Resposta soberana a pressões dos EUA

Carlos Lopes Pereira

A Assembleia-geral das Nações Unidas aprovou em princípios de Março uma resolução exigindo à Rússia o fim imediato da sua intervenção militar na Ucrânia.

Dos Estados membros africanos, um votou contra a resolução (Eritreia), 16 abstiveram-se (África do Sul, Argélia, Angola, Burundi, República Centro-Africana, Congo, Madagáscar, Mali, Moçambique, Namíbia, Senegal, Sudão, Sudão do Sul, Uganda, Tanzânia e Zimbabwé) e nove (Burkina Faso, Etiópia, Eswatini, Guiné, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Marrocos, Camarões e Togo) nem sequer participaram na votação. Ou seja, quase metade dos 55 países africano escolheram não alinhar com os Estados Unidos da América e aliados, que impulsionaram a resolução.

Analistas têm procurado explicar as causas desta neutralidade africana face à guerra no Leste da Europa. Apontam a desconfiança em relação à NATO e às suas motivações; a memória do papel dos EUA e da Aliança Atlântica contra as lutas independentistas africanas, no século XX; o passado colonialista e o presente neocolonialista das potências europeias; as crescentes relações económicas e militares de vários países africanos com Moscovo; a dependência africana de importações de cereais e fertilizantes da Rússia; ou a recuperação dos princípios do não-alinhamento face a uma possível nova Guerra Fria mundial.

Os EUA terão ficado «surpreendidos» com a votação de uma parte dos países africanos e está a pressionar governos do continente para reverter a sua posição.

«Esperamos uma forte resposta africana à agressão russa», afirmou em Dakar a embaixadora norte-americana junto da União Africana, Jessica Lapenn, ao mesmo tempo que falava de planos para ajudar a mitigar os impactos económicos do conflito na Ucrânia. «Ajudas», prometeu, bilaterais ou através do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional – receitas que os africanos conhecem bem…

A diplomata deslocou-se há dias ao Senegal para «consultas», incluindo uma reunião com o presidente Macky Sall, que assume actualmente a presidência rotativa da União Africana.

O Senegal, com boas relações com o «Ocidente», em especial com Paris e Washington, surpreendeu ao abster-se na votação da Assembleia-geral da ONU. Já a União Africana instou a Rússia a «respeitar o direito internacional, a integridade territorial e a soberania nacional da Ucrânia», sem contudo chegar a condenar a intervenção militar.

Estas manobras de Washington e aliados, habituais mas agora mais prementes, foram desmascaradas em Moçambique, quando a FRELIMO, o partido da independência nacional, condenou a «pressão» de «alguns países ocidentais». Diplomatas dos EUA e de países da União Europeia expressaram público «descontentamento» pela posição de neutralidade de Moçambique no conflito entre Rússia e Ucrânia.

«A nossa política externa nunca alinha com interesses de grupo mas com os interesses dos moçambicanos», respondeu Caifadine Manasse, porta-voz do partido maioritário. E defendeu a «decisão soberana» de Maputo de abster-se na votação na ONU, recordando os princípios de mútuo respeito pela soberania e integridade territorial, igualdade, não-interferência nos assuntos internos e reciprocidade de vantagens.

Uma resposta à altura da história de luta do povo de Moçambique e da FRELIMO, o partido da independência e da construção do Estado e de uma sociedade desenvolvida e justa.




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