Exige-se acção enérgica do Governo para travar aumento do custo de vida

Fa­mí­lias a verem os sa­lá­rios e pen­sões cor­roídos pelo brutal au­mento do custo de vida, ao mesmo tempo que lu­cros as­tro­nó­micos dos grandes grupos eco­nó­micos são dis­tri­buídos em di­vi­dendos por ac­ci­o­nistas, eis o re­trato ac­tual do País.

O au­mento dos di­vi­dendos choca com a re­a­li­dade da mai­oria

Lusa

Foi esta re­a­li­dade dual que foi le­vada pelo de­pu­tado co­mu­nista Bruno Dias ao ple­nário da As­sem­bleia da Re­pú­blica, faz hoje uma se­mana, numa es­pécie de grito de alerta para que o Go­verno «não feche os olhos» às di­fi­cul­dades por que passa a ge­ne­ra­li­dade dos tra­ba­lha­dores e do povo, nem seja com­pla­cente com a es­pe­cu­lação em curso. Grito esse acom­pa­nhado si­mul­ta­ne­a­mente da exi­gência de me­didas em «de­fesa e pro­tecção das fa­mí­lias face ao au­mento geral dos preços».

«Para a imensa mai­oria do povo por­tu­guês, a vida está mais cara, mais di­fícil e in­justa: a cada dia que passa, o sa­lário e a pensão de re­forma ficam mais curtos para des­pesas cada vez mai­ores, com o fim do mês cada vez mais longe», sa­li­entou o par­la­mentar na de­cla­ração po­lí­tica que pro­feriu em nome da sua ban­cada, antes de dar exem­plos con­cretos de como essa re­a­li­dade se ex­pressa no dia-a-dia, seja quando se «vai às com­pras para levar co­mida para casa», seja quando se «paga as contas da luz, água, gás, renda e pres­ta­ções, te­le­co­mu­ni­ca­ções, com­bus­tí­veis, se­guros, por­ta­gens, me­di­ca­mentos e todo o con­junto de des­pesas com que cada um se con­fronta».

Ga­lo­pante au­mento do custo de vida que os dados do INE di­vul­gados na vés­pera tornam in­des­men­tível – va­ri­ação ho­mó­loga de 5,3% do Índice de Preços no Con­su­midor, a mais ele­vada desde Junho de 1994 –, como tratou de re­alçar Bruno Dias, não dei­xando de a pôr em con­traste com essa outra face da re­a­li­dade que é a su­bida dos lu­cros e acu­mu­lação de ca­pital da­queles que são já os grandes de­ten­tores da ri­queza.

«En­quanto os preços dos com­bus­tí­veis ba­tiam todos os re­cordes, a GALP dis­tri­buiu em di­vi­dendos entre os seus ac­ci­o­nistas a mó­dica quantia de mil mi­lhões de euros! E o mesmo exemplo pode-se es­tender aos lu­cros da EDP, das grandes em­presas de dis­tri­buição ou na banca», exem­pli­ficou o de­pu­tado do PCP.

Re­solver de­pen­dência

A nossa de­pen­dência ex­terna em pro­dutos agro-ali­men­tares – no caso do trigo, que é a base da ali­men­tação na­ci­onal, essa de­pen­dência do ex­te­rior é de 96% – foi outro as­pecto que me­receu uma atenção par­ti­cular de Bruno Dias, le­vando-o a re­a­firmar a ur­gência de «as­se­gurar as ne­ces­si­dades de abas­te­ci­mento ali­mentar do nosso País, subs­ti­tuindo im­por­ta­ções pela pro­dução na­ci­onal».

Ainda a este pro­pó­sito, sa­li­en­tada por si foi a di­fícil si­tu­ação dos agri­cul­tores e pro­du­tores pe­cuá­rios, a braços com «custos de pro­dução cada vez mais in­com­por­tá­veis», e que «vendem os seus pro­dutos a preços bai­xís­simos à grande dis­tri­buição, que os co­loca nas pra­te­leiras a preços exor­bi­tantes, ex­plo­rando ao mesmo tempo os pe­quenos pro­du­tores e também os con­su­mi­dores».

Igual­mente grave é a si­tu­ação nas pescas, onde, ad­vertiu, «a es­ca­lada dos preços dos com­bus­tí­veis e a falta de apoios, num sector já em grandes di­fi­cul­dades, põem em risco a con­ti­nu­ação da ac­ti­vi­dade». E por isso con­si­derou in­dis­pen­sável «avançar com me­didas de apoio à pe­quena pesca, ar­te­sanal e cos­teira para en­frentar os custos da pro­dução».

Me­didas in­su­fi­ci­entes

Con­cluiu, por isso, que as me­didas agora anun­ci­adas pelo Go­verno «fogem ao que se exige de es­sen­cial quanto ao com­bate à es­pe­cu­lação e à su­bida dos preços e ao ina­diável au­mento dos sa­lá­rios e das pen­sões de re­forma».

Mais, para o PCP, tais me­didas ig­noram que os pro­blemas a que o Exe­cu­tivo do PS diz querer res­ponder «são in­se­pa­rá­veis da ins­ti­gação das san­ções que a pre­texto da guerra estão a ser im­postas, be­ne­fi­ci­ando os que com elas lu­cram, em pre­juízo do in­te­resse dos tra­ba­lha­dores e do povo».

E não só o Go­verno não en­frenta os pro­blemas que estão na raiz da si­tu­ação ac­tual como, pior, ao in­vocar o «com­bate à es­piral in­fla­ci­o­nista para não au­mentar os sa­lário e pen­sões», o que faz é «deixar campo aberto à ex­plo­ração e ao em­po­bre­ci­mento».

Daí que Bruno Dias tenha in­sis­tido na ideia de que a res­posta ao au­mento do custo de vida tem de passar por «me­didas de con­trolo e fi­xação de preços e o au­mento de sa­lá­rios e pen­sões». Caso con­trário, ob­servou, «é a roda livre ao apro­vei­ta­mento e o lucro de al­guns, à custa da po­breza e das di­fi­cul­dades de quase todos».

Pela fi­xação de preços má­ximos

Abor­dando as me­didas de re­dução de im­postos sobre os com­bus­tí­veis anun­ci­adas pelo Go­verno, al­gumas das quais pro­postas pelo PCP ainda há apenas duas se­manas, o de­pu­tado co­mu­nista sus­tentou que elas «têm de ser acom­pa­nhadas por me­didas de con­trolo e fi­xação de preços». É que sem essa fi­xação de preços má­ximos (como nos com­bus­tí­veis), alertou, o re­sul­tado é o Go­verno con­ti­nuar a per­mitir que os «grupos eco­nó­micos con­ti­nuem a au­mentar os preços de forma es­pe­cu­la­tiva» e co­locar «as re­ceitas fis­cais a sub­si­di­arem os seus lu­cros».

Fal­si­fi­ca­ções

Fal­si­ficar as po­si­ções do PCP para de­pois com base nessa adul­te­ração o atacar não é no­vi­dade. A téc­nica é co­nhe­cida. Com a guerra na Ucrânia, porém, esse ma­nobra re­finou e tem dado lugar às mais sór­didas pro­vo­ca­ções.

Disso é tes­te­munho a in­ter­venção do de­pu­tado da IL que, para ver­da­dei­ra­mente não tocar nas ques­tões de fundo co­lo­cadas na de­cla­ração po­lí­tica de Bruno Dias, en­ve­redou pela in­fâmia. «Antes de falar de in­flação é pre­ciso con­denar aqui o facto de o PCP não con­denar Putin e o re­gime russo», bolsou Ber­nardo Blanco.

A res­posta não se fez es­perar, com Bruno Dias a ver na­quelas pa­la­vras um exemplo claro da «ati­tude de quem, des­pre­zando a po­pu­lação, a re­a­li­dade con­creta das pes­soas, apro­veita a dis­cussão sobre o au­mento do custo de vida, sobre as di­fi­cul­dades que os por­tu­gueses en­frentam, para fazer pro­vo­ca­ções e para trans­formar o de­bate numa po­luição». «Não iremos con­tri­buir para isso», afi­ançou o de­pu­tado co­mu­nista.



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