Afortunado o Partido que faz 100 anos com revolucionários como Jaime Serra

ANIVERSÁRIO O exemplo de Jaime Serra é «fonte inspiradora nos combates de hoje e exemplo para as gerações futuras», afirmou Jerónimo de Sousa na sessão em que se assinalou os 100 anos de um comunista de inexcedível abnegação e coragem.

Jaime Serra nunca vacilou como comunista

A iniciativa decorreu ao final da tarde da passada segunda-feira, 1, na Casa do Alentejo, em Lisboa, e foi a vários títulos extraordinária. É verdade que não está ao alcance de todos os partidos comunistas celebrarem 100 anos com olhos postos no futuro, legitimamente orgulhosos do seu passado e tendo no presente uma prática à altura da sociedade que se propõe conquistar. Não é menos verdade que é igualmente singular fazê-lo assinalando os 100 anos de um camarada, ainda vivo, cujo percurso se confunde com a construção do Partido, assume relevo na resistência a uma ditadura fascista e numa revolução, no caso a de Abril, que abriu alamedas à emancipação nacional e social dos povos de vários países.
Não é por isso de estranhar que José Capucho, do Secretariado do Comité Central, a quem coube dirigir a sessão de homenagem, e Jerónimo de Sousa, Secretário-geral do PCP, tenham notado o imenso orgulho que o grande colectivo partidário que somos tem em festejar, com o camarada Jaime Serra, o seu centenário (nasceu a 22 de Janeiro de 1921).
Cem anos, «tantos quantos vai fazer, no próximo mês de Março, o nosso Partido Comunista Português, que tu honraste e ajudaste a construir com uma longa e dedicada militância para servir a classe operária, os trabalhadores, o nosso povo, a nossa luta pela liberdade, a democracia, o socialismo e o comunismo», começou por dizer Jerónimo de Sousa, para quem, por isso, «este Partido que não podia deixar de assinalar, neste momento da passagem do teu centésimo aniversário, o teu inestimável contributo e valorizar o teu exemplo de revolucionário de corpo inteiro, combatente corajoso, firme e decidido, que em muitos e difíceis momentos da vida do nosso Partido e da luta do nosso povo, mas também de outros povos em solidariedade internacionalista, foste capaz de enfrentar as mais inauditas situações e os maiores perigos, sem por um momento quebrar ou desistir».
Dirigindo-se sempre directamente a Jaime Serra, como fazemos a alguém que está presente, o Secretário-geral do Partido prosseguiu sublinhando que «nunca vacilaste nas tuas fortes convicções e ideal comunista, e o regime fascista que oprimiu o nosso povo durante décadas não foi capaz de te vergar como pretendia, apesar das contínuas e prolongadas sessões de tortura, das sucessivas prisões de onde te evadiste para retomar a linha da frente do nosso colectivo, combate que haveria de, nessa madrugada de Abril de 1974, resgatar a liberdade e iniciar um caminho novo, ainda inacabado, de fraternidade, justiça e progresso, numa sociedade nova que queremos e não desistimos de alcançar».
«Nós sabemos bem porque é que este Partido Comunista que tu, desde jovem abraçaste, pode contar com 100 anos de vida e um trajecto com uma história heróica e ímpar. Foi com os nossos “jaimes serras”», acrescentou o dirigente comunista.


Vida para muitos filmes

Na sessão do centésimo aniversário de Jaime Serra, foi exibido um filme, com relato e excertos de testemunhos do próprio, e distribuída uma brochura em que se recorda o percurso político glorioso de Jaime Serra. Jerónimo de Sousa também o detalhou na sua intervenção – do despertar da consciência de classe ao inaugurar da acção política e da militância comunista; da assumpção de tarefas de crescente responsabilidade ao «mergulho» na clandestinidade; das prisões e fugas ao regresso, sempre, à organização da resistência e da luta; da participação no V Congresso do PCP, em que intervém sobre o direito inalienável dos povos das colónias à imediata e incondicional independência, às viagens em que representa o PCP perante outros partidos e países comunistas; do auxílio à fuga de Agostinho Neto e Vasco Cabral à direcção da Acção Revolucionária Armada; da representação do seu povo na Assembleia Constituinte e na Assembleia da República, às mais altas responsabilidade político-partidárias, prosseguidas a par da consolidação e defesa da Revolução de Abril.
Uma vida que dava para muitos filmes, recheados de episódios heróicos e vitórias, onde não faltou uma família, construída com a sua camarada e companheira da vida toda, Laura. A camarada Laura Serra, «funcionária do Partido na clandestinidade e na realidade de Abril», que o Secretário-geral do PCP, e antes dele, José Capucho e o filme exibido à plateia, não só não esqueceram como saudaram e exaltaram, particularmente a têmpera revolucionária que também sempre teve e preserva.



Música para um mestre


Como não podia faltar num aniversário, na sessão ouviu-se música. O momento de rara qualidade esteve a cargo de Fausto Neves, ao piano, acompanhado pelos violinos de Manuel Pires da Rocha e Hugo Brito. Entre excertos de textos de Jaime Serra, lidos pelo músico Tiago Santos, ouviram-se «La Varssovienne», de Jozzef Plawinsky, «Valsa Triste», de Carlos Paredes, «À L’Appel du Komintern», de Hans Eisler/Frank Yancke, «Anda Jaleo» (recolha de Garcia Lorca), «Era um Redondo Vocábulo», de Zeca Afonso, «Hino de Caxias», do colectivo de presos de Caxias, «Brandiera Rossa» (pop. da Lombardia, Tuzz), «Canção do Poder Popular», de Inti-illimani, e «O Povo Unido Jamais Será Vencido!», canção de Sérgio Ortega que convocou os presentes a erguerem punhos num imenso «parabéns, camarada Jaime Serra».

Inspirador

À tribuna, para homenagear Jaime Serra, subiu um dos seus netos, presente na companhia de filhos e netos daquele e de Laura Serra. Dalí, António dirigiu-se ao avô sublinhando que «o amor, respeito e admiração que temos por ti, deve-se não só por seres quem és – como pai, avô e bisavô –, mas também pela forma inabalável com que abarcaste uma causa maior e a colocaste acima da tua própria vida».
«A luta pelo teu sonho não acabou», já que «inspirou-nos» e «acredito que venha a inspirar mais pessoas», realçou ainda António Serra.



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