Convenção do MEL - a caminho da derrota

Carlos Gonçalves

Tem lugar esta se­mana a III Con­venção do MEL, Mo­vi­mento Eu­ropa e Li­ber­dade, um lobby criado em 2018, ao que consta a partir do «Ob­ser­vador», grupo eco­nó­mico-me­diá­tico e po­lí­tico-ide­o­ló­gico. O MEL junta de­zenas de «boys» dos grandes in­te­resses, em linha para a «porta gi­ra­tória» da «classe po­lí­tica», e da nata ne­o­li­beral dos novos CEO. Os di­ri­gentes do MEL, Car­mona & Marrão, co­lu­nistas de ne­gó­cios, ar­ti­culam li­ga­ções à De­loitte, mega-mul­ti­na­ci­onal fi­nan­ceira, ao Forum de Ad­mi­nis­tra­dores e Ges­tores, aos eco­no­mistas da «Ordem» vi­gente, ao Ini­ci­a­tiva Li­beral e a links mais dis­cretos.

Na Con­venção (que de­corre quando se es­creve este Ac­tual), constam 700 ins­critos e, no des­file de cur­rí­culo, so­bres­saem «fa­mosos» da di­reita po­lí­tica e dos in­te­resses, ideó­logos e cor­te­sãos: Jú­dice, N. Pinto, F. Bo­ni­fácio, J. M. Ta­vares, Portas, Ma­duro, Passos, os chefes Co­trim, Ven­tura, F. Ro­dri­gues e Rio, qua­dros do PSD, CDS e su­ce­dâ­neos, do PPM, da Ali­ança, do PR e do PS, bem à di­reita, L. Amado e S. Pinto, a que o ca­pital e o PSD deram colo para álibis de Rio.

A Con­venção do MEL, como o «Com­pro­misso Por­tugal» do início do sé­culo, tem de subs­tância os in­te­resses da oli­gar­quia mais con­ser­va­dora. Não há no evento um único Painel sobre os pro­blemas reais – sa­lá­rios, ex­plo­ração, saúde, edu­cação, di­reitos, apoio so­cial – o que se dis­cute é a «re­sig­nação», «es­tag­nação» e «in­to­le­rância cul­tural» do re­gime de­mo­crá­tico, a «tran­sição para po­lí­ticas pú­blicas de li­ber­dade do ci­dadão», a «li­ber­dade eco­nó­mica», a «econ­fi­gu­ração» e «re­cons­trução» da di­reita e do País.

A III Con­venção do MEL visa bran­quear a di­reita e a po­lí­tica de di­reita de atraso, in­jus­tiças e dé­fices es­tru­tu­rais e pro­mover o re­forço ide­o­ló­gico, po­lí­tico e or­gâ­nico da di­reita tra­di­ci­onal e seus su­ce­dâ­neos, mais ou menos fe­de­rados, e cada vez mais re­ac­ci­o­ná­rios, para mais ex­plo­ração e em­po­bre­ci­mento dos tra­ba­lha­dores, do povo e da Pá­tria; e pre­co­niza mais con­cen­tração e cen­tra­li­zação de ca­pi­tais e ri­queza, romper com os va­lores e a Cons­ti­tuição de Abril, de facto no ca­minho para uma «quarta Re­pú­blica».

Mas a ver­dade é que a Con­venção do MEL não tem força bas­tante para re­verter o tempo his­tó­rico. O seu pro­jecto aca­bará der­ro­tado pela luta dos tra­ba­lha­dores e do povo.




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