Os preços sobem em todo o lado e o povo não pode ficar calado

«O PCP apela aos tra­ba­lha­dores e às po­pu­la­ções que se mo­bi­lizem, que façam ouvir a sua in­dig­nação e pro­testo contra o au­mento do custo de vida e travem, com a sua acção, o pro­cesso em curso para subir preços, au­mentar juros, pro­mover a es­pe­cu­lação e atacar di­reitos e con­di­ções de vida dos tra­ba­lha­dores, dos re­for­mados, das po­pu­la­ções».

O Go­verno não pode fe­char os olhos à es­pe­cu­lação que está em curso

O apelo do PCP para a luta foi feito por Paulo Rai­mundo, membro do Se­cre­ta­riado e da Co­missão Po­lí­tica do Co­mité Cen­tral na quinta-feira, 17, no dia em que ar­rancou uma cam­panha contra as in­jus­tiças, o em­po­bre­ci­mento e o au­mento do custo de vida, que com ac­ções di­versas em todo o País, pre­tende con­tactar, es­cla­recer e mo­bi­lizar os tra­ba­lha­dores e o povo.

Hoje, na Praça da Ba­talha, no Porto, pelas 18h00, está con­vo­cado um pro­testo contra a su­bida dos preços – dos com­bus­tí­veis, do gás, da elec­tri­ci­dade, dos gé­neros ali­men­tares.

Aliás, a «es­ca­lada dos preços» destes quatro bens, im­posta a «pre­texto da guerra» com au­mentos ainda mias bru­tais» foi jus­ta­mente sa­li­en­tada na con­fe­rência de im­prensa pelo di­ri­gente co­mu­nista, que de­nun­ciou « as ac­ções es­pe­cu­la­tivas que estão em curso e que, a pro­pó­sito de pro­blemas e di­fi­cul­dades que de­correm da si­tu­ação in­ter­na­ci­onal, pro­curam trans­ferir para os tra­ba­lha­dores e o povo os custos dessas op­ções».

Exemplo disso mesmo «au­mento nos com­bus­tí­veis», os quais, para Paulo Rai­mundo, não têm qual­quer jus­ti­fi­cação a «não ser um golpe, um apro­vei­ta­mento da si­tu­ação, uma ma­nobra es­pe­cu­la­tiva». Aliás, sa­li­entou, «os com­bus­tí­veis que hoje estão à venda foram com­prados há meses e a preços con­si­de­ra­vel­mente mais baixos dos que se anun­ciam para Maio pró­ximo».

«É nestes mo­mentos que é bom re­lem­brar o crime eco­nó­mico que re­sultou do ca­minho das pri­va­ti­za­ções, da li­be­ra­li­zação de preços, de deixar ao ca­pital pri­vado de­ci­sões fun­da­men­tais sobre este sector es­tra­té­gico, ou a re­cente opção de des­truição da Re­fi­naria de Ma­to­si­nhos, co­lo­cando o País numa si­tu­ação de maior de­pen­dência face a si­tu­a­ções ex­ternas que não con­trola», su­bli­nhou o membro dos or­ga­nismos exe­cu­tivos do PCP, que antes de adi­antar pro­postas do PCP no que ao preço final da energia diz res­peito (ver caixa), alertou para as «cres­centes di­fi­cul­dades» que en­frentam tra­ba­lha­dores, pe­quenos em­pre­sá­rios e pro­du­tores, a es­ma­ga­dora mai­oria do povo.

Di­fi­cul­dades, in­sistiu, que ocorrem «ao mesmo tempo que os grupos eco­nó­micos acen­tuam a sua linha es­pe­cu­la­tiva sobre os preços, con­cen­trando ainda mais a ri­queza», facto con­fir­mado pelo preços dos com­bus­tí­veis, já que, en­quanto estes «batem todos os re­cordes, a GALP dis­tri­buiu em di­vi­dendos entre os seus ac­ci­o­nistas mil mi­lhões de euros».

O mesmo exemplo pode es­tender-se aos lu­cros da EDP, das grandes em­presas de dis­tri­buição ou na banca», afirmou ainda Paulo Rai­mundo, para quem não há dú­vidas: «A vida está ace­le­ra­da­mente mais cara!»

Travar a gula

au­mentar sa­lá­rios

«Esta é a re­a­li­dade com que todos se con­frontam quando a cada dia vão às com­pras para levar co­mida para casa, quando pagam as contas da luz, água, gás, renda e pres­ta­ções, te­le­co­mu­ni­ca­ções, com­bus­tí­veis, se­guros, por­ta­gens, me­di­ca­mentos e todo o con­junto de des­pesas», chamou a atenção o di­ri­gente do Par­tido, cons­ta­tando, por isso, o que a mai­oria dos que vivem do seu tra­balho sabe e sente: «a cada dia que passa o sa­lário e a pensão ficam mais curtos para des­pesas cada vez mai­ores».

Ora, neste con­texto, «o Go­verno não pode fe­char os olhos à es­pe­cu­lação que está em curso. A si­tu­ação exige de­ter­mi­nação e não me­didas que, sendo im­por­tantes, são ma­ni­fes­ta­mente in­su­fi­ci­entes e de curto al­cance como as anun­ci­adas nos úl­timos dias».

Dito de outro modo, «há que agir e travar a gula dos mo­no­pó­lios», pelo que «ao Go­verno exige-se a de­fesa e pro­tecção das fa­mí­lias face ao au­mento geral dos preços e não a com­pla­cência com a es­pe­cu­lação».

«Para a con­sa­gração ur­gente de me­didas que en­frentem a ac­tual si­tu­ação, o PCP está, como sempre es­teve, dis­po­nível para propor e en­con­trar so­lu­ções». O Par­tido não deixa no en­tanto de alertar que, «após o apro­vei­ta­mento da epi­demia pelos grupos eco­nó­micos para atacar di­reitos e con­di­ções de vida – ao mesmo tempo que acu­mu­lavam mi­lhares de mi­lhões de euros de lu­cros e di­vi­dendos –, surge agora o apro­vei­ta­mento do agra­va­mento da tensão in­ter­na­ci­onal da guerra na Ucrânia e das san­ções, com os grupos eco­nó­micos a in­vocar e a exigir novos e mais apoios pú­blicos pro­cu­rando pres­si­onar sa­lá­rios, di­reitos e o nível de vida dos tra­ba­lha­dores e do povo», con­cluiu Paulo Rai­mundo.

À guerra não pode acrescer

o seu apro­vei­ta­mento

Já este sá­bado, no en­cer­ra­mento da As­sem­bleia da Or­ga­ni­zação Re­gi­onal de Aveiro do PCP, Je­ró­nimo de Sousa alertou que «além das con­sequên­cias di­rectas da tensão in­ter­na­ci­onal, da in­ten­si­fi­cação da guerra e das san­ções de­ci­didas neste con­texto, há o risco sério de novo apro­vei­ta­mento de toda a si­tu­ação para subir preços e pro­mover a es­pe­cu­lação, como já está a acon­tecer, e in­fligir novos ata­ques aos di­reitos e às con­di­ções de vida dos tra­ba­lha­dores, dos re­for­mados, das po­pu­la­ções, numa es­cala sem pre­ce­dentes desde 2011, in­fer­ni­zando a vida às massas po­pu­lares para ga­rantir lu­cros co­los­sais aos grupos eco­nó­micos que pro­cu­rarão be­ne­fi­ciar da guerra».

«Não é acei­tável, não é ad­mis­sível, que além das con­sequên­cias da guerra o povo tenha ainda de so­frer as con­sequên­cias do seu apro­vei­ta­mento pelos grupos eco­nó­micos», rei­terou o Se­cre­tário-geral do PCP, para quem «é pre­ciso alertar» que «há quem es­teja a tirar pro­veitos e a ga­nhar com a guerra!»

E «não são apenas os se­nhores do com­plexo mi­litar in­dus­trial que tiram par­tido da cor­rida aos ar­ma­mentos, com as novas en­co­mendas de mi­lhões em curso. São também os ou­tros grupos eco­nó­micos que se apro­veitam de toda a si­tu­ação para subir preços e ga­rantir lu­cros co­los­sais», voltou a acusar, antes de atri­buir à «po­lí­tica con­du­zida pelo ca­pi­ta­lismo do­mi­nante» a ins­ti­tu­ci­o­na­li­zação de «um mo­delo de co­ta­ções in­ter­na­ci­o­nais que serve as mul­ti­na­ci­o­nais» e impõe a todos o «ab­surdo»: « preço do pe­tróleo au­menta um dia e logo a se­guir au­mentam os preços dos com­bus­tí­veis», apesar de «esses com­bus­tí­veis terem sido re­fi­nados há meses, a partir de pe­tróleo com­prado a um preço in­fe­rior».

Mas a res­pon­sa­bi­li­dade também se en­contra «no ca­minho que as pri­va­ti­za­ções per­mi­tiram e na li­be­ra­li­zação de preços que a po­lí­tica de di­reita fo­mentou e pro­moveu, e que per­mite deixar ao ca­pital pri­vado de­ci­sões fun­da­men­tais sobre este sector es­tra­té­gico e ga­rantir mar­gens de lucro ina­cei­tá­veis», disse igual­mente Je­ró­nimo de Sousa, que lem­brando que as «mar­gens de lucro de re­fi­nação» da GALP «são quase três vezes su­pe­ri­ores às do ano pas­sado», la­mentou que «quem paga este ne­gócio é o povo por­tu­guês!»

No geral, acres­centou o se­cre­tário-geral do PCP, «este au­mento do custo de vida sig­ni­fica menos sa­lário e menos pensão de re­forma», tra­du­zindo-se noutra «ma­neira de cortar sa­lá­rios, in­di­recta mas com os mesmos efeitos nas con­di­ções de vida dos tra­ba­lha­dores e do povo», uma «outra forma de acen­tuar in­jus­tiças, em­po­brecer quem tra­balha, acu­mular ri­queza na mão dos grupos mo­no­po­listas».

 

Me­didas con­cretas

No ar­ranque da cam­panha de es­cla­re­ci­mento e acção do Par­tido acerca do au­mento do custo de vida, Paulo Rai­mundo de­fendeu que «sobre os com­bus­tí­veis há as­pectos e me­didas fis­cais que podem e devem ser con­si­de­radas e que, aliás, há muito o PCP propõe».

Paulo Rai­mundo re­feria-se:

• à eli­mi­nação do adi­ci­onal ao im­posto sobre os pro­dutos pe­tro­lí­feros e o fim da dupla tri­bu­tação que se ve­ri­fica do IVA sobre o ISP;

• a im­po­sição de preços má­ximos de venda final, me­dida que tem que ser con­si­de­rada também em ma­té­rias da energia, gás e todos os bens es­sen­ciais, em par­ti­cular os ali­men­tares;

• a ur­gente a re­dução do IVA de 13 para os 6 por cento no gás, e de 23 para os 6 por cento na elec­tri­ci­dade.

 



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O PCP pro­moveu um con­junto de ac­ções de es­cla­re­ci­mento e mo­bi­li­zação contra o au­mento do custo de vida. A cam­panha ar­rancou dia 17 com uma de­cla­ração po­lí­tica de Paulo Rai­mundo (ver pá­ginas 6 e 7) e pro­longou-se até an­te­ontem, 22, in­ci­dindo so­bre­tudo na ne­ces­si­dade de res­postas para a es­ca­lada es­pe­cu­la­tiva nos preços da energia, cujos efeitos se sentem com par­ti­cular se­ve­ri­dade no preço dos gé­neros ali­men­tares.