Vale tudo

Paulo Raimundo (Membro da Comissão Política)

«Era difícil imaginar tanto disparate, tanta asneira, tanta insensibilidade, tanta irresponsabilidade, tanta falta de solidariedade...» Palavras de António Costa em Matosinhos, no passado dia 19, dirigidas à GALP a propósito do encerramento da refinaria, consumado a 15 (dia em que andou em Coimbra a distribuir maternidades), com o despedimento colectivo de mais 140 trabalhadores.

A CDU é a força que conta sempre e que sempre lá esteve na defesa dos trabalhadores

Estas declarações surgem oito meses e 29 dias após o anúncio de mais um crime social e económico apoiado pelo Governo e que, quer pela mão do ministro do Ambiente, quer pela voz do primeiro-ministro, apenas tiveram palavras de elogio. Aliás bem explícitas a 7 de Maio, quando afirmou, curiosamente também em Matosinhos, que «acaba de encerrar uma refinaria, foi um enorme ganho para a redução das emissões», dando por arrumado e consumado o encerramento, os despedimentos e mais uma machadada na produção nacional.

O primeiro-ministro, sempre tão ávido em puxar por PRR para aqui, PRR para ali, podia ter ao menos aproveitado para explicar que é também esse PRR que entregará, mais uma vez e com o seu acordo e apoio, milhões à GALP para a chamada transição verde – leia-se, milhões necessários para pagar o encerramento e os despedimentos sem que para isso seja necessário beliscar os 500 milhões de euros de lucros destinados aos acionistas.

Não fosse o assunto tão grave e estaríamos a analisar apenas mais um acto cínico, típico de algumas campanhas eleitorais. Mas o caso está para além disso e roça a hipocrisia. O primeiro-ministro aparece a tratar um assunto como se nada tivesse a ver com ele. Tenta limpar as responsabilidades directas que tem sobre o encerramento da refinaria e, como se não bastasse, ainda enche o peito e faz voz grossa com ameaças à GALP e avisos para que todos ouvissem e tirassem as conclusões.

Sendo que, mais uma vez, mais valia nada ter dito, pois resumindo e retirando a encenação característica de quem diz uma coisa e age de outra forma, as ditas «ameaças» traduzem-se em duas ideias fundamentais: a primeira ideia, e dirigida à GALP, é profundamente inspirada na famosa expressão popular do «agarrem-me se não eu vou-me a eles»; e a segunda, perigosa e reveladora do pensamento de fundo, é que sem disparate, asneira, com sensibilidade, responsabilidade e solidariedade, podem avançar todos os encerramentos, despedimentos e continuar a destruição do aparelho produtivo nacional.

Os disparates que não contam

Talvez seja essa a razão pela qual o primeiro-ministro, aquando da sua passagem por Loures, não tenha tido uma palavra sobre o disparate, a asneira, a insensibilidade e a falta de solidariedade da Saint-Gobain Sekurit, que avançou para o despedimento colectivo e encerramento da empresa.

Ou, por exemplo, não tenha tido até agora um momento para criticar ferozmente a Altice, o Santander e o BCP pelo avanço dos despedimentos colectivos em curso ou, na sua passagem há poucos dias pelo distrito de Braga, não lhe tenha ocorrido o tamanho disparate, asneira e insensibilidade dos encerramentos e despedimentos da Coelima e na Almeida & Filhos.

Felizmente, os trabalhadores sabem com quem contam na defesa do posto de trabalho, na luta pelos direitos e salários, contra a precariedade e a exploração.

Foi assim e assim será. Foi assim em Matosinhos, na refinaria, e assim será nas empresas e locais de trabalho. Daqui a umas horas, vamos a votos para as autarquias locais, ainda há muito voto a conquistar para a CDU, muita gente a mobilizar para dar mais força à força que conta sempre e que sempre lá esteve com e na defesa de todos os trabalhadores.

Com confiança, CDU!




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