Em greve por salários melhores

Trabalhadores de cantinas e refeitórios, organizados nos sindicatos de Hotelaria da CGTP-IN, e de instituições particulares de solidariedade social, organizados nos sindicatos de Funções Públicas e Sociais, fizeram greve no dia 10, sexta-feira, e manifestaram-se junto de sedes e delegações das associações patronais, exigindo aumento dos salários e respeito pelos direitos.

O salário mínimo nacional ocupa mais de metade da tabela salarial das IPSS

Em greve estiveram também trabalhadores da limpeza hospitalar, no dia 7, em Lisboa (como noticiamos na pág. 14).

No Porto, dia 13, segunda-feira, trabalhadores da Euromex, a prestar serviço no Hospital de São João e no IPO, fizeram greve por 24 horas, e concentraram-se no exterior das instalações, exigindo a negociação do caderno reivindicativo e o cumprimento do contrato colectivo de trabalho. Mereceram relevo as reclamações contra a discriminação de que os trabalhadores da Euromex são alvo, perante os demais trabalhadores daqueles hospitais.

 

Lusa

SMN alastra nas IPSS

Nas instituições particulares de solidariedade social (IPSS) «são na ordem dos 200 e tal mil trabalhadores que estão encaixados no salário mínimo nacional», em várias profissões, abrangidas por «mais de metade da tabela salarial» em vigor, afirmou uma dirigente da Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais, durante a concentração que teve lugar no Porto, durante a tarde, frente à sede da CNIS, confederação que representa as IPSS nas relações colectivas de trabalho.

«Havia uma distinção entre os trabalhadores que tinham algum curso técnico, mas neste momento a tabela salarial está a ficar achatada, com as diferenças salariais a serem cada vez mais reduzidas», explicou Elisabete Gonçalves, citada pela agência Lusa.

A federação da CGTP-IN, na véspera da jornada, tinha reafirmado que «os trabalhadores das IPSS não podem continuar a ser sujeitos à contínua desvalorização do seu trabalho e das suas profissões» e «ao atropelo aos seus direitos laborais».

Instituições e CNIS procuram justificar com a falta de dinheiro essa «política de degradação sucessiva dos salários e de empobrecimento», mas, recordou a FNSTFPS, «os apoios financeiros por parte do Estado às IPSS, entre 2019 e 2021, tiveram um aumento de 11 por cento, dos quais 3,6 por cento se verificaram em 2021».

Neste contexto, referia-se na nota a confirmar a greve e a concentração de dia 10, «as instituições estabelecem aumentos dos salários, com efeitos só a partir de Julho, de cerca de um por cento, o que representa uma nova redução do valor real dos vencimentos dos trabalhadores».

Por seu turno, os trabalhadores persistem nas reivindicações de aumentos salariais, recrutamento de recursos humanos e cumprimento das leis laborais.

«Foram considerados essenciais, trabalhadores da linha da frente», mas «em termos de valorização, nada disso foi considerado», protestou a dirigente, lembrando que, na negociação com a CNIS sobre o contrato colectivo de trabalho e a actualização salarial, «os aumentos que eles consideraram foram na ordem dos quatro euros».

Como motivos de descontentamento e luta, foram ainda referidos o constante desrespeito dos horários de trabalho e dos conteúdos funcionais das diferentes categorias e profissões.

Na manifestação, que saiu da Avenida dos Aliados para o Largo do Terreiro, a poucos metros no número 47 da Rua da Reboleira, esteve presente uma delegação do PCP, como informou a Direcção da Organização Regional do Porto do Partido.

 

Negociar para valorizar

No sector das cantinas, refeitórios, fábricas de refeições, áreas de serviço e bares concessionados, a associação patronal Ahresp «arrasta o processo negocial de revisão do contrato colectivo de trabalho desde 2004», insistindo na retirada de direitos.

A acusação, inscrita na moção aprovada no dia 10, pelos trabalhadores em greve e concentrados na sede e nas delegações regionais (Porto, Coimbra e Faro) da Ahresp, é concretizada com alguns exemplos: retirar o subsídio nocturno, reduzir o valor do trabalho suplementar e do trabalho prestado em dia de folga e em dia feriado, impor «bancos» de horas e horários concentrados, permitir transferências abusivas e polivalências que desqualificam e desvalorizam os trabalhadores.

Por efeito da forte adesão à greve, mais de duas centenas de cantinas escolares (1.º e 2.ª ciclos) estiveram encerradas. Numa informação divulgada ao final da manhã, a Federação dos Sindicatos de Agricultura, Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal (Fesaht) deu conta também de «uma grande adesão nas cantinas dos centros de formação profissional do IEFP» e de hospitais onde este sector funcionou «apenas com serviços mínimos». Em empresas industriais, registavam-se «grandes adesões em algumas cantinas, mas, globalmente, a adesão é menor».

O Sindicato da Hotelaria do Algarve destacou a adesão de 100 por cento nas escolas do 1.º Ciclo do concelho de Lagos, cujos serviços de alimentação não funcionaram. Numa informação do Sindicato da Hotelaria do Sul, foram referidas, com adesão total, os refeitórios da Sagres (SCC/Heineken), da Escola Superior de Educação, da Escola Superior de Tecnologias da Saúde e do Hospital de Portalegre.

Durante a concentração na sede patronal, em Lisboa – onde a luta dos trabalhadores foi saudada por Duarte Alves, deputado do PCP –, um dirigente da Fesaht confirmou estas informações, acrescentando o encerramento das cantinas dos centros de formação do IEFP em Bragança, Viseu, Viana do Castelo, Coimbra e Porto.

Junto da delegação da Ahresp, no Porto, os trabalhadores foram saudados por Diana Ferreira, deputada, em nome do PCP e da CDU.

«As empresas que exploram cantinas, refeitórios, fábricas de refeições, áreas de serviço e bares concessionados pagam salários muito baixos», num sector que «continua a crescer, designadamente, nas áreas hospitalar, escolar e social», afirma-se na moção.

Classificando de inaceitável a proposta salarial da Ahresp, alerta-se que a associação patronal «coloca a esmagadora maioria dos trabalhadores a receberam praticamente o salário mínimo nacional».

Por «aumentos salariais justos e dignos, valorização das carreiras profissionais, respeito pelos direitos dos trabalhadores, negociação imediata do contrato colectivo de trabalho e manutenção de todos os direitos nele consagrados», os sindicatos ficaram mandatados para convocarem novas formas de luta.