Bonifrates e outros disparates

Jorge Cordeiro

A leviandade é sempre via directa para desaguar no ridículo. Uma e outra se poderiam resumir à inusual expressão «bonifrates». Ainda que para o caso aqui convocado se esteja para lá do disparate. Fazendo jus ao reaccionarismo que o enforma, o agora designado novo sol chamou para manchete uma afirmação de uma não menos reaccionária criatura. Não fosse a boçalidade política da entrevistada e a visibilidade dada aos seus dislates anticomunistas e, habituados que se está à disseminação e ostentação do discurso de ódio e no exacerbado anticomunismo, seria evitável trazer para aqui, por razões de higienização política, o assunto.

Se algum leitor, levado pelo nome do semanário, fosse impelido a concluir que a exemplo do sol, que quando nasce seria para todos, a inteligência e o equilíbrio intelectual também seriam, desiluda-se. Esta recorrente teimosia de nem sempre a sabedoria popular, inscrita em provérbios e adágios, acertar o passo com o real volta a ter comprovação prática.

Desamparada pelo facto de o regime que lhe preenche o imaginário ter desaparecido vai fazer agora 47 anos, saudosa dos métodos salazaristas de perseguição dos comunistas, Fátima Bonifácio vive angustiada por «ninguém atacar o partido comunista»!

Sempre se poderia dizer à Bonifácio e ao jornal que a edita, clonagens dos Antónios Ferros e dos SNI de outros tempos, que tenham paciência, conformem-se com a liberdade e a democracia conquistadas. Mesmo sabendo, como diz a Bonifácio, que «detesta mudanças revolucionárias». Aguente-se! Não só a Revolução de Abril se fez como, ao contrário do que ela ambicionaria, não foi afogada em banho de sangue para lhe pôr termo, mal grado os esforços dos spínolas, dos galvões de melo, dos corrécios, ou de outras bonifácias cá da terra.




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