Mestres do bitaite

Co­men­ta­dores, ar­ti­cu­listas, fa­ze­dores de opi­nião: eis uma ampla ca­te­goria in­dis­pen­sável aos in­tentos dos mes­tres da ma­ni­pu­lação me­diá­tica. Por estes dias, de­pois de mais uma qual­quer efé­mera po­lé­mica, todas as aten­ções estão vi­radas para o Or­ça­mento do Es­tado, por entre ame­aças e ul­ti­matos de toda a es­pécie, am­pli­fi­cados ao ex­tremo pelas má­quinas me­diá­ticas. Neste plano, a forma como os pro­fis­si­o­nais do co­men­tário e do bi­taite po­lí­tico têm abor­dado a pos­tura do PCP pe­rante este pro­cesso é bas­tante re­ve­la­dora de uma certa forma de moldar a re­a­li­dade, cri­ando uma per­cepção en­vi­e­sada que de­pois serve para sus­tentar os seus ar­gu­mentos. Em lin­guagem cor­rente, fazem a festa, lançam os fo­guetes e apa­nham as canas – mas na ver­tente de ma­ni­pu­lação de massas.
A ope­ração co­meçou ainda em Agosto, em vés­peras da Festa do Avante!. A partir de um facto, o adi­a­mento de um en­contro entre o PCP e o Go­verno, foram te­cidas duas nar­ra­tivas con­tra­di­tó­rias: a re­a­li­zação da Festa seria moeda para que o PCP apro­vasse o Or­ça­mento; mas também que o PCP es­taria pouco in­te­res­sado em dar uma con­tri­buição cons­tru­tiva neste pro­cesso. Foi já com este olhar pre­con­cei­tuoso que che­garam e saíram do fim-de-se­mana da Festa, com vá­rios co­men­ta­dores te­le­vi­sivos a logo sen­ten­ci­arem que o PCP es­tava de fora, já não con­tava: ou, como Mar­ques Mendes diria duas se­manas de­pois, «já des­colou».
Mar­ques Mendes é, aliás, um bom exemplo de como ma­ni­pular in­for­mação. A 27 de Se­tembro dava como certo que o Or­ça­mento seria apro­vado, com uma cer­teza: o voto contra do PCP. Uma se­mana de­pois anun­ciava uma re­vi­ra­volta no filme or­ça­mental, já que afinal o PCP se iria abster. Mas dizia mais: «o PCP era dado como es­tando fora do pro­cesso», como quem cita fontes di­versas, dando uma certa qua­li­dade etérea a esta afir­mação. Mas al­guém que tenha ou­vido com atenção o que este co­men­tador re­si­dente no es­paço de oito dias fa­cil­mente apanha a al­dra­bice pe­gada. Lá está: a 27 de Se­tembro lançou o fo­guete do voto contra, a 4 de Ou­tubro apa­nhou as canas da abs­tenção. A isto po­demos acres­centar que à data, mais de uma se­mana de­pois da úl­tima afir­mação, o sen­tido de voto do PCP no Or­ça­mento, como é pú­blico, não está fe­chado. Mas a ver­dade é que, com tanta in­venção, Mar­ques Mendes ar­risca-se mesmo a acertar – um pouco como um jornal fez há tempos a pro­pó­sito do Se­cre­tário-Geral do PCP, «ou sai, ou fica, ou fica mais uns tempos». Ana­listas deste ca­libre acertam sempre, é certo.
Este é um truque re­cor­rente, que ainda há muito pouco serviu para o ataque à Festa do Avante. De­pois de or­ques­trada a cam­panha, que o pró­prio Mar­ques Mendes re­co­nheceu, veio culpar o PCP por não ter com­pre­en­dido que «o País ia re­agir mal» – como se o pró­prio e ou­tros em lu­gares idên­ticos não ti­vessem de­sem­pe­nhado um papel cen­tral na fa­bri­cação do «pro­blema de per­cepção», como um pouco ino­cente Mar­celo Re­belo de Sousa viria a ca­rac­te­rizar a cam­panha an­ti­de­mo­crá­tica em curso du­rante o úl­timo Verão.
Por via das dú­vidas, sempre que o leitor ouvir um co­men­tador a re­ferir uma opi­nião como ge­ne­ra­li­zada, recue aos co­men­tário an­te­ri­ores da mesma per­so­nagem: não poucas vezes lá vai en­con­trar a origem do mal.



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