Barro Preto de Bisalhães mostra-se no Espaço Central

Inscrito pela UNESCO na lista de Património Cultural Imaterial que Necessita de Salvaguarda Urgente, o processo de fabrico do Barro Preto de Bisalhães remonta pelo menos ao século XVI, havendo porém indícios que o situam muito mais atrás na História. Na Festa, esta arte estará em destaque no Espaço Central.

A cor do barro deve-se à atmosfera em que é produzido, com pouco oxigénio e muito carbono

Duarte Carvalho

Na vertente Sul da Serra do Alvão, sob a influência de um imponente maciço montanhoso onde se inclui a Serra do Marão, encontra-se a aldeia de Bisalhães. As primeiras referências à olaria naquela região remontam à primeira metade do século XVI, mas é possível, até provável, que seja muito anterior. Há, aliás, indícios arqueológicos que apontam nesse sentido.

O engenho humano tem origem nas necessidades que surgem em cada estádio de desenvolvimento da sociedade. O armazenamento e preparação dos alimentos é, porventura, uma das mais importantes – e ancestrais. Daí que é natural que a produção cerâmica figure entre as mais antigas manifestações dessa criatividade.

Da mesma forma que é também natural que os primeiros barros, consolidados pela acção do fogo, tenham sido cozidos em fornos talhados na terra, em atmosferas com pouco oxigénio e muito carbono, daí resultando uma distintiva cor preta.

A característica notável – surpreendente, até – da Louça Preta de Bisalhães reside na capacidade de adaptação dos homens, mulheres e crianças, que sempre colaboraram na sua confecção e que mantiveram o uso de primitivos processos de fabrico. Em Bisalhães, o barro é preparado à mão, penosamente. É trabalhado numa roda baixa, cozido em forno rudimentar e decorado com recurso a utensílios da maior simplicidade.

Duarte Carvalho

Passado, presente e que futuro?

Entre o final do século XIX e o início do século XX, Bisalhães era apenas um de entre os mais de 70 centros oláricos existentes no País. A sua louça preta era destinada aos usos domésticos comuns e utilizada em muitas das casas daquela região.

No entanto, com o surgimento do plástico e do metal, a louça utilitária começou a cair em desuso e as famílias dos oleiros foram-se especializando em louça «fina», com fins decorativos. Muitos procuraram então alternativas que os poupassem àquela vida.

Hoje, restam cinco oleiros com alguma actividade nesta arte e o processo de fabrico da Louça Preta de Bisalhães está de tal modo ameaçado que foi inscrito pela UNESCO na Lista do Património Cultural Imaterial que Necessita de Salvaguarda Urgente.

É sobre esta realidade que a exposição se desenvolve: a origem deste património, a evolução ao longo dos tempos, as técnicas, os obreiros. Nela poderá encontrar-se uma determinada maneira de sentir o passado, viver o presente e de projectar o futuro, que está presente em artesanato como a Louça Preta de Bisalhães, que se afirma, em oposição antagónica, quer ao desprezo pela cultura popular quer às tentativas espúrias de aproveitamento da sua importância cultural, social e económica.

A mostra é, também, uma homenagem aos homens e mulheres criadores deste pedaço da cultura popular portuguesa, marcado, como sempre, pela luta pela sobrevivência.

 



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