Operação de branqueamento ao neonazismo ucraniano

O golpe de Es­tado de 2014, ins­ti­gado e pre­pa­rado pelos EUA, UE e NATO, co­locou a Ucrânia sob con­trolo de forças xe­nó­fobas, na­ci­o­na­listas e ne­o­nazis, que servem a agenda de con­fron­tação e pro­vo­cação que o im­pe­ri­a­lismo des­tinou para o país.

O Ba­ta­lhão Azov e o que este re­pre­senta são in­dis­so­ciá­veis do ac­tual poder ucra­niano

O agra­va­mento da si­tu­ação no Leste da Eu­ropa é usado, no plano me­diá­tico, para a im­po­sição de um pen­sa­mento único re­la­ti­va­mente às suas causas, ao seu de­sen­vol­vi­mento, aos vá­rios pro­ta­go­nistas. Quem não se­guir à risca a nar­ra­tiva ofi­cial é des­tra­tado, ofen­dido e pron­ta­mente acu­sado de apoio e co­la­bo­ração com a Rússia e os seus di­ri­gentes. De mi­li­tares a jor­na­listas, são cada vez mais os que re­co­nhecem – e re­pu­diam – esta ina­cei­tável re­a­li­dade.

A forma como é hoje re­tra­tado o Ba­ta­lhão Azov, e ou­tros de na­tu­reza se­me­lhante que operam um pouco por toda a Ucrânia, é re­ve­la­dora do que se pre­tende com a im­po­sição deste pen­sa­mento único. Em vá­rios ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial, e não só em Por­tugal, os «xe­nó­fobos», «na­ci­o­na­listas» e «ne­o­nazis» de ontem trans­formam-se em sim­ples­mente «po­lé­micos», ha­vendo até já quem ponha em causa a ide­o­logia e prá­tica destes grupos e lhe des­cubra re­centes evo­lu­ções ide­o­ló­gicas. São, agora, apre­sen­tados como «de­fen­sores da Ucrânia», gente que «ama» o seu país…

Es­tado dentro do Es­tado
Mas foi o pró­prio Pú­blico (que hoje em­barca nesta au­tên­tica ope­ração de cos­mé­tica, tal como o Ex­presso e ou­tros) a pu­blicar, em Junho de 2020, uma ex­tensa re­por­tagem – da au­toria de Ri­cardo Ca­bral Fer­nandes – com um tí­tulo re­ve­lador: Ucrânia. O campo de treino mi­litar para a ex­trema-di­reita mun­dial. O con­teúdo não o era menos.

Nela tra­çava-se a evo­lução do Ba­ta­lhão Azov, desde as ori­gens, nos dias do golpe de Fe­ve­reiro de 2014, até à data da pu­bli­cação: o papel de fi­nan­ci­ador e or­ga­ni­zador do oli­garca Ilhor Ko­lo­moiski; a es­colha de An­drii Bi­letski, do par­tido ne­o­nazi Pa­tri­otas da Ucrânia, para a li­de­rança; a in­te­gração na Guarda Na­ci­onal, pela mão de Petro Po­ro­chenko, logo em 2014; o ar­ma­mento topo de gama pro­ve­ni­ente dos EUA, da UE, do Ca­nadá e de Is­rael; a cres­cente in­fluência no apa­relho de Es­tado, pela mão do mi­nistro do In­te­rior Arsen Avakov; os campos de treino em Ma­riupol.

Al­gumas pas­sa­gens são par­ti­cu­lar­mente elu­ci­da­tivas: «O Mo­vi­mento Azov in­fil­trou-se no Es­tado ucra­niano e é hoje in­dis­so­ciável dele»; «Re­cebe mi­lhares de euros em fi­nan­ci­a­mento para pro­gramas de in­cen­tivo ao pa­tri­o­tismo di­rec­ci­o­nado à ju­ven­tude (cri­anças com nove anos re­cebem treino mi­litar, por exemplo), apoio po­lí­tico e mi­litar»; «o Re­gi­mento Azov trans­formou-se num alar­gado mo­vi­mento, criou um Es­tado dentro do Es­tado ucra­niano, es­tendeu ten­tá­culos por toda a Eu­ropa e quer criar uma Le­gião Es­tran­geira ucra­niana».

Não dá para ocultar
Já nessa al­tura, re­ve­lava o jor­na­lista, o Ba­ta­lhão Azov co­me­çava a de­mons­trar um «cui­dado par­ti­cular para não ser co­no­tado po­li­ti­ca­mente», es­forço para os quais pro­cura hoje con­tri­buir a ge­ne­ra­li­dade dos ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial, pelo menos na Eu­ropa e Amé­rica do Norte.

Porém, tanto a sua origem como a pró­pria sim­bo­logia não ajudam à lim­peza da imagem: nos em­blemas do Ba­ta­lhão Azov co­e­xistem dois sím­bolos as­so­ci­ados ao na­zismo alemão, o Sol negro e o Wolf­sangel, da 2.ª Di­visão SS, e as cruzes suás­ticas são fre­quentes, tanto em ban­deiras como em ta­tu­a­gens dos seus mem­bros.

Im­pos­sí­veis de apagar são, também, os crimes co­me­tidos ao longo dos úl­timos oito anos – as tor­turas, as pi­lha­gens, os as­sas­si­natos, os mas­sa­cres – contra co­mu­nistas, de­mo­cratas e po­pu­la­ções es­lavas, tra­tadas por pretos da neve pelos na­ci­o­na­listas ucra­ni­anos ins­pi­rados em Stepan Ban­dera, líder dos bandos que du­rante a ocu­pação nazi da União So­vié­tica co­la­bo­raram com as hordas hi­tle­ri­anas no mas­sacre de cen­tenas de mi­lhares de so­vié­ticos de di­versas pro­ve­ni­ên­cias ét­nicas, bem como de po­lacos.

O do­cu­men­tário da jor­na­lista fran­cesa Anne-Laure Bonnel, in­ti­tu­lado Don­bass, mostra bem o acosso per­ma­nente em que aquelas po­pu­la­ções vi­veram nos úl­timos oito anos, com um ele­vado custo em vidas hu­manas.

Ide­o­logia de Es­tado
O Ba­ta­lhão Azov é se­gu­ra­mente a mais he­di­onda ex­pressão do fas­cismo ucra­niano, mas não é a única. São muitas as forças, par­tidos e grupos ar­mados a per­fi­lhar a ide­o­logia nazi-fas­cista no país, con­tando-se entre os mais ex­pres­sivos o par­tido Svo­boda e o Sector Di­reito, ambos com forte in­fluência no golpe de Es­tado de 2014.

A partir desse mo­mento, o pa­no­rama po­lí­tico da Ucrânia sofre uma drás­tica vi­ragem à di­reita: o na­ci­o­na­lismo e a xe­no­fobia de re­corte fas­cista e ne­o­nazi passam a ide­o­logia de Es­tado, ca­vando di­vi­sões ét­nicas, lin­guís­ticas e re­li­gi­osas e co­lo­cando se­ri­a­mente em causa o ca­rácter mul­ti­na­ci­onal do país.

Na sequência do golpe, Ban­dera é glo­ri­fi­cado, o pas­sado so­vié­tico di­a­bo­li­zado e o Par­tido Co­mu­nista per­se­guido. As lín­guas mi­no­ri­tá­rias (como o russo, o hún­garo e o ro­meno) foram for­te­mente li­mi­tadas logo em 2014, se­guindo-se o en­cer­ra­mento de meios de co­mu­ni­cação em língua russa. Já em 2021, com Ze­lenzky na pre­si­dência, entra em vigor a cha­mada «lei dos povos au­tóc­tones», que apenas re­co­nhece di­reitos plenos aos ucra­ni­anos de origem es­can­di­nava.

A rus­so­fobia torna-se pre­texto para todo o tipo de ata­ques às li­ber­dades e di­reitos de­mo­crá­ticos. Dos par­tidos po­lí­ticos proi­bidos após 24 de Fe­ve­reiro deste ano, sob a acu­sação de serem pró-russos, estão forças que con­de­naram a in­ter­venção mi­litar de Mos­covo e que até se or­ga­ni­zaram para de­fender o ter­ri­tório na­ci­onal.

«Es­ca­param» à proi­bição apenas as forças de di­reita e ex­trema-di­reita.

 

Mi­lhares de mer­ce­ná­rios

O go­verno da Kiev re­crutou 6824 mer­ce­ná­rios de 63 países desde o co­meço da in­ter­venção russa na Ucrânia, in­formou no dia 17 o porta-voz do Mi­nis­tério da De­fesa russo, major-ge­neral Ígor Ko­nashénkov.

Por­me­no­rizou que o maior nú­mero, 1717, che­garam da Po­lónia; 1500 dos EUA, Ca­nadá e Ro­ménia; 300 do Reino Unido e 300 da Geórgia; e 193 de zonas da Síria con­tro­ladas pela Tur­quia. A maior parte desses mer­ce­ná­rios foi des­ta­cada para uni­dades ucra­ni­anas que com­batem nas ci­dades de Kiev, Karkóv, Odessa, Ni­ko­láyev e Ma­riúpol. A co­or­de­nação é feita pela sede da cha­mada Le­gião In­ter­na­ci­onal de De­fesa da Ucrânia, na ci­dade de Bila Tserkva.

Se­gundo o ge­neral, o nú­mero de mer­ce­ná­rios tem di­mi­nuído bas­tante em re­sul­tado das hos­ti­li­dades e, neste mo­mento, é de 4877. «As forças ar­madas russas eli­mi­naram 1035 em ope­ra­ções de com­bate e ou­tros 912 mer­ce­ná­rios ne­garam-se a com­bater, tendo fu­gido do país», ex­plicou.

 



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