Engels

Manuel Gouveia

No pró­ximo sá­bado com­pletar-se-ão dois sé­culos desde o nas­ci­mento de Fri­e­drich En­gels: com­ba­tente e mestre, que quando deixou de viver, nos legou, aos agora vivos, a obra e o exemplo.

Nestes dois sé­culos, o ca­pi­ta­lismo so­bre­viveu e alas­trou, apesar das cen­tenas de mi­lhões de mortos de que foi di­rec­ta­mente res­pon­sável, e de um rasto de crimes tão ine­nar­rável como im­pos­sível de es­conder. Mas a sua ca­pa­ci­dade de so­bre­vi­vência andou a par com a sua in­ca­pa­ci­dade de se mudar a si pró­prio, con­fir­mando como in­sa­ná­veis todas as suas taras, as suas con­tra­di­ções, as suas crises.

Neste pe­ríodo, a causa do co­mu­nismo nasceu como pro­jecto ci­en­tí­fico e co­nheceu ex­tra­or­di­ná­rios avanços, muitas trai­ções e amargas der­rotas. O pro­le­ta­riado cresceu enor­me­mente, e pela luta ar­rancou-se a si pró­prio das con­di­ções mi­se­rá­veis que o ca­pi­ta­lismo lhe im­punha quando En­gels es­creveu o seu «A si­tu­ação da classe tra­ba­lha­dora em In­gla­terra», mas con­tinua, onde vive sob o jugo do modo de pro­dução ca­pi­ta­lista, à mercê das crises e da pos­si­bi­li­dade e forma de vender a sua força de tra­balho, quando existem todas as con­di­ções ma­te­riais, ob­jec­tivas, para a sua eman­ci­pação. E em todos os cantos do pla­neta, os Ho­mens vivem ame­a­çados pelas guerras e crises su­ces­sivas que o ca­pi­ta­lismo en­gendra no seu seio.

Num texto que ainda an­te­cede o Ma­ni­festo, En­gels deixa-nos uma res­posta lu­mi­nosa à per­gunta «O que é o co­mu­nismo?», com uma sim­pli­ci­dade que ganha cada vez mais ac­tu­a­li­dade e pre­mência: «O co­mu­nismo é a dou­trina das con­di­ções de li­ber­tação do pro­le­ta­riado, da­quela classe da so­ci­e­dade que tira o seu sus­tento única e so­mente da venda do seu tra­balho e não do lucro de qual­quer ca­pital; da­quela classe cujo bem e cujo so­fri­mento, cuja vida e cuja morte, cuja total exis­tência de­pendem da pro­cura do tra­balho.»




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