A velha cassete

Na lei­tura me­diá­tica de re­sul­tados elei­to­rais, sa­bemos que há sempre quem diga que o PCP voltou a fazer um «dis­curso de vi­tória» pe­rante «mais uma der­rota». In­de­pen­den­te­mente dos re­sul­tados, da lei­tura que o PCP deles faça e, nal­guns casos, antes mesmo de se co­nhe­cerem os nú­meros da vo­tação, é certo que al­guém fará este nú­mero: este, sim, um ver­da­deiro clás­sico das noites elei­to­rais. Nos dias se­guintes, re­pete-se também a es­ta­fada tese do «de­clínio ine­xo­rável» do PCP.

Foi este o tom da ge­ne­ra­li­dade dos jor­nais no dia se­guinte às úl­timas elei­ções pre­si­den­ciais. O Diário de No­tí­cias in­for­mava que a can­di­da­tura de João Fer­reira «perdeu o tra­di­ci­onal voto do PCP no Alen­tejo». «Der­rota amarga no Alen­tejo», dizia o Cor­reio da Manhã. O jornal i acres­cen­tava que «cresceu, mas não con­venceu Alen­tejo». Para des­mentir tudo isto, basta dar um dado: a can­di­da­tura do PCP teve, nos três dis­tritos do Alen­tejo, um re­sul­tado idên­tico ao de 2016 – com di­fe­renças in­fe­ri­ores a um ponto per­cen­tual (num caso para cima, em dois para baixo). A estas al­dra­bices, foram jun­tando um outro truque, dando um des­taque tão ina­cei­tável como in­jus­ti­fi­cado à can­di­da­tura de André Ven­tura. «Ar­rasa can­di­dato do PCP pelo Alen­tejo», es­tam­pava o Cor­reio da Manhã na sua pri­meira pá­gina. Não se en­tende como, se a vo­tação foi idên­tica, mas, como vimos, o filme es­tava já mon­tado e nem os factos po­diam pôr em causa a tese da trans­fe­rência de votos – apesar de já am­pla­mente des­men­tida pela re­a­li­dade.

Igual­mente gro­tesca foi a opção, nunca antes vista em qual­quer eleição, de trans­formar em «fi­gura da noite» (como re­feria o Jornal de No­tí­cias na sua pri­meira pá­gina) o can­di­dato que não cum­priu qual­quer dos ob­jec­tivos elei­to­rais a que se propôs. Ainda para mais tra­tando-se de uma can­di­da­tura que ficou em ter­ceiro lugar, quando eleição após eleição estas são tra­tadas pelos média como se fossem provas des­por­tivas, em que o que in­te­ressa é quem fica à frente. Afinal, fi­cámos a saber que esse cri­tério só vale quando é do in­te­resse de quem o aplica.

Como se vê, se há quem nunca falhe em noite elei­toral e nos dias que se lhe se­guem são os as­pi­rantes a co­veiros do PCP. Como nunca acertam, estão sempre de volta.

A von­tade de de­cretar a morte do PCP tem le­vado, no úl­timo ano, a um pro­lon­gado si­lêncio me­diá­tico em torno das co­me­mo­ra­ções do cen­te­nário da fun­dação do Par­tido. Sendo certo que até Março ainda há tempo para que as es­ta­ções de te­le­visão re­cu­perem da falta, a ver­dade é que até agora só houve uma peça sobre este acon­te­ci­mento his­tó­rico. E mesmo essa peça, da TVI, não es­capou ao ine­vi­tável an­ti­co­mu­nismo. Para falar sobre a his­tória do PCP, nada como re­correr à chan­cela in­de­pen­dente de um his­to­ri­ador: e, na­tu­ral­mente, a es­colha re­caiu sobre José Pa­checo Pe­reira, que conta com dé­cadas de ex­pe­ri­ência no com­bate ao PCP.

Em ano de cen­te­nário, o pas­sado, o pre­sente e o fu­turo deste Par­tido es­tarão pre­sentes nas suas co­me­mo­ra­ções, des­men­tindo os falsos pro­fetas do seu fim.




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