Uma derrota intercalada

António Santos

O mérito de cada vitória do Partido Republicano – e por extensão, de Trump – nas eleições intercalares estado-unidenses é património exclusivo do Partido Democrata. A única vantagem de Biden em relação a Trump consiste em não se chamar Trump, pelo que, em vez de tomar medidas para enfrentar a maior escalada do custo de vida dos últimos 30 anos, os democratas passaram a campanha a amedrontar o eleitorado enfunando as pulsões fascistas do adversário. O problema é que não basta não ser fascista para derrotar o fascismo, sobretudo onde a única alternativa eleitoral à inépcia dos liberais de turno é o alegado fascismo. A mensagem do povo estado-unidense é clara: «nós não comemos democracia, não enchemos o depósito com tolerância nem pagamos as compras com bandeiras ucranianas.»

À hora da redacção deste artigo, é já claro que pelo menos a Câmara dos Representantes ficará sob controlo republicano que, sob o domínio de Trump, tornará agora ainda mais ineficaz a já impotente administração Biden, preparando terreno para a revanche nas presidenciais de 2024 e obrigando a reajustes imediatos na política externa dos EUA. Os primeiros sintomas sentir-se-ão na martirizada Ucrânia, onde passará a chegar menos dinheiro e armamento, conforme a vontade dos republicanos MAGA recém-mandatados. Ao contrário dos democratas, os republicanos cedo compreenderam que, em vez de exigir mais sacrifícios ao próprio povo para alimentar a guerra, é mais popular a ideia de pedi-los principalmente aos súbditos europeus.

Num país em que o proletariado não tem expressão organizada, a luta de classes manifesta-se, se bem que de forma distorcida, na competição entre os dois partidos da grande burguesia. Num momento em que a maioria da classe capitalista está com Biden, a ascensão de Trump reflecte a volatilidade da crise do sistema, o crescimento do descontentamento popular e a urgência de um «plano B» para o declínio do império – a senilidade de Biden é a melhor personificação desse declínio. Hoje, como ontem, a social-democracia, mais ou menos liberal, continua a abrir os portões da civilização à horda da barbárie, mais ou menos fascista.




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