Centenário de Saramago assinalado com livro sobre a sua vida e obra

José Sa­ra­mago, um es­critor com o seu povo, assim se chama o livro que as Edi­ções Avante! acabam de editar in­se­rido no pro­grama de co­me­mo­ra­ções do cen­te­nário de José Sa­ra­mago pro­mo­vido pelo PCP e que teve o seu lan­ça­mento em sessão pú­blica, dia 25, na Feira do Livro de Lisboa.

A obra de Sa­ra­mago dá voz a aos tra­ba­lha­dores e ex­plo­rados

A apre­sen­tação desta obra com a chan­cela das Edi­ções Avante! cons­ti­tuiu-se como um acon­te­ci­mento cul­tural de enorme re­le­vância a ditar que, logo no pri­meiro dia da 92.ª edição da feira e pouco após a sua aber­tura, o cen­te­nário do nas­ci­mento de José Sa­ra­mago, uma das mai­ores fi­guras da li­te­ra­tura por­tu­guesa, ti­vesse sido con­dig­na­mente as­si­na­lado e não ti­vesse pas­sado à margem do cer­tame.

E foram muitas as pre­senças, in­cluindo de en­ti­dades con­vi­dadas (como foi o caso da Fun­dação José Sa­ra­mago»), que pre­en­cheram a to­ta­li­dade das ca­deiras do «palco azul», ins­ta­lado entre as bancas er­guidas em pleno parque Edu­ardo VII. A que se jun­taram todos aqueles que, nas mo­vi­men­tadas ruas la­te­rais e mo­vidos por cu­ri­o­si­dade e in­te­resse, aca­baram por se quedar e ouvir o que ti­nham para dizer os três mem­bros da mesa: Rui Mota, da Edi­to­rial Avante!, que di­rigiu a sessão, Ma­nuel Ro­dri­gues, da Co­missão Po­lí­tica e di­rector do Avante!, e o es­critor Mo­desto Na­varro.

E foi por esta ordem que os três in­ter­vi­eram abor­dando ele­mentos e as­pectos – al­guns de forma por­me­no­ri­zada e acom­pa­nhados até pela re­ve­lação de his­tó­rias e si­tu­a­ções nunca antes vindas a pú­blico – que ajudam não só ao co­nhe­ci­mento como à com­pre­ensão das vá­rias di­men­sões do homem, do in­te­lec­tual de Abril e mi­li­tante co­mu­nista, do es­critor e da sua obra li­te­rária cons­truída a partir de uma re­lação in­de­lével com o povo e que atingiu a uni­ver­sa­li­dade.

Pen­sa­mento e acção

Uma re­a­li­dade que o livro agora dado à es­tampa pelas Edi­ções Avante!, en­qua­drável nas co­me­mo­ra­ções do cen­te­nário de Sa­ra­mago pro­mo­vidas pelo PCP, ajuda a me­lhor co­nhecer e di­vulgar le­vando mais longe e a um pú­blico cada vez amplo in­for­mação sobre o que foi o pen­sa­mento, acção e obra da­quele que é um dos mai­ores es­cri­tores de língua por­tu­guesa, prémio Nobel da Li­te­ra­tura.

Trata-se, como su­bli­nhou Ma­nuel Ro­dri­gues alu­dindo às ra­zões do vasto pro­grama de co­me­mo­ra­ções or­ga­ni­zado PCP - no qual se in­sere a pre­sente edição de José Sa­ra­mago, um es­critor com o seu povo -, de «dar a co­nhecer a di­mensão po­lí­tica da sua vida, a in­ter­venção de um homem pre­o­cu­pado com os pro­blemas da si­tu­ação na­ci­onal e in­ter­na­ci­onal do seu tempo, sen­sível ao so­fri­mento hu­mano dos ex­plo­rados e opri­midos, e sempre dis­posto a co­locar o seu no­tável en­genho e arte ao ser­viço da trans­for­mação so­cial de Por­tugal e do mundo».

Antes, ao falar da es­tru­tura do livro, suas com­po­nentes e co­la­bo­ra­dores, Rui Mota dei­xara já pas­sa­gens do que nele po­demos en­con­trar e que são re­ve­la­doras do pen­sa­mento do nosso Nobel e de como ele nos con­voca e de­safia.

É o caso, exem­pli­ficou, quando Sa­ra­mago afirma: «É pois ne­ces­sário que o leitor se trans­forme em es­pec­tador, saia duma pas­si­vi­dade que é his­tó­rica, e aplauda ou pa­teie, reaja enfim como o faz no te­atro, no con­certo, na ga­leria de ex­po­sição, no ci­nema. Tem de co­meçar a ouvir-se a voz do leitor, para que a bi­tola deixe de ser apenas o nú­mero de exem­plares ven­didos, o lucro ou o pre­juízo do editor, a com­pen­sação ma­te­rial do autor.»

Es­critor uni­versal

A an­te­ceder o be­lís­simo mo­mento final de po­esia pro­ta­go­ni­zado por Ma­nuel Diogo e Do­mingos Lobo, a partir de um poema deste úl­timo de­di­cado a Sa­ra­mago, foi a vez de Mo­desto Na­varro - que o co­nheceu em 1968 e com ele viveu e par­ti­lhou muitos mo­mentos quer de vida li­te­rária quer da luta de re­sis­tência contra o fas­cismo – traçar de forma sin­té­tica, mas sem perder a ri­queza do de­talhe, o per­curso de vida, nas suas múl­ti­plas fa­cetas, do «mi­li­tante co­mu­nista e ca­ma­rada para sempre», como su­ges­ti­va­mente ti­tulou a sua in­ter­venção. Um per­curso de onde so­bressai o seu papel no «apoio aos mais novos que sempre o ca­rac­te­rizou», o seu con­tri­buto e par­ti­ci­pação na Opo­sição De­mo­crá­tica e no tra­balho uni­tário junto dos in­te­lec­tuais e ou­tros tra­ba­lha­dores no de­sen­vol­vi­mento de ac­ções contra o fas­cismo e a guerra co­lo­nial. Pos­te­ri­or­mente, com a Re­vo­lução do 25 de Abril, Sa­ra­mago foi o in­te­lec­tual e mi­li­tante co­mu­nista que nela em­pe­nha­da­mente se en­volveu para que se «de­sen­vol­vesse no pro­gresso e na in­de­pen­dência do nosso País», as­si­nalou Mo­desto Na­varro, lem­brando que a mesma de­ter­mi­nação e em­penho foi por ele posta na de­fesa da Re­vo­lução e contra os que a ata­cavam e «às na­ci­o­na­li­za­ções, à re­forma agrária, à li­ber­dade e a todas as con­quistas er­guidas pelo povo por­tu­guês, com os mi­li­tares re­vo­lu­ci­o­ná­rios e co­e­rentes».

«Re­vo­lu­ci­o­nário e es­critor uni­versal, José Sa­ra­mago foi sempre o ca­ma­rada das lutas e dos com­bates no nosso País e so­li­dário com os tra­ba­lha­dores em todo o mundo, na acção po­lí­tica e cul­tural, na es­crita ino­va­dora e de­ci­siva, na me­mória bem pre­sente desse me­nino que veio de Azi­nhaga, no Ri­ba­tejo, para Lisboa, com dois anos de idade, e que honrou o ca­minho maior de ser um in­te­lec­tual de Abril e mi­li­tantes co­mu­nista», sin­te­tizou o es­critor du­rante largos anos eleito pela CDU na As­sem­bleia Mu­ni­cipal de Lisboa, que, num olhar de re­lance à obra do autor de Le­van­tado Chão, afirmou que «ele veio co­locar a re­a­li­dade e o sonho, a von­tade imensa de inovar e aprender em ní­veis de qua­li­dade inol­vi­dá­veis e de­ci­sivos para o fu­turo do ro­mance e da li­te­ra­tura entre nós e no mundo».

É de toda esta mul­ti­fa­ce­tada re­a­li­dade que nos fala José Sa­ra­mago, um es­critor com o seu povo. Daí a im­por­tância e o con­tri­buto que esta obra, de 266 pá­ginas, dá para me­lhor fi­carmos a co­nhecer aquele que em 8 de Ou­tubro de 2008, numa ini­ci­a­tiva do PCP no Centro de Tra­balho Vi­tória para as­si­nalar o 10.º ani­ver­sário da atri­buição do Prémio Nobel da Li­te­ra­tura, afirmou que tinha dei­xado «es­crito muito claro, muito cla­ra­mente, que se para ga­nhar o prémio Nobel era ne­ces­sário aban­donar as mi­nhas con­vic­ções po­lí­ticas e ide­o­ló­gicas, pois, não valia a pena, porque eu não aban­do­naria».




Mais artigos de: PCP

Ano lectivo arranca com medidas avulsas

A duas se­manas do início do ano lec­tivo «al­guns as­pectos do fun­ci­o­na­mento das es­colas ainda não estão de­vi­da­mente es­cla­re­cidos» e ou­tros «nem se­quer são co­nhe­cidos», acusa o PCP.

Não se defende o SNS servindo o sector privado

Numa de­cla­ração pro­fe­rida no dia 25 por Ber­nar­dino So­ares, do Co­mité Cen­tral, o PCP in­sistiu num con­junto de me­didas es­sen­ciais para de­fender e re­cu­perar o SNS, re­a­fir­madas dias de­pois, na sequência da de­missão da mi­nistra da Saúde, Marta Te­mido.

Fixar preços máximos no gás e na electricidade

O es­ta­be­le­ci­mento de preços má­ximos para o gás e a elec­tri­ci­dade é ab­so­lu­ta­mente in­dis­pen­sável para travar e in­verter a es­ca­lada de preços, ga­rante o PCP, que de­fende o IVA a 6 por cento e a ta­xação ex­tra­or­di­nária de lu­cros es­pe­cu­la­tivos.

Nos Açores, verão e sol não são para todos

Num comunicado recente, a Direcção da Organização da Região Autónoma dos Açores do PCP denuncia o agravamento da situação social no arquipélago, ao mesmo tempo que crescem os lucros dos maiores grupos económicos. Em causa estão, desde logo no sector do turismo, «desregulação dos horários, desrespeito pelos dias de...

Direitos e estabilidade nas Forças Armadas, defende o PCP

O PCP está preocupado com o recente anúncio da abertura do concurso para a categoria de Praça em Regime de Contrato Especial no Exército, com duração de 14 anos. Num comunicado do seu Gabinete de Imprensa, emitido no dia 24, o Partido questiona as razões pelas quais não foram abertas as vagas para o quadro permanente,...

«O Militante» com toda a actualidade

O lema «Tomar a iniciativa, reforçar o Partido, responder às novas exigências», da Conferência Nacional que o PCP vai realizar nos dias 12 e 13 de Novembro, no concelho do Seixal, abre o número 380 da Revista «O Militante», que hoje sai. No seu interior pode encontrar artigos de grande...

Solidariedade do PCP

O Sindicato Nacional dos Trabalhadores dos Correios e Telecomunicações está a promover até meados de Setembro acções de contacto e denúncia nas capitais de distrito, sobre a grave situação nos CTT. Ontem, 31, uma delegação do PCP esteve presente na iniciativa realizada em Coimbra, prestando solidariedade com aqueles que...

Construir a Festa, afirmar o Partido

A Festa do Avante!, que arranca já amanhã, está pronta para receber os milhares de visitantes que por lá passarão. Para a erguer, foram muitos os militantes e amigos, de todas as idades, de todo o País, novatos ou mais experientes, que despenderam a sua energia, esforço e tempo. Só assim,...