O pseudónimo

Correia da Fonseca

Foi o major ge­neral Agos­tinho Costa, e não um pai­sano qual­quer in­ves­tido na função de es­cre­vi­nhador, quem o disse di­ante das câ­maras de TV, isto é, em prin­cípio para o país in­teiro se não também para o resto do mundo: «- A NATO é um pseu­dó­nimo dos Es­tados Unidos, o resto é pai­sagem!». Con­corde-se ou não com a es­cla­re­ce­dora afir­mação, o certo é que ela vai ao en­contro de muitas con­vic­ções e de al­gumas afir­ma­ções que de­correm do facto ve­ri­fi­cável de serem os States os pa­trões de quanto de re­le­vante existe das fron­teiras Ori­en­tais da Po­lónia para Oeste, até aos con­fins da Ca­li­fórnia e do Alasca. E a questão é que ao longo dos dias mais re­centes as re­la­ções entre o Oci­dente li­de­rado (isto é, co­man­dado) pelos Es­tados Unidos e o Leste se cris­param de tal modo que muito boa e avi­sada gente há-de ter co­me­çado a pensar na pos­si­bi­li­dade uma nova guerra grande, de di­mensão su­fi­ci­ente para ar­rasar as muitas e ex­ce­lentes coisas que en­formam este Oci­dente de que muito nos quei­xamos mas que é o «ha­bitat» em que agimos e onde afinal quase sempre aca­bamos por en­con­trar algum con­forto, fí­sico e não só. Sem pre­juízo de sempre o que­rermos me­lhorar, o que aliás só nos fica bem.

Tudo é re­co­men­dável

Ora, acon­teceu que o con­vívio deste nosso Oci­dente que a muitos pa­rece o me­lhor dos mundos pos­sí­veis com o Leste que aos mesmos sus­ci­tará a opi­nião con­trária passou re­cen­te­mente por dias de ás­pera tensão: é que na fron­teira Leste da Po­lónia, onde ter­mina a Eu­ropa que ainda trans­pira de­mo­cracia por todos os poros, as cir­cuns­tân­cias obri­garam a uma quase co­lisão com os ainda abun­dantes ves­tí­gios de pe­gadas a ca­minho de um so­ci­a­lismo mil vezes es­con­ju­rado. Para mais, um pouco mais a Leste, na Ucrânia, co­me­çara a ger­minar um des­con­forto in­tenso, con­ta­mi­nado talvez pelos ger­mens de uma guerra com du­vi­dosos prin­cípio e fim, mas se­gu­ra­mente com abun­dantes dramas pelo meio. Os «media» apres­saram-se a glosar o re­ceio de um con­flito em es­cala larga: como se sabe, o medo ajuda a vender papel im­presso e in­ten­si­fica a cor­rida à in­for­mação so­nora e au­di­o­vi­sual, isto é, re­força esse im­pério que nos co­manda mesmo que não demos por isso. Foram os dias em que nos foi su­ge­rido que os russos, esses cró­nicos pa­pões, vi­riam por aí abaixo, Bi­e­lo­rússia, Ucrânia, sabe-se lá por que mais sí­tios, pois eles, os russos pa­recem ter pacto com o diabo. Aliás, esta hi­pó­tese um pouco ex­ces­siva ex­pli­cará que até se tenha pro­ce­dido à mo­bi­li­zação da fé me­di­ante rezas, ofí­cios re­li­gi­osos e pro­ce­di­mentos si­mi­lares: para travar os russos, mesmo que apenas na dis­tante Ucrânia, tudo é re­co­men­dável. Fi­nal­mente pa­rece ter-se apu­rado que afinal os russos não querem a guerra, não querem descer pela Ucrânia abaixo, tudo fi­cará «para a outra vez», como se usa dizer. Porque ha­verá cer­ta­mente uma «outra vez»: os meios de co­mu­ni­cação so­cial en­car­regar-se-ão dela. Também servem para isso.




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