A economia por quatro dias de baixa

António Santos

Quando Biden foi eleito, há dois anos, pro­meteu pre­servar as li­ber­dades sin­di­cais e voltar a «sin­di­ca­lizar a Amé­rica». Quando os tra­ba­lha­dores fer­ro­viá­rios exi­giram o di­reito a baixas mé­dicas e ao des­canso pes­soal, Biden apelou ao diá­logo e as­sumiu pes­so­al­mente a me­di­ação do con­flito. Quando os pa­trões de­ci­diram ig­norar as rei­vin­di­ca­ções dos tra­ba­lha­dores, quatro sin­di­catos vo­taram a favor da greve. Quando, na se­gunda-feira, uma das mai­ores cor­po­ra­ções pa­tro­nais dos EUA alertou a Casa Branca, numa carta aberta, para a «ex­trema ur­gência» de «ga­rantir a con­ti­nu­ação do ser­viço fer­ro­viário», Biden pro­meteu-lhes que a greve não será au­to­ri­zada e o acordo será im­posto.

Em de­cla­ra­ções ao Washington Post, esta se­gunda-feira, um alto fun­ci­o­nário da ad­mi­nis­tração Biden ex­plicou que o pre­si­dente se pre­para para pedir ao Con­gresso que proíba a greve fer­ro­viária que, já no pró­ximo dia 9 de De­zembro, pro­metia pa­ra­lisar os 115 mil tra­ba­lha­dores que mantêm as mer­ca­do­rias a cir­cular no sis­tema ve­noso cen­tral da ca­deia lo­gís­tica da eco­nomia es­tado-uni­dense. A proi­bição po­derá passar por forçar os tra­ba­lha­dores a aceitar a pro­posta de acordo me­diado por Biden e chum­bado em Ou­tubro pela mai­oria dos fer­ro­viá­rios. Outra pos­si­bi­li­dade em cima da mesa do Con­gresso é voltar a es­ticar o prazo para as duas partes che­garem a um acordo, sendo a greve ilegal en­quanto duram as ne­go­ci­a­ções.
A mal­vada greve, avisa o pa­tro­nato em nome de mais de 400 em­presas de todos os sec­tores, «cus­taria às fa­mí­lias ame­ri­canas mais de 2 mil mi­lhões de dó­lares por dia» e «perder-se-iam mais de 700 mil postos de tra­balho». Um único ponto no ca­derno rei­vin­di­ca­tivo é a causa de tanta ce­leuma e, sur­pre­en­den­te­mente, não são au­mentos sa­la­riais. Na re­a­li­dade, o acordo de con­cer­tação so­cial que os tra­ba­lha­dores já chum­baram pro­punha au­mentos sa­la­riais de 24 por cento e um bónus de 5 mil dó­lares. O nó da dis­córdia que nem Biden con­segue de­satar é a pe­ri­gosa rei­vin­di­cação do di­reito a quatro dias anuais de baixa mé­dica. Ac­tu­al­mente, os tra­ba­lha­dores fer­ro­viá­rios dos Es­tados Unidos só podem faltar um dia por ano, seja por do­ença ou nojo. Seja por cancro ter­minal, pela morte de um filho ou porque so­freram um aci­dente de tra­balho, se fal­tarem mais do que um dia, os fer­ro­viá­rios perdem esses dias de sa­lário e en­frentam sé­rias con­sequên­cias dis­ci­pli­nares que podem re­sultar em des­pe­di­mento.

Mais um exemplo de quanto o mundo pode aprender com os EUA, tanto quanto ser obri­gado a ir tra­ba­lhar do­ente está para di­reitos hu­manos; como a pa­lavra acordo está para obrigar uma das partes a aceitá-lo; como a li­ber­dade sin­dical está para a proi­bição da greve ou como Joe Biden está para a classe tra­ba­lha­dora.




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