Tiago Alves Ferreira, do Partido Comunista do Brasil

Está em construção uma frente ampla para garantir a vitória de Lula da Silva

A poucos dias das elei­ções bra­si­leiras, o Par­tido Co­mu­nista do Brasil (PCdoB) em­penha-se na vi­tória de Lula da Silva, para de­fender a de­mo­cracia e re­cu­perar di­reitos re­ti­rados nos úl­timos anos. Para Tiago Alves Fer­reira, di­ri­gente do PCdoB em Belo Ho­ri­zonte e da União da Ju­ven­tude So­ci­a­lista, en­tre­vis­tado du­rante a a Festa do Avante!, este re­sul­tado abrirá um novo ciclo, de com­bate às de­si­gual­dades e às in­jus­tiças.

A vi­tória de Lula abrirá um novo ciclo, de com­bate às de­si­gual­dades e de re­po­sição dos di­reitos re­ti­rados

 

Que ba­lanço faz o PCdoB da go­ver­nação de Bol­so­naro?

O go­verno de Bol­so­naro ca­rac­te­riza-se por ser de ex­trema-di­reita, ul­tra­li­beral do ponto de vista eco­nó­mico e ex­tre­ma­mente con­ser­vador. Re­tirou di­reitos aos tra­ba­lha­dores, pro­moveu o ar­ma­mento junto da po­pu­lação e de­sen­ca­deou uma cam­panha de ódio contra in­dí­genas, ne­gros, mu­lheres, pes­soas LGBTQI...

Este am­bi­ente de ódio e po­la­ri­zação que o Brasil vive já pro­vocou mortes: em 2018 Ma­ri­elle Franco foi as­sas­si­nada, um crime ainda não so­lu­ci­o­nado sobre o qual há fortes in­dí­cios de li­gação com a fa­mília Bol­so­naro; mais re­cen­te­mente, um di­ri­gente do PT foi morto na sua festa de ani­ver­sário, à frente da fa­mília. E há os «anó­nimos», mem­bros do Mo­vi­mento dos Tra­ba­lha­dores Ru­rais Sem Terra, in­dí­genas e ri­bei­ri­nhos [que vivem junto ao Ama­zonas].

Este é o go­verno do des­ma­ta­mento, da re­ti­rada de di­reitos, do pre­con­ceito e da morte.

 

Como se chegou até aqui, após anos de go­vernos in­te­grados por forças pro­gres­sistas?

O ca­minho que levou à eleição de Bol­so­naro co­meçou a ser tri­lhado em 2013, du­rante a crise eco­nó­mica mun­dial, que teve forte im­pacto no Brasil. Operou-se então uma ar­ti­cu­lação da di­reita no sen­tido de de­ses­ta­bi­lizar o go­verno de Dilma Rous­seff, que cul­minou no im­pe­a­ch­ment [des­ti­tuição], con­su­mado pelo Con­gresso Na­ci­onal e o Su­premo Tri­bunal.

É nesse mo­mento que a grande bur­guesia na­ci­onal as­sume esse pro­jecto de des­truição do que foi cons­truído ao longo de 10 anos, es­ta­be­le­cendo um pacto com uma fi­gura inex­pres­siva até ao mo­mento [Bol­so­naro era de­pu­tado há 27 anos] e com os sec­tores mais con­ser­va­dores da so­ci­e­dade bra­si­leira, como os ne­o­pen­te­cos­tais da igreja evan­gé­lica. O ob­jec­tivo era pro­duzir um can­di­dato que pu­desse der­rotar o PT e as forças de es­querda.

 

O PCdoB in­tegra uma vez mais a frente que apoia Lula da Silva como can­di­dato à pre­si­dência do Brasil...

O PCdoB está com Lula desde 1989 e nas úl­timas elei­ções, em que per­demos na se­gunda volta para Bol­so­naro, a can­di­data a vice-pre­si­dente de Fer­nando Haddad [do PT] foi a Ma­nuela D’Ávila, do PCdoB.

Para estas elei­ções, em função das al­te­ra­ções ao sis­tema elei­toral, for­mámos uma fe­de­ração com o PT e os Verdes, que se chama Brasil da Es­pe­rança e tem um pro­grama pró­prio com as bases mí­nimas para a re­cons­trução do país. Mas está em curso um pro­cesso vi­sando a cons­trução de uma frente mais ampla, que tem no PCdoB o seu grande ar­ti­cu­lador: a co­li­gação que su­porta a can­di­da­tura de Lula en­volve todos os par­tidos da es­querda bra­si­leira e al­guns do centro: o Ge­raldo Alkmin, que já con­correu contra o Lula numa eleição an­te­rior, é hoje o seu can­di­dato a vice-pre­si­dente.

 

O que une todas essas forças? Qual o pro­grama mí­nimo?

O res­ta­be­le­ci­mento de um am­bi­ente de­mo­crá­tico, de diá­logo, a busca de di­reitos re­ti­rados, o com­bate ao ódio. A de­mo­cracia é o centro da frente ampla.

 

As pers­pec­tivas são fa­vo­rá­veis?

A nossa ex­pec­ta­tiva é que Lula vença. Hoje li­dera em todas as son­da­gens, em todas as re­giões e em todos os es­tratos so­ciais, so­bre­tudo nos mais po­bres. E seria con­ve­ni­ente que ven­cesse logo na pri­meira volta, para que Bol­so­naro ti­vesse menos tempo para pensar em al­guma in­sa­ni­dade, como um golpe.

Mas para pro­mover essa vi­ragem temos de ir para a rua, para as fa­velas, para as co­mu­ni­dades, para as fá­bricas, para as uni­ver­si­dades. E temos o de­safio de a pro­mover também entre os bra­si­leiros que vivem em Por­tugal.

A vi­tória de Lula é im­por­tante para a re­con­quista da de­mo­cracia e para uma nova mul­ti­po­la­ri­dade no mundo: o Brasil é um país com 200 mi­lhões de ha­bi­tantes, é uma das mai­ores eco­no­mias do mundo, pelo que essa vi­tória teria um im­pacto global do ponto de vista da cor­re­lação de forças.

 

No dia 2 elege-se também o Se­nado, o Con­gresso, os go­vernos es­ta­duais. Que ex­pec­ta­tivas tem o PCdoB?

As úl­timas elei­ções foram muito di­fí­ceis, com o an­ti­pê­tismo e o an­ti­co­mu­nismo muito ati­çados, e nesse sen­tido estas serão um pouco me­lhores. Es­pe­ramos am­pliar um pouco a ban­cada no Con­gresso, para romper a cláu­sula de bar­reira, que impõe um pa­tamar a partir do qual são ga­ran­tidos os di­reitos dos par­tidos po­lí­ticos (fi­nan­ci­a­mento pú­blico, tempo de an­tena, etc.). De um modo mais geral, penso que a co­li­gação con­quis­tará uma mai­oria, que será sempre frágil, dada a he­te­ro­ge­nei­dade das forças que a com­põem. Mas a der­rota de Bol­so­naro será, só por si, um grande avanço para o Brasil.

E, no nosso en­tender, as elei­ções não en­cer­rarão um ciclo, antes abrirão outro, de acu­mu­lação de forças so­ciais para que, aí sim, se con­siga pres­si­onar o go­verno e o par­la­mento no sen­tido de ca­mi­nhar rumo a uma so­ci­e­dade mais igua­li­tária, de maior to­le­rância, com mais di­reitos so­ciais. Vai passar pela luta.




Mais artigos de: Temas

Mentiras de guerra

Se hi­po­crisia e men­tira pa­gassem im­posto, os dis­cursos dos di­ri­gentes dos EUA, UE e Reino Unido na re­cente As­sem­bleia Geral da ONU res­ga­ta­riam as suas co­los­sais dí­vidas pú­blicas. É es­pan­toso como os res­pon­sá­veis por pra­ti­ca­mente todas as guerras e agres­sões das três dé­cadas an­te­ri­ores (para não re­cuar mais) se apre­sentam qual vir­gens im­po­lutas, cla­mando por di­reitos, pela Carta da ONU e pela so­be­rania dos povos, que todos os dias es­magam com as suas ac­ções.

Envelhecer com qualidade de vida e dignidade – um direito Constitucional

A pro­pó­sito do Dia In­ter­na­ci­onal do Idoso, será útil re­vi­sitar a Cons­ti­tuição da Re­pú­blica Por­tu­guesa, que no seu art.º 72 re­fere: «1. As pes­soas idosas têm di­reito à se­gu­rança eco­nó­mica e a con­di­ções de ha­bi­tação e con­vívio fa­mi­liar e co­mu­ni­tário que res­peitem a sua au­to­nomia pes­soal e evitem e su­perem o iso­la­mento ou a mar­gi­na­li­zação so­cial. 2. A po­lí­tica de ter­ceira idade en­globa me­didas de ca­ráter eco­nó­mico, so­cial e cul­tural ten­dentes a pro­por­ci­onar às pes­soas idosas opor­tu­ni­dades de re­a­li­zação pes­soal, através de uma par­ti­ci­pação ativa na vida da co­mu­ni­dade.»