Ano Europeu da Juventude: da propaganda ao que é necessário

Joel Moriano

O Par­la­mento Eu­ropeu e o Con­selho apro­varam a pro­posta da Co­missão Eu­ro­peia de de­signar o ano de 2022 como Ano Eu­ropeu da Ju­ven­tude. Não fosse co­nhe­cermos as po­lí­ticas pro­mo­vidas e in­cen­ti­vadas por estas três ins­ti­tui­ções ao longo dos anos e até po­de­ríamos ter a ilusão de que este ano te­má­tico po­deria ter como ob­jec­tivo, pelo menos, chamar a atenção para os pro­blemas e pro­va­ções que os jo­vens en­frentam.

Os que agora querem «dar ên­fase à ju­ven­tude» são os mesmos que, através das po­lí­ticas pros­se­guidas ao longo dos anos, im­pe­diram muitos destes jo­vens de aceder gra­tui­ta­mente aos mais ele­vados graus de en­sino, de ter con­tratos de tra­balho es­tá­veis e sa­lá­rios que va­lo­rizem o seu tra­balho e a sua for­mação, que os im­pedem de ter acesso a uma ha­bi­tação digna e a preços eco­no­mi­ca­mente aces­sí­veis, de ace­derem à cul­tura, ao des­porto e ao lazer. Foram estas po­lí­ticas que, du­rante anos e no­me­a­da­mente em Por­tugal, sub­traíram a muitos jo­vens o di­reito de nascer, crescer, viver e tra­ba­lhar no seu país, em­pur­rando muitos mi­lhares para a emi­gração.

Sa­bemos, por ex­pe­ri­ên­cias an­te­ri­ores, que o ob­jec­tivo não é alertar para os pro­blemas da ju­ven­tude nem ini­ciar o ca­minho para dar res­posta aos seus an­seios e as­pi­ra­ções. Sa­bemos que o ob­jec­tivo não é fazer deste ano um acto de con­trição pelas po­lí­ticas e ori­en­ta­ções pros­se­guidas pela União Eu­ro­peia, ad­mitir as suas res­pon­sa­bi­li­dades e in­verter ca­minho.

Os jo­vens pre­cisam de muito mais do que meras pro­cla­ma­ções! Pre­cisam de po­lí­ticas que es­tejam ao ser­viço dos seus in­te­resses e as­pi­ra­ções e não ao ser­viço do grande ca­pital e dos grandes grupos eco­nó­micos.

Pre­cisam de po­lí­ticas que com­batam a pre­ca­ri­e­dade, porque sabem que não têm de estar con­de­nados a esta in­cer­teza no tra­balho que sig­ni­fica in­cer­teza e in­se­gu­rança nas suas vidas. Po­lí­ticas que pro­movam uma edu­cação pú­blica, de­mo­crá­tica e gra­tuita, que lhes ga­ranta o acesso a todos os graus de en­sino. Que lhes as­se­gurem os seus di­reitos à cri­ação e fruição cul­tural, ao des­porto e ao bem-estar fí­sico e mental. Que ga­rantam a va­lo­ri­zação dos seus sa­lá­rios, das suas car­reiras, pro­fis­sões e for­mação.

Os jo­vens pre­cisam de con­di­ções que lhes per­mitam a sua au­to­nomia e in­de­pen­dência, o di­reito à ha­bi­tação, a cons­ti­tuir fa­mília.

Sa­bemos, sabem-no muitos jo­vens e é im­por­tante que mais o saibam também, que não é este Ano Eu­ropeu da Ju­ven­tude, nem as po­lí­ticas ne­o­li­be­rais da União Eu­ro­peia que darão so­lução aos seus pro­blemas. No quadro ac­tual, só através da rup­tura com estas po­lí­ticas e da con­cre­ti­zação de uma po­lí­tica pa­trió­tica e de es­querda será dada uma res­posta global aos pro­blemas da ju­ven­tude.

É por esta outra po­lí­tica que os de­pu­tados do PCP no Par­la­mento Eu­ropeu se con­ti­nu­arão a bater.




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