Dependências que a COVID destacou

Vasco Cardoso

O Go­verno con­tinua a gerir a sua in­ter­venção a partir da sub­missão às im­po­si­ções da UE mesmo quando isso con­fronta os in­te­resses na­ci­o­nais e a res­posta rá­pida e eficaz que muitos dos pro­blemas de­cor­rentes dos im­pactos da epi­demia re­cla­ma­riam. Há um es­pécie de dogma com que se res­ponde a quase tudo sempre que essa sub­missão é ques­ti­o­nada: o que seria de Por­tugal sem a UE? Se­guindo-se o ce­nário apo­ca­líp­tico que em regra é in­vo­cado.

A fór­mula gasta e acé­fala é re­pe­tida até à exaustão. Sem a UE, um país pe­queno como o nosso, o acesso de Por­tugal às va­cinas seria uma mi­ragem; sem a UE não se ve­ri­fi­ca­riam con­di­ções de fi­nan­ci­a­mento nem o acesso aos «mer­cados» por parte do Es­tado por­tu­guês; sem a UE não te­ríamos a fa­mosa «ba­zuca eu­ro­peia» para re­lançar o in­ves­ti­mento e res­ponder à crise!!!

Mas o que se apre­senta como sal­vação do País, na ver­dade, é o re­flexo da sua dra­má­tica de­pen­dência. De­pen­dentes para de­cidir sobre a TAP. De­pen­dentes para com­prar e pro­duzir va­cinas. De­pen­dentes, muito de­pen­dentes, para de­cidir sobre o in­ves­ti­mento pú­blico ne­ces­sário ao País.

Veja-se, por exemplo, a exe­cução ve­ri­fi­cada no Or­ça­mento de 2020 e os cerca de 2,4 mil mi­lhões de euros de margem or­ça­mental que fi­caram por uti­lizar em nome das re­gras do… Euro. Olhe-se para a forma pas­siva em como se aceitou o en­cer­ra­mento de uni­dades pro­du­tivas como a re­fi­naria de Ma­to­si­nhos ou a cen­tral de Sines pas­sando a im­portar o que aí se produz. Veja-se como não cessam as men­sa­gens da UE para a con­tenção sa­la­rial e as ditas re­formas es­tru­tu­rais.

Nada que im­porte à elite eco­nó­mica na­ci­onal mais in­te­res­sada em pre­servar os seus pri­vi­lé­gios ainda que na sombra das grandes trans­na­ci­o­nais.

Sem uma rup­tura com este ca­minho, no res­caldo da pan­demia, quando os seus mai­ores im­pactos – so­bre­tudo sa­ni­tá­rios - ti­verem sido su­pe­rados, o risco de se acen­tuar ainda mais o ca­rácter pe­ri­fé­rico e su­bal­terno do País é enorme. É também no cavar desse fosso que as grandes po­tên­cias da UE apostam com o triste aplauso e re­go­zijo de todos os que di­zendo-se “eu­ro­peístas” fran­queiam as portas a uma de­pen­dência que nos rouba o fu­turo.




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