A economia por quatro dias de baixa
Quando Biden foi eleito, há dois anos, prometeu preservar as liberdades sindicais e voltar a «sindicalizar a América». Quando os trabalhadores ferroviários exigiram o direito a baixas médicas e ao descanso pessoal, Biden apelou ao diálogo e assumiu pessoalmente a mediação do conflito. Quando os patrões decidiram ignorar as reivindicações dos trabalhadores, quatro sindicatos votaram a favor da greve. Quando, na segunda-feira, uma das maiores corporações patronais dos EUA alertou a Casa Branca, numa carta aberta, para a «extrema urgência» de «garantir a continuação do serviço ferroviário», Biden prometeu-lhes que a greve não será autorizada e o acordo será imposto.
Em declarações ao Washington Post, esta segunda-feira, um alto funcionário da administração Biden explicou que o presidente se prepara para pedir ao Congresso que proíba a greve ferroviária que, já no próximo dia 9 de Dezembro, prometia paralisar os 115 mil trabalhadores que mantêm as mercadorias a circular no sistema venoso central da cadeia logística da economia estado-unidense. A proibição poderá passar por forçar os trabalhadores a aceitar a proposta de acordo mediado por Biden e chumbado em Outubro pela maioria dos ferroviários. Outra possibilidade em cima da mesa do Congresso é voltar a esticar o prazo para as duas partes chegarem a um acordo, sendo a greve ilegal enquanto duram as negociações.
A malvada greve, avisa o patronato em nome de mais de 400 empresas de todos os sectores, «custaria às famílias americanas mais de 2 mil milhões de dólares por dia» e «perder-se-iam mais de 700 mil postos de trabalho». Um único ponto no caderno reivindicativo é a causa de tanta celeuma e, surpreendentemente, não são aumentos salariais. Na realidade, o acordo de concertação social que os trabalhadores já chumbaram propunha aumentos salariais de 24 por cento e um bónus de 5 mil dólares. O nó da discórdia que nem Biden consegue desatar é a perigosa reivindicação do direito a quatro dias anuais de baixa médica. Actualmente, os trabalhadores ferroviários dos Estados Unidos só podem faltar um dia por ano, seja por doença ou nojo. Seja por cancro terminal, pela morte de um filho ou porque sofreram um acidente de trabalho, se faltarem mais do que um dia, os ferroviários perdem esses dias de salário e enfrentam sérias consequências disciplinares que podem resultar em despedimento.
Mais um exemplo de quanto o mundo pode aprender com os EUA, tanto quanto ser obrigado a ir trabalhar doente está para direitos humanos; como a palavra acordo está para obrigar uma das partes a aceitá-lo; como a liberdade sindical está para a proibição da greve ou como Joe Biden está para a classe trabalhadora.