Torres de marfim

No auge da cam­panha contra a Festa do Avante!, quando os mais «mo­de­rados» na ofen­siva iam di­zendo que não que­riam pôr em causa a li­ber­dade de ini­ci­a­tiva po­lí­tica do PCP («que façam só o co­mício, isso nin­guém põe em causa») fomos di­zendo que o pro­blema destes não era as con­di­ções sa­ni­tá­rias para a re­a­li­zação da Festa; que não ha­vendo Festa, então o alvo seria o nosso Con­gresso. As se­manas que an­te­ce­deram o XXI Con­gresso con­fir­maram-no in­tei­ra­mente.

De­pois da Festa, com o ex­tra­or­di­nário exemplo que deu de que é pos­sível com­pa­ti­bi­lizar a re­a­li­zação de ac­ti­vi­dades com a se­gu­rança sa­ni­tária, a cam­panha contra o Con­gresso foi sendo co­sida com ve­lhas e novas li­nhas.

Desta vez, a tó­nica já não foi co­lo­cada no medo, mas no se­mear da re­volta. Agora já não era o risco de uma con­cen­tração de pes­soas, mas o «pri­vi­légio» dos co­mu­nistas por po­derem re­a­lizar uma reu­nião «em pleno Es­tado de Emer­gência». A tese de­sen­vol­vida por Mar­celo Re­belo de Sousa em cima da Festa do Avante!, ar­gu­men­tando que se tra­taria de um pro­blema de «per­cepção», foi am­pla­mente re­cu­pe­rada por co­men­ta­dores e mesmo em es­paços no­ti­ci­osos, onde o rigor e a ob­jec­ti­vi­dade foram des­car­tados. A tal «per­cepção» de que se tra­taria de um «pri­vi­légio» foi sendo cui­da­do­sa­mente im­plan­tada junto da so­ci­e­dade, com a ge­ne­ra­li­dade dos ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial a ser­virem de cor­reias de trans­missão, quando não de agentes di­rectos, desta acção de ma­ni­pu­lação da opi­nião pú­blica ao nível de massas.

Fi­zeram-no através do tom dra­má­tico com que abriram no­ti­ciá­rios anun­ci­ando os de­cretos de Es­tado de Emer­gência, in­vo­cando-o de­pois até para jus­ti­ficar o que aquele re­gime cons­ti­tu­ci­onal não per­mite (como a proi­bição da ac­ti­vi­dade po­lí­tica). Mas também de forma mais ar­di­losa, como com a in­te­gração das no­tí­cias sobre o Con­gresso em es­paços de­di­cados à COVID, como já tinha acon­te­cido com a Festa.

A esta linha jun­taram outra, que já tinha apa­re­cido (com ma­tizes di­fe­rentes) nas se­manas que an­te­ce­deram a Festa: o Go­verno «deixa» o PCP fazer o seu Con­gresso como «moeda de troca» pela vi­a­bi­li­zação do Or­ça­mento. Este ar­gu­mento, saído de ca­beças ta­ca­nhas que en­tendem a vida e a in­ter­venção po­lí­tica como uma ne­go­ciata sem es­crú­pulos, ig­nora o óbvio: o Go­verno não podia li­mitar ou con­di­ci­onar a re­a­li­zação do Con­gresso. Para qual­quer de­mo­crata – e, diga-se, foram muitos mais que o fi­zeram agora do que sobre a Festa -, a única afir­mação pos­sível seria pela de­fesa da li­ber­dade de ac­ti­vi­dade po­lí­tica.

Mais uma vez, a in­tenção de proibir ou travar a re­a­li­zação do Con­gresso foi frus­trada. Então o apa­relho me­diá­tico, em vez de tratar do que re­al­mente lá se passou, de­dicou-se às fake news – um jornal ga­rantiu na pri­meira pá­gina de sá­bado a eleição de um Se­cre­tário-geral ad­junto; num no­ti­ciário te­le­vi­sivo ouviu-se, sem con­tra­di­tório, que os de­le­gados pas­sa­riam a tarde «nos comes e nos bebes» en­quanto tudo es­tava fe­chado. E assim cri­aram pasto para nova mis­ti­fi­cação: não se disse nada de novo, por­tanto era es­cu­sado fazer o Con­gresso. Na ver­dade, foi da vida con­creta e dos seus pro­blemas que o Con­gresso tratou, mas isso não diz nada a quem ha­bita as torres de marfim onde se traçam as pri­o­ri­dades do apa­relho me­diá­tico.




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