Às ordens do dono

Os últimos dias tiveram o condão de tornar impossível ignorar o grupo neonazi ucraniano Batalhão Azov. Não que seja o único, mas o Azov assume um lugar de honra no que à infâmia diz respeito, seja pela forma despudurada como assume, da simbologia à prática, a herança da ocupação nazi e das forças colaboracionistas com os horrores perpetrados durante a Segunda Guerra Mundial, mas também pela legitimidade que lhe foi conferida, ao ser acolhido pelas autoridades ucranianas, com a integração nas suas forças armadas e, recentemente, com o presidente Zelensky a passar a palavra a um dos seus elementos perante o Parlamento grego.

O seu carácter vem sendo traçado nos media, incluindo nos principais órgãos de comunicação social nacionais, há anos. Já em 2020 o Público o caracterizava como um viveiro e campo de treino para a extrema-direita europeia. Num texto com poucos dias, o Expresso recolheu uma mão cheia de referências pela imprensa internacional que revelam o carácter daquele grupo. Sim, o Azov é «racista e de extrema-direita», tem ligações «nos círculos da extrema-direita europeia», usam simbologia das SS, escreve o Expresso. Mas tudo isto são desculpas do PCP para «continuar a posicionar-se do lado errado da guerra», prossegue.

O Expresso tenta ainda fazer um exercício que tem sido pródigo na imprensa, insinuando um alinhamento do PCP nas suas posições com a «propaganda de Moscovo». Mas, dias depois, surgiram dois textos ainda mais esclarecedores sobre o tema. Numa artigo assinado por Pedro Cruz (jornalista e responsável editorial no grupo que detém o jornal, a Global Media, e até há pouco enviado à Ucrânia) escrevia, a propósito da sessão da Assembleia da República com a participação do presidente ucraniano, que «tal como noutras alturas da história do século XX», o PCP «aguarda “ordens de Moscovo”». A acusação consabidamente falsa, não sendo nova (como o próprio autor reconhece), é muito grave e, vinda de um jornalista e responsável editorial, exigiria a publicação de elementos que o confirmassem. Como a mentira não é comprovável, resta-lhes insistir neste martelar na esperança que passe a parecer verdade. Na mesma edição do DN surge um outro texto, esse sim mais eloquente, sobre propaganda e sobre «esperar por ordens» de outrem, em que o presidente da Câmara Municipal de Lisboa é saudado pelos seis meses de mandato com um adjectivação generosa: «mudança refrescante», «visão ampla e integradora do valor e contributos de todos», uma «era em que as portas estão abertas». Em resumo: «Carlos Moedas está só a começar.»

Parecia um comunicado do gabinete do autarca lisboeta. Mas não, foi o editorial, assinado pela subdirectora Joana Petiz. O mesmo jornal que levou Moedas como principal orador na sessão do seu último aniversário. O mesmo jornal que é detido por um grupo económico que conta na sua administração com António Saraiva (da CIP) e de onde se demitiram as directoras do JN e do DN por intromissões do presidente em matérias editoriais dos jornais que dirigem.

Afinal, quem está sempre às ordens?



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