Alterações laborais propostas pelo Governo não asseguram dignidade no trabalho
A proposta do Governo que altera a legislação laboral, no âmbito da chamada Agenda do Trabalho Digno, foi aprovada dia 8, na generalidade. Já os quatro diplomas do PCP que visavam revogar graves injustiças no domínio laboral foram travados por PS, PSD, IL, e, um deles, também pelo Chega.
A caducidade da contratação colectiva só beneficia os patrões
O diploma do Governo obteve os votos favoráveis apenas do PS, com a abstenção de BE, Livre, PAN, PSD e Chega. Contra votaram PCP e Iniciativa Liberal.
«Uma das mais audaciosas reformas em matéria de legislação laboral», que «responde às exigências do nosso tempo», foi como a ministra do Trabalho e Segurança Social se referiu aos textos do Governo. Não fez a coisa por menos e assegurou mesmo que cumprem quatro objectivos: o «combate à precariedade», a «valorização dos jovens no mercado de trabalho», a «conciliação de vida familiar e profissional» e a «efectiva dinamização da contratação colectiva».
Ostenta «trabalho digno», mas é só no nome, porque está longe de assegurar dignidade no trabalho», contrapôs a deputada Diana Ferreira, pondo os pontos nos ii e estabelecendo assim logo na fase inicial do debate a verdadeira dimensão do fosso que separa a bancada comunista da proposta do Governo.
E as razões detalhou-as, uma por uma, a parlamentar comunista, apontando logo à cabeça o facto de o Executivo não se comprometer com a valorização geral e urgente dos salários de forma significativa.
A manutenção de todos os cortes nas componentes remuneratórias e nos direitos, impostos aos trabalhadores em anteriores alterações à legislação, é outro ponto nevrálgico que marca muito negativamente a iniciativa do Governo. Diana Ferreira referiu-se em concreto a questões como a caducidade da contratação colectiva, o trabalho suplementar e os despedimentos, onde se verificou inclusivamente um recuo relativamente a compromissos assumidos, incluindo na questão das plataformas digitais.
Direitos fragilizados
Já no que toca à precariedade, não foi a promessa de Ana Mendes Godinho de lhe mover um «combate sem tréguas» que convenceu Diana Ferreira, que lembrou a este propósito que o Governo «não apresenta medidas concretas», não assume a erradicação deste flagelo como desígnio, «mantém o período experimental e legitima outras formas de precariedade».
A deputada do PCP fez ainda uma crítica severa ao facto de o Governo «introduzir elementos que limitam o exercício da liberdade sindical».
«A senhora ministra falou dos jovens, mas o que esta proposta apresenta aos jovens é uma realidade de baixos salários e precariedade», sublinhou a deputada comunista, pondo em evidência, em síntese, o que verdadeiramente significa a iniciativa legislativa do Governo.
E sobretudo a quem serve. Basta lembrar, aliás, as expressões de regozijo manifestadas pelas associações patronais com a obtenção da maioria absoluta do PS. É que, observou Diana Ferreira, «sabiam que esta maioria absoluta não beliscaria nenhum dos seus interesses e, pelo contrário, aprofundaria um caminho de fragilização dos direitos laborais».
Diplomas do BE, Livre e PAN sobre matéria laboral, que estiveram igualmente em discussão, baixaram sem votação à comissão a pedido dos seus autores.
PS mantém cortes nos direitos
Valorizar os salários defendendo a contratação colectiva e os direitos que esta consagra; pôr fim à caducidade da contratação colectiva e repor o princípio do tratamento mais favorável ao trabalhador (travando assim a possibilidade existente de serem negociadas normas inferiores à Lei); repor remunerações e direitos cortados pelo Governo PSD/CDS e que o PS até hoje se recusa a alterar na legislação laboral, nomeadamente dos montantes e regras de cálculo do pagamento do trabalho extraordinário, trabalho suplementar e em dia feriado ou em dia de descanso semanal; eliminação dos instrumentos que promovem a desregulação dos horários de trabalho, revogando em concreto todos os mecanismos de adaptabilidades e bancos de horas, ou seja, «acabar com o tempo de trabalho que são borlas para o patrão». Foram estas as propostas que o PCP levou a debate no Parlamento e que a bancada do PS rejeitou liminarmente.
Propostas que reforçam salários, reforçam direitos, respondendo a necessidades sentidas quotidianamente pelos trabalhadores nos seus locais de trabalho.
«Este é o caminho que garante a dignidade no trabalho», asseverou Diana Ferreira, não acreditando que tal objectivo possa ser minimamente alcançado por via da proposta de lei do Governo. É que esta mantém cortes nas remunerações e nos direitos, mantém instrumentos na legislação laboral que legitimam a precariedade, não assume a valorização geral dos salários. Em suma, significa retrocessos significativos nos direitos laborais e sociais dos trabalhadores.