Bloqueio dos EUA a Cuba rejeitado nas Nações Unidas por 185 países
A Assembleia Geral da ONU aprovou, pela 30.ª vez desde 1992, uma resolução que exige o levantamento do bloqueio norte-americano contra Cuba. O texto foi apoiado por 185 países e apenas os EUA e Israel votaram contra. Brasil e Ucrânia abstiveram-se.
Apenas EUA e Israel votaram contra resolução reclamando o fim do bloqueio
O projecto de resolução «Necessidade de pôr fim ao bloqueio económico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América a Cuba» foi aprovado, no dia 3, com 185 votos a favor. Foi a 30.ª vez, desde 1992, que um texto deste tipo foi aprovado pela a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas.
A resolução contra o criminoso e ilegal bloqueio que persiste desde há mais de 60 anos contra a Cuba e o seu povo obteve dois votos contra (dos EUA e de Israel) e duas abstenções (do Brasil e da Ucrânia). Em 2021, numa votação similar, 184 países votaram a favor, dois contra e três abstiveram-se.
No documento, Cuba assinala que, a preços correntes, os prejuízos acumulados em mais de seis décadas atingiram os 154.217 milhões de dólares, com grande impacto em sectores vitais como a saúde e a educação, além da economia e a qualidade de vida dos cubanos. «Trinta anos volvidos desde que a Assembleia Geral da ONU começou a pedir, em cada ano, o fim dessa política, tipificada como um acto de genocídio, que tem o efeito de uma pandemia permanente, de um furacão constante», o bloqueio voltou a ser rejeitado de forma universal, assinalou o ministro dos Negócios Estrangeiros de Cuba, Bruno Rodríguez.
Intervindo no debate que antecedeu a votação, o ministro cubano lembrou que mais de 80 por cento da população do seu país nasceu sob o bloqueio e advertiu que, desde 2019, o governo dos EUA elevou o cerco a uma dimensão ainda mais cruel e desumana.
Durante os primeiros 14 meses da administração Biden, insistiu, os prejuízos causados pelo bloqueio ascenderam a 6364 milhões de dólares, o equivalente a mais de 15 milhões de dólares de perdas diárias. Acrescentou que o bloqueio «cria condições que alimentam as migrações irregulares, desordenadas e inseguras, a dolorosa separação de famílias, e contribui para o crime de tráfico de pessoas».
Noutra passagem, denunciou que em plena pandemia de Covid-19 o governo de Biden excluiu o povo cubano do alívio humanitário dispensado a outros povos. Enquanto a pandemia «cobrava milhões de vida no planeta e enchia Cuba de dor, o bloqueio intensificou-se e gerou demoras na chegada à ilha de medicamentos e equipamentos médicos imprescindíveis para enfrentar a pandemia, em particular para a produção industrial das vacinas cubanas», enfatizou.
Ao fundamentar o pedido de voto a favor da resolução, Bruno Rodríguez sublinhou que o fazia «em nome do valente, nobre e digno povo de Cuba, que apesar das adversidades não foi nem será derrotado». E também «em nome das nossas meninas, meninos e jovens que se opõem às políticas de ódio» e sofrem os efeitos do sistema de «medidas coercivas mais cruel e prolongado que alguma vez foi aplicado a qualquer país e que deve ser abolido para bem de todos».
Vocação humanista
e espírito de cooperação
O debate da resolução contra o bloqueio teve início no dia 2, no âmbito da 77.ª Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque.
Durante dois dias, intervenções de diplomatas de diversos países condenaram o «cerco genocida norte-americano», rejeitaram a inclusão de Cuba na dita «lista de Estados patrocinadores do terrorismo», elaborada por Washington, e destacaram que «apesar das medidas de terrorismo económico» de que é vítima, Cuba continua a renovar a sua vocação humanista e o seu espírito de cooperação e solidariedade desinteressada com todos os povos do mundo.
Também representantes de organizações como o Movimento de Países Não Alinhados, a Comunidade das Caraíbas e a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos expuseram argumentos de apoio a Cuba e de rejeição da política dos EUA, com base nos princípios da Carta da ONU e do direito internacional.