Gasolina? Só com chumbo... grosso!
Sabem ao que se arrisca quem caça javalis com uma pressão de ar?
Enquanto os portugueses enfrentam uma insuportável escalada no preço do combustível, a GALP anuncia uma escalada nos seus lucros, com o EBITDA a situar-se nos 2,3 mil milhões de euros.
Todos os padres da santa igreja liberal – sejam paineleiros, trolls ou políticos de direita – se afinam num coro estridente: a culpa é dos impostos e do Estado. Peditório para o qual dá o Governo ao apresentar como medida nuclear para combater os efeitos destes aumentos... a redistribuição de parte da receita fiscal arrecadada. E todos acusam: relacionar os lucros da GALP e das restantes petrolíferas com o custo do combustível é demagogia e populismo.
Veja-se o caso da GALP: extrai petróleo, refina petróleo, vende combustível. Nesta fileira os custos de produção não aumentaram significativamente (desde logo, os salários envolvidos estão estagnados ou foram reduzidos por via da subcontratação). As taxas de imposto não sofrem qualquer alteração desde 1 de Janeiro (e as que então sofreram foram pequenas). E vende cada vez o combustível mais caro. Porquê? Porque pode!
E isto num quadro em que, por cegueira da GALP e do Governo, o País ficou reduzido a uma única refinaria (a de Sines), que tendo tido um acidente nos fornos está com a sua capacidade de produção severamente afectada, estando neste momento a GALP a importar gasóleo.
Diz muito da dimensão do saque aos portugueses, que uma empresa que há 10 meses tinha duas refinarias a funcionar e hoje, por sua responsabilidade, importa o produto refinado, consiga mesmo assim aumentar os lucros e o resultado operacional. Que a parte desses lucros que não é oferecida aos accionistas em dividendos, esteja a ser canalizada para investimentos nas energias renováveis no estrangeiro diz muito também, nomeadamente do quanto isto ainda pode piorar.
É preciso retomar o controlo público sobre o processo: renacionalizar a GALP; fixar os preços a partir dos custos reais de produção; socializar desliberalizando; acabar com a especulação. É preciso um Governo que queira resolver o problema enfrentando os grandes grupos económicos, que queira usar zagalote em vez de andar aos tirinhos.