tendo sido ini­ciado um pro­cesso de des­mi­li­ta­ri­zação, de­sar­ma­mento e rein­te­gração. Mas surgiu um grupo dis­si­dente, de­no­mi­nado Junta Mi­litar da Re­namo, que con­tinua com ac­ções vi­o­lentas. O go­verno está a tentar um acordo com esses ele­mentos.

 

E quanto aos pro­blemas eco­nó­micos?

Apesar dos graves pro­blemas que en­frenta, os mo­çam­bi­canos e os seus di­ri­gentes não cruzam os braços. O país tem re­a­li­zado re­gu­lar­mente elei­ções – pre­si­den­ciais, le­gis­la­tivas e pro­vin­ciais – e, nas mais re­centes, foram pela pri­meira vez eleitos os go­ver­na­dores pro­vin­ciais, que antes eram no­me­ados.

Quanto à eco­nomia, no plano quin­quenal há vá­rias me­didas para im­pul­si­onar o de­sen­vol­vi­mento. Na agri­cul­tura, está a ser im­ple­men­tado o pro­grama Sus­tenta, que pro­cura que as fa­mí­lias, em es­pe­cial nas zonas ru­rais, te­nham mais ren­di­mentos. Re­cen­te­mente, foi lan­çada a Agência de De­sen­vol­vi­mento In­te­grado do Norte (ADIN) para pro­mover o de­sen­vol­vi­mento sócio-eco­nó­mico nas pro­vín­cias de Cabo Del­gado, Ni­assa e Nam­pula. Outra ini­ci­a­tiva in­te­res­sante é o pro­grama Um Dis­trito, um Banco, para fa­ci­litar a vida das pes­soas. Na saúde, o ob­jec­tivo é também haver um hos­pital em cada dis­trito. E há as pers­pec­tivas dos me­ga­pro­jectos de ex­plo­ração de gás e pe­tróleo. Isto tudo no quadro dos es­forços para con­so­lidar a paz e a uni­dade na­ci­onal e ace­lerar o de­sen­vol­vi­mento.

 

De­pois dos ci­clones que atin­giram Mo­çam­bique, como vai a re­cu­pe­ração das áreas si­nis­tradas?

Esses de­sas­tres na­tu­rais atin­giram a zona centro do país, em es­pe­cial a ci­dade e a re­gião da Beira. Houve apoios, a so­li­da­ri­e­dade in­ter­na­ci­onal foi grande, mas os pre­juízos foram gi­gan­tescos, há ainda muito por fazer, há muitas pes­soas em zonas de re­as­sen­ta­mentos. Es­pe­ramos poder nos pró­ximos tempos, com os pro­jectos em curso, re­cu­perar a eco­nomia e avançar na cons­trução do bem-estar das po­pu­la­ções.




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