O défice demográfico e os salários que não aumentam

Vasco Cardoso

Os dados (ainda par­ciais) dos Censos 2021 re­cen­te­mente di­vul­gados sobre a evo­lução de­mo­grá­fica do País con­firmam muitas das pre­o­cu­pa­ções e alertas do PCP. Por­tugal é hoje um dos países mais en­ve­lhe­cidos do mundo (com 23,4% da po­pu­lação acima dos 65 anos), pior só a Itália e o Japão. O valor do ín­dice de en­ve­lhe­ci­mento de­gradou-se ainda mais na úl­tima dé­cada do que o pre­visto. Agora, por cada 100 jo­vens existem 182 idosos, con­fir­mando a con­ti­nuada quebra de na­ta­li­dade no nosso País. A somar a tudo isto, con­tinua a san­gria de jo­vens para o es­tran­geiro. Só em 2019 emi­graram 77 mil por­tu­gueses que não foram, nem de perto nem de longe, com­pen­sados pela che­gada de imi­grantes (pese em­bora o seu nú­mero ter au­men­tado 40% em termos ab­so­lutos na úl­tima dé­cada).

As con­sequên­cias desta evo­lução de­mo­grá­fica são de uma enorme gra­vi­dade, desde logo em re­lação à re­no­vação da força de tra­balho, tão ne­ces­sária ao de­sen­vol­vi­mento e ao fu­turo do País.

Pe­rante estes nú­meros, há quem não veja outra opção que não a do re­curso a mão de obra imi­grante. Per­cebe-se a in­tenção: é uma forma de con­tornar o au­mento dos sa­lá­rios e ou­tras res­postas que pas­sa­riam obri­ga­to­ri­a­mente pela me­lhoria das con­di­ções de vida da po­pu­lação (ha­bi­tação, cre­ches, ser­viços pú­blicos, di­reitos la­bo­rais), in­cluindo as que evi­ta­riam que mi­lhares de por­tu­gueses con­ti­nu­assem a ir para o es­tran­geiro à pro­cura de uma vida me­lhor.

Há muito que o PCP iden­ti­fica o dé­fice de­mo­grá­fico como um dos prin­ci­pais dé­fices es­tru­tu­rais do País. A sua su­pe­ração passa, para lá da imi­gração que é e con­ti­nuará a ser ne­ces­sária, pelo au­mento geral dos sa­lá­rios, de facto uma emer­gência na­ci­onal, e pela me­lhoria das con­di­ções de vida da po­pu­lação por­tu­guesa que per­mitam a livre de­cisão de ter fi­lhos, com­bater a de­ser­ti­fi­cação, reter uma força de tra­balho ade­quada ao de­sen­vol­vi­mento na­ci­onal. São di­reitos das cri­anças e dos pais. São con­di­ções para o de­sen­vol­vi­mento do País.




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