Confrontação e agressão

Pedro Guerreiro

Alargar a so­li­da­ri­e­dade aos povos que re­sistem ao im­pe­ri­a­lismo

As úl­timas se­manas têm sido pró­digas em ini­ci­a­tivas, me­didas e de­cla­ra­ções por parte da recém-em­pos­sada Ad­mi­nis­tração Biden, que não só de­mons­tram a não re­versão do es­sen­cial da po­lí­tica ex­terna norte-ame­ri­cana e de im­por­tantes ori­en­ta­ções e me­didas adop­tadas neste âm­bito pela Ad­mi­nis­tração Trump, como o ac­tivo em­penho no seu pros­se­gui­mento e mesmo apro­fun­da­mento.

Ten­tando con­tra­riar a ten­dência do de­clínio re­la­tivo dos EUA e sal­va­guardar o seu do­mínio he­ge­mó­nico ao nível mun­dial, a Ad­mi­nis­tração Biden des­dobra-se em ini­ci­a­tivas em pra­ti­ca­mente todas as di­rec­ções, de­sen­vol­vendo uma in­tensa ac­ti­vi­dade di­plo­má­tica, pro­cu­rando ali­nhar os seus ali­ados em torno da sua es­tra­tégia de es­ca­lada de con­fron­tação e agressão contra todos os países e povos que não se sub­metam aos di­tames e do­mínio do im­pe­ri­a­lismo norte-ame­ri­cano, e que aponta a China e a Rússia como alvos es­tra­té­gicos.

Um ob­jec­tivo que é cla­ra­mente as­su­mido nos es­forços da Ad­mi­nis­tração Biden em su­bor­dinar a UE a estes de­síg­nios, pro­cu­rando di­rimir con­tra­di­ções e não ad­mi­tindo um qual­quer laivo de au­to­nomia por parte dos seus ‘ali­a­dos’ eu­ro­peus; nos es­forços que faz para animar a NATO como um ins­tru­mento de cerco e ameaça mi­litar, não só di­ri­gido pri­o­ri­ta­ri­a­mente contra a Rússia, mas igual­mente contra a China; no seu em­penho na di­na­mi­zação e cri­ação de novas ali­anças po­lí­tico-mi­li­tares, si­mi­lares à NATO, na re­gião Indo-Pa­cí­fico, de­sig­na­da­mente através do cha­mado diá­logo qua­dri­la­teral de se­gu­rança (QUAD), in­te­grando os EUA, a Aus­trália, a India e o Japão; ou na pri­o­ri­dade que dá ao Japão ou à Co­reia do Sul; entre ou­tras ini­ci­a­tivas que aquela de­sen­volve.

Neste con­texto, as­sumem im­por­tante sig­ni­fi­cado po­lí­tico as re­centes san­ções contra a China, apli­cadas de forma co­or­de­nada pelos EUA, o Ca­nadá, o Reino Unido e a UE, a pre­texto da ope­ração de pro­vo­cação e men­tira em torno de Xin­jiang. San­ções que me­re­ceram o elogio de Josep Bor­rell, alto re­pre­sen­tante para a po­lí­tica ex­terna da UE, ao su­bli­nhar que a co­or­de­nação na sua apli­cação si­mul­tânea foi per­feita.

Para além de mu­danças de forma ou de es­tilo, a re­a­li­dade é que a Ad­mi­nis­tração Biden, ao invés de se em­pe­nhar no ne­ces­sário de­sa­nu­vi­a­mento das re­la­ções in­ter­na­ci­o­nais, pelo con­trário, aposta na con­ti­nu­ação da po­lí­tica de con­fron­tação e agressão. É disso exemplo o pros­se­gui­mento da cri­mi­nosa po­lí­tica de im­po­sição de san­ções e blo­queios eco­nó­micos e fi­nan­ceiros, em fla­grante con­fronto com a Carta das Na­ções Unidas e o di­reito in­ter­na­ci­onal, que conta com o apoio cúm­plice dos seus ali­ados, par­ti­cu­lar­mente da UE.

As­sume, assim, es­pe­cial gra­vi­dade o ali­nha­mento do Go­verno por­tu­guês com a po­lí­tica dos EUA, da NATO e da UE, que é con­trária aos in­te­resses do povo por­tu­guês, à de­fesa e afir­mação da so­be­rania e in­de­pen­dência na­ci­onal e a uma po­lí­tica de paz, ami­zade e co­o­pe­ração com todos os povos do mundo, aos prin­cí­pios con­sa­grados na Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa.

Como o Co­mité Cen­tral do PCP su­blinha, as­sume grande im­por­tância o de­sen­vol­vi­mento da so­li­da­ri­e­dade com os povos que re­sistem à vi­o­lenta acção do im­pe­ri­a­lismo, com a exi­gência do fim das in­ge­rên­cias, das agres­sões, das san­ções e dos blo­queios, e do res­peito dos di­reitos dos povos, da in­de­pen­dência dos Es­tados, dos prin­cí­pios da Carta das Na­ções Unidas e do Di­reito In­ter­na­ci­onal.




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