Problemas persistem na Educação sem que o Governo lhes dê resposta

O PCP voltou a alertar para a falta de pro­fes­sores, di­zendo que se con­firma o «ce­nário de agra­va­mento» do pro­blema, e cri­tica o Go­verno por não adoptar as me­didas ne­ces­sá­rias para atrair e fixar do­centes onde estes fazem falta.

Mantém-se o ce­nário de agra­va­mento da falta de pro­fes­sores

«Um mês após o início do ano es­colar, mais de 38 mil alunos con­ti­nuam sem pro­fessor a pelo menos uma dis­ci­plina», re­velou, no Par­la­mento, o de­pu­tado co­mu­nista Al­fredo Maia ao in­tervir, dia 14, num de­bate sobre po­lí­tica sec­to­rial com o mi­nistro da Edu­cação.

A com­provar as ra­zões de pre­o­cu­pação do PCP, que ainda muito re­cen­te­mente viu in­vi­a­bi­li­zadas por PS e PSD pro­postas suas para apoiar pro­fes­sores e téc­nicos es­pe­ci­a­li­zados des­lo­cados, estão os dados re­la­tivos à apo­sen­tação de pro­fes­sores e que o de­pu­tado co­mu­nista fez questão de lem­brar ao ti­tular da pasta da Edu­cação.

«Até ao final deste mês, 1902 do­centes de­verão apo­sentar-se; em No­vembro serão mais 205, o que to­ta­liza 2107 novos apo­sen­tados. Se em De­zembro saírem na ordem das duas cen­tenas, neste ano apo­sentar-se-ão mais de 2300 pro­fes­sores – o maior nú­mero de­pois do ano de 2013, quando dei­xaram a ac­ti­vi­dade 4628», in­formou Al­fredo Maia, es­ti­mando que no pró­ximo ano o nú­mero possa «ul­tra­passar os três mil».

Este pro­blema não me­receu ne­nhum co­men­tário do res­pon­sável pela Edu­cação. Já sobre a questão da atrac­ti­vi­dade de «pro­fes­sores nos ter­ri­tó­rios mais ca­ren­ci­ados», re­a­firmou o com­pro­misso de que, «quando não existam can­di­datos para ho­rá­rios in­com­pletos», ha­verá a ma­jo­ração desses ho­rá­rios «para ho­rá­rios com­pletos». Ma­jo­ração que in­clui as «re­giões de Lisboa e o Al­garve» e os «grupos de re­cru­ta­mento com mai­ores di­fi­cul­dades de co­lo­cação», adi­antou ainda João Costa.

Res­peitar di­reitos

Na sua pri­meira in­ter­venção o par­la­mentar do PCP abordou também a co­lo­cação de três mil pro­fes­sores com do­ença in­ca­pa­ci­tante ou por­ta­dores de de­fi­ci­ência que se en­con­travam em re­gime de mo­bi­li­dade por do­ença. Este é um pro­blema que «con­tinua sem so­lução», e por isso Al­fredo Maia de­sa­fiou o go­ver­nante a es­cla­recer «quando vão ser res­pei­tados os di­reitos à saúde e ao tra­balho» da­queles do­centes.

In­tro­du­zida no de­bate foi também a questão das car­reiras e re­tri­bui­ções, que con­ti­nuam a não ser atrac­tivas, e o mesmo se pode dizer das con­di­ções de tra­balho. O que levou o de­pu­tado do PCP a per­guntar, de­pois de alertar para a «in­su­fi­ci­ente» for­mação de pro­fes­sores (in­gres­saram na for­mação cerca de me­tade dos que se apo­sen­tarão este ano), «para quando a vin­cu­lação ex­tra­or­di­nária de todos os do­centes com três ou mais anos de ser­viço», «para quando a al­te­ração da norma travão no sen­tido do in­gresso nos qua­dros» e «para quando o res­peito pelo ho­rário de tra­balho dos pro­fes­sores, cla­ri­fi­cando-se o que é com­po­nente não lec­tiva».

O mi­nistro foi eva­sivo na res­posta, re­me­tendo a questão das car­reiras para o Or­ça­mento do Es­tado com a afir­mação de que «há o com­pro­misso do pro­cesso ne­go­cial sobre o re­cru­ta­mento e co­lo­cação de pro­fes­sores co­meçar por uma afe­rição ri­go­rosa das ne­ces­si­dades per­ma­nentes do sis­tema, para ter mais vin­cu­lação di­recta em qua­dros de es­cola sem passar por qua­dros de zona pe­da­gó­gica».

Já sobre as di­fi­cul­dades exis­tentes na re­cu­pe­ração de apren­di­za­gens, questão que no en­tender de Al­fredo Maia torna in­dis­pen­sável «ouvir quem está nas es­colas», tal como impõe a re­dução do nú­mero de alunos por turma, João Costa nada adi­antou.

Apoiar alunos e fa­mí­lias

A cri­ação da car­reira pró­pria de psi­có­logo es­colar (ob­jec­tivo que levou já, aliás, o PCP a apre­sentar um pro­jecto de lei, onde prevê o con­teúdo fun­ci­onal), a par da re­so­lução da pre­ca­ri­e­dade dos téc­nicos es­pe­ci­a­li­zados (in­cluindo psi­có­logos e as­sis­tentes so­ciais), ga­ran­tindo a sua vin­cu­lação e in­te­grando-os em car­reiras ade­quadas, foram duas ou­tras ma­té­rias a que o de­pu­tado do PCP deu grande vi­si­bi­li­dade ao in­tervir neste de­bate.

Uma re­fe­rência par­ti­cular foi dada à re­so­lução dos pro­blemas que afectam os es­tu­dantes e as fa­mí­lias, com Al­fredo Maia a su­bli­nhar a ne­ces­si­dade do re­forço da acção so­cial, bem como da ex­tensão da gra­tui­ti­dade, as­se­gu­rada que foi já aos ma­nuais es­co­lares por acção do PCP, a ou­tros ma­te­riais, como os cha­mados li­vros de ficha de exer­cí­cios.

O de­pu­tado co­mu­nista pôs ainda o acento tó­nico na ne­ces­si­dade de ga­rantir apoios a todas as cri­anças com ne­ces­si­dades edu­ca­tivas es­pe­cí­ficas, o que pres­supõe a con­tra­tação de pro­fis­si­o­nais e a aqui­sição de re­cursos di­dác­ticos para o efeito.

Al­fredo Maia de­mons­trou ainda como é im­pres­cin­dível efec­tivar a Edu­cação Fí­sica no 1.º Ciclo e criar um pro­grama na­ci­onal de tempos li­vres.

Des­cen­tra­li­zação não ga­rante igual­dade

À margem do de­bate não passou a ne­ces­si­dade de rever os rá­cios de au­xi­li­ares de acção edu­ca­tiva e as­sis­tentes téc­nicos. A questão é também en­ca­rada com pre­o­cu­pação pela ban­cada co­mu­nista e levou Al­fredo Maia a afirmar que a «falta de pes­soal em muitas es­colas, ou o re­curso a em­presas de tra­balho tem­po­rário, con­firma, entre ou­tros, os efeitos ne­ga­tivos da trans­fe­rência de en­cargos para as au­tar­quias, es­pe­ci­al­mente de cri­ação de de­si­gual­dades».

Trans­fe­rência de res­pon­sa­bi­li­dade para os mu­ni­cí­pios que o Go­verno quer ver es­ten­dida à in­te­gração dos téc­nicos es­pe­ci­a­li­zados, como o pró­prio mi­nistro da Edu­cação con­firmou: «no acordo com a As­so­ci­ação Na­ci­onal de Mu­ni­cí­pios Por­tu­gueses existe um olhar para estes tra­ba­lha­dores e é neste con­texto que es­tamos a ini­ciar um tra­balho para a vin­cu­lação e es­ta­bi­li­zação dos téc­nicos es­pe­ci­a­li­zados».

Na ré­plica, o de­pu­tado co­mu­nista ma­ni­festou a «clara opo­sição» da sua ban­cada à pre­tensão do Go­verno, su­bli­nhando que o faz em co­e­rência com as po­si­ções que sempre teve re­la­ti­va­mente à «mal-cha­mada des­cen­tra­li­zação de com­pe­tên­cias para as au­tar­quias». É que em áreas como a Edu­cação, a Saúde e ou­tras, ob­servou, a res­pon­sa­bi­li­dade só pode ser do Es­tado, da Ad­mi­nis­tração Cen­tral, pois só estes ga­rantem a «igual­dade e a co­esão so­cial e ter­ri­to­rial»




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