Partilha de dados, negócios & NSA

Carlos Gonçalves

O envio pela CM­Lisboa dos dados de pro­mo­tores da «ma­ni­fes­tação» de Ja­neiro aos ser­viços da Em­bai­xada da Fe­de­ração Russa é grave e in­jus­ti­fi­cável (em­bora cons­tassem no fa­ce­book), mas só per­siste na agenda para pro­vo­cação à Rússia e an­ti­co­mu­nismo dos media e das classes do­mi­nantes. Esta par­tilha de dados deve ser er­ra­di­cada de vez, em todos os casos, mesmo para os USA que os obtém do SIRP, e a ver­dade é que são um mero grão de areia na imen­sidão de dados rou­bados a mi­lhões de uti­li­za­dores em Por­tugal.

No «ca­pi­ta­lismo da vi­gi­lância» as em­presas «di­gital-global» con­trolam cada vez mais dados, mer­cados e com­por­ta­mentos, como ficou claro em 2018 com 97 mi­lhões de uti­li­za­dores do Fa­ce­book usados na ma­ni­pu­lação de elei­ções nos USA.

À di­mensão deste País, al­guns factos re­centes – em Março con­firmou-se que dados de 2,4 mi­lhões de por­tu­gueses «des­vi­ados do Fa­ce­book» cir­culam na dark net, para qual­quer uti­li­zação; em Abril o INEs­ta­tís­tica, por de­cisão da CN­Pro­tecção de Dados, sus­pendeu o envio de dados do Censos 2021 para a em­presa USA-Cloud­flare, onde eram tra­tados, ti­nham res­pon­dido 6,5 mi­lhões; em Junho soube-se que os sites do SN­Saúde e de ser­viços do Es­tado usavam co­o­kies com que a Go­ogle acedia aos perfis de uti­li­za­dores para fins co­mer­ciais, a fer­ra­menta foi sus­pensa, os le­sados podem chegar a 10 mi­lhões; está em fase de ar­ranque o re­gisto de dados de 1000 mi­lhões de pas­sa­geiros de avião/​ano na UE (Por­tugal 55 mi­lhões), ficam nos ser­vi­dores de ne­gó­cios e dos ser­viços de In­for­ma­ções. Este é um ne­gócio de grandes lu­cros ao ser­viço da es­pi­o­nagem dos USA.

A co­or­de­nação de toda a es­pi­o­nagem dos USA, dos países an­gló­fonos, da NATO e de ou­tros ali­ados per­tence à NSA, com cem mil agentes no mundo, tec­no­lo­gias e meios des­co­mu­nais, têm acesso a mi­lhares de mi­lhões de co­mu­ni­ca­ções, em todas as pla­ta­formas, em rede com a Go­ogle, o Fa­ce­book, etc. no con­trolo da In­ternet em quase todo o mundo. Com o MI6 e Ser­viços de In­for­ma­ções como os da Di­na­marca, ou o SIRP, mais o Col­lec­tion Ser­vice (CIA+NSA) de cada em­bai­xada USA, es­piam o «ini­migo», os na­ci­o­nais e os amigos (Merkel, Ma­cron, o Papa). Como provou Snowden, «es­tamos todos na mira da NSA, não para pre­venir o ter­ro­rismo mas para eter­nizar o do­mínio» im­pe­ri­a­lista.

É im­pre­te­rível a de­núncia e o com­bate.




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