Ao centro?
E, de repente, o coro de comentadores encartados que se arrastam pelas televisões, repetindo, em tons diferentes, variantes das mesmas ideias, esses que são todos a voz do dono, desataram a defender, como tábua de salvação para uma situação de ingovernabilidade futura, que não fazem a mais pálida ideia se aí vem, o Bloco Central (com maiúsculas que o respeito é muito bonito e isto são coisas sérias!).
Dizem que é preciso garantir a governabilidade e a estabilidade, que são necessárias reformas que têm de envolver os dois maiores partidos e que, à falta de uma maioria absoluta, que o PS deseja e pela qual arriscou tudo, provocando o chumbo do Orçamento e combinando a convocação de eleições antecipadas com o Presidente da República, só será possível assegurar as tarefas da governação associando PS e PSD.
No que estão, todos, a pensar, já se vê, é em voltar ao regato da política de direita levando, sem pedras, nem represas no caminho, a água das opções públicas ao moinho dos interesses do capital.
Quando falam em governabilidade, não estão a pensar na legislatura, uma vez que o Governo minoritário do PS foi um dos que mais durou em Portugal, mas antes em assegurar a forma do Capital se governar à mesa do Orçamento. Não falam da estabilidade da vida dos trabalhadores e do povo, da estabilidade do emprego, dos direitos, da habitação, das respostas e apoios sociais, mas sim das condições para estabilizarem os negócios que arruínam o País. Falam de reformas e estão a pensar em destruir o SNS, a Escola Pública ou em fragilizar a Segurança Social e a Justiça, abrindo novas áreas e oportunidades de negócio para amealhar lucros privados.
Enfim, fale-se de maioria absoluta ou de Bloco Central de interesses, o que está na cabeça dos dirigentes do PS, do PSD, dos representantes do grande capital, do Presidente da República e de todos os que reproduzem, como suas, opiniões, teses e teorias que os centros de decisão, a mando do capital, sistematizam, só têm um «Plano A», o do retorno à política de direita, e aos benefícios, privilégios e prebendas que ela compreende.