CDU quer recolocar Beja em movimento
Candidato da CDU à presidência da Câmara Municipal de Beja, autarquia onde é vereador, Vítor Picado critica o amorfismo da actual gestão PS e manifesta determinação em voltar a imprimir dinâmica ao concelho.
Pretendemos que as pessoas voltem a ser parte activa
Que diferenças podes assinalar entre a gestão CDU e a gestão PS na CM de Beja?
Desde logo a ligação aos vários sectores sociais, dos pequenos comerciantes aos trabalhadores. Estes sabem quem esteve e está ao seu lado na defesa das 35 horas semanais ou do suplemento de penosidade e insalubridade. Os trabalhadores da Empresa Municipal de Águas e Saneamento (EMAS), em particular, sabem quem esteve ao seu lado na luta contra a tentativa encapotada do PS de a extinguir e privatizar. Conseguimos travar esse processo e já estamos no terreno, com eles, a mobilizar para a assinatura do Acordo de Empresa.
Esta identificação com os trabalhadores e a população é a grande diferença. Temos promovido debates e auscultações públicas e notamos que há esse reconhecimento.
Uma coisa podemos dizer: o PS foi coerente ao longo deste mandato, já que não deu resposta a ninguém. Não avançou com nenhum projecto que estava na Câmara Municipal.
De que projectos falas?
Esta é uma gestão subserviente a um Governo que despreza o Interior. Veja-se como está o IP8. Essa subserviência leva a que não se dê eco ao descontentamento e reivindicações populares.
Por outro lado, esta gestão PS parou projectos que se encontravam em marcha. A zona de acolhimento de empresas é um deles. Tinha inclusivamente financiamento previsto de 1,8 milhões de euros. É uma inegável mais-valia para a cidade e se nos tivessem dado ouvidos Beja já poderia estar a beneficiar dele.
O mesmo se pode dizer quanto à Rural Beja, que recuperámos para mostrar o que é o nosso Alentejo. Foi um certame que deixou marca no município e na região. Com um investimento de meio milhão de euros garantia um retorno calculado na ordem do triplo.
Outro exemplo é o Centro de Arqueologia. Grandes nomes da arqueologia nacional confirmam que se trata de um dos núcleos mais bem conservados da Península Ibérica. O edifício foi acabado há três anos mas, pelo que sabemos, só agora vai ser inaugurado. Quando a CDU geria a CM de Beja, muitos pequenos comerciantes diziam-nos que as pessoas já não passavam só por Beja, vinham a Beja com interesse no património arqueológico, em especial pelo tal fórum romano.
Outro caso ainda é o do Museu Regional, cujo processo de consolidação este executivo demorou muito a desenvolver. E não menos grave é o facto de os trabalhadores nunca terem sido ouvidos sobre a sua passagem para a Direcção Regional de Cultura.
Ou seja, deixámos ideias claras quanto ao aproveitamento das potencialidades do centro histórico, deixámos obra feita e nada avançou ou avançou tarde.
As críticas da CDU ficam-se pelo não aproveitamento dos projectos e potencialidades identificadas?
Os agentes culturais são outra camada que não cala a sua revolta. Terminou-se a Casa da Cultura e este executivo parou a dinâmica que estava implantada.
Mais. Beja tinha um festival de banda desenhada reconhecido, com projecção nacional e internacional. Temos um acervo avaliado em mais de dois milhões de euros e ficou o projecto de concretizar um museu. Este executivo nada fez. O mesmo sucedeu com «As palavras Andarilhas», que nós procurámos potenciar, ou com o apoio ao movimento associativo, por cujo reforço nos batemos. A gestão PS em Beja só muito timidamente e sempre a contra-gosto acolheu as propostas da CDU.
Há pouco falaste da tentativa de privatização da EMAS…
A defesa da água pública foi uma das grandes batalhas da CDU também neste mandato. O que este executivo fez foi aumentar a taxa de resíduos e saneamento, quando o que era necessário no actual contexto era responder às pessoas reduzindo-lhes a tarifa. De resto, apresentámos e foi aprovado em Assembleia Municipal uma iniciativa nesse sentido. Nunca foi colocada em prática.
Por isso dizemos muito claramente às pessoas que vamos retribuir à população o montante cobrado indevidamente. Não o podemos fazer directamente, mas vamos fazê-lo, designadamente através do congelamento da tarifa. Assumimos, igualmente, a não extinção da EMAS e a defesa dos seus trabalhadores.
Estes são compromissos claros. Aliás, quando falamos de compromisso, estamos a sublinhar que pretendemos que as pessoas voltem a ser parte activa no desenvolvimento da cidade, que tenham espaço para participar e fazer críticas e sugestões.
Nas freguesias do concelho de Beja a CDU tem críticas semelhantes à gestão PS?
As freguesias foram abandonadas, ficaram penduradas. Algumas nunca tiveram um contacto formal da Câmara. Isso é amplamente reconhecido, quer pelos eleitos quer pela população, quer ainda pelas colectividades e instituições locais.
Dou um exemplo. Deixámos a este executivo uma central de massas asfálticas. Primeiro fizeram queixa ao Ministério Público, depois abandonaram essa rábula. Deviam era ter aproveitado o que deixámos para requalificar as estradas e caminhos rurais, que estão numa lástima.
Referiste a subserviência desta gestão ao Governo e deste o exemplo do IP8. Há outros?
Venderam a ideia de que a mesma cor partidária no Governo e na Câmara ajudava a desbloquear. Sucedeu o contrário. Além do IP8, que continua à espera das quatro vias entre Sines e Espanha, podíamos falar na modernização da Linha do Alentejo, da revitalização do Aeroporto de Beja e potenciação do Porto de Sines. Fala-se muito no aproveitamento e desenvolvimento dos produtos do Alqueva. Mas onde estão as acções que o concretizam? Onde está a mobilização dos recursos adequados? Onde está o PS em Beja a reivindicá-lo e na Assembleia da República e no Governo a ter iniciativa para tal?
Que projectos e propostas tem a CDU para os próximos quatro anos na Câmara Municipal de Beja?
Aproveitar verdadeiramente os recursos existentes, potenciá-los e proceder aos investimentos necessários. Dinamizar iniciativas e os projectos em torno do património, do histótico e arqueológico à gastronomia, voltar a fazer da Rural Beja um pólo de promoção do concelho e de atracção económica.
Outra reivindicação que não vamos abandonar porque é absolutamente necessária é a construção da segunda fase do Hospital de Beja, matéria sobre a qual este executivo foi muito pouco transparente. É mais um compromisso que assumimos claramente.
E obras e intervenções no território?
A prioridade é retomar os projectos que deixámos e este executivo desbaratou. Para além dos que já referi, há o caso da requalificação da Praça da República e do aproveitamento do Centro de Arqueologia. Mas podemos falar igualmente na construção da circular a Beja ou no parque de empresas sustentáveis.
Questões fundamentais são ainda a estratégia habitacional, direccionada para os jovens, voltando a prestar um apoio e estímulo efectivo à sua fixação; a recuperação de equipamentos e espaços públicos ou de edifícios para as associações, bem como cuidar de quem mais precisa no concelho através de apoios efectivos e programas específicos.
Queremos que Beja volte a ter uma agenda diversificada de iniciativas culturais, de lazer e desportivas; queremos recuperar redes de cooperação e proteger as pessoas. Tem sido muito bom ouvir a população porque estamos a recolher elementos para depois melhor gerir o concelho.