Lutas em vários sectores elevam nível da contestação

Te­le­co­mu­ni­ca­ções, ho­te­laria e in­dús­tria ali­mentar são al­guns dos sec­tores em que a luta se faz ouvir: pela va­lo­ri­zação dos sa­lá­rios, pela ga­rantia e efec­ti­vação dos di­reitos, pela ne­go­ci­ação co­lec­tiva.

Os tra­ba­lha­dores do Call Center do Grupo Trofa Saúde es­ti­veram em greve no dia 2 e con­cen­traram-se logo pela manhã junto ao Hos­pital Pri­vado da Trofa. Em causa está a de­cisão do grupo de reter o sub­sídio de ali­men­tação mensal re­la­tivo ao mês de No­vembro, no valor de 114,40 euros, apesar dos pro­testos dos tra­ba­lha­dores e do Sin­di­cato dos Tra­ba­lha­dores da In­dús­tria de Ho­te­laria, Tu­rismo, Res­tau­rantes e Si­mi­lares do Norte, fi­liado na CGTP-IN.

Esta re­tenção é ilegal, re­alça o sin­di­cato, que aponta também a «grande falta de sen­si­bi­li­dade so­cial» ma­ni­fes­tada pelo Grupo Trofa Saúde, quando o au­mento do preço dos pro­dutos e bens de pri­meira ne­ces­si­dade ul­tra­passa já os 20%. Foi so­li­ci­tada a in­ter­venção ur­gente da Au­to­ri­dade para as Con­di­ções de Tra­balho, mas no dia 2 o sin­di­cato não tinha ainda ob­tido qual­quer res­posta.

Con­vo­cados pelo Sin­di­cato dos Tra­ba­lha­dores das Te­le­co­mu­ni­ca­ções e Au­di­o­vi­sual/​SINTTAV, os tra­ba­lha­dores dos cen­tros de con­tacto con­tra­tados por Em­presas de Tra­balho Tem­po­rário (ETT) es­ti­veram em greve nos dias 30 e 31. No co­mu­ni­cado que con­vo­cava a pa­ra­li­sação, de­nun­ciava-se a per­ma­nência de uma si­tu­ação la­boral mar­cada por con­tratos a prazo, ho­rá­rios des­re­gu­lados, «sa­lá­rios na ge­ne­ra­li­dade fi­xados no mí­nimo a “pagar” tra­balho al­ta­mente qua­li­fi­cado, pro­fissão não re­co­nhe­cida por falta de con­tra­tação co­lec­tiva, pres­sões, as­sédio, au­mento de res­pon­sa­bi­li­dades e ritmo de tra­balho, agra­vado pelo au­mento do custo de vida».

En­tre­tanto, de­nuncia o SINTTAV, a As­so­ci­ação Por­tu­guesa dos Con­tact Cen­ters, afirmou à im­prensa que o ne­gócio en­cerrou o ano «com uma re­ceita su­pe­rior a 3000 mi­lhões de euros, sendo que mais de me­tade das em­presas atende cli­entes es­tran­geiros».

Para além desta jor­nada, o sin­di­cato, e a exemplo de anos an­te­ri­ores, já en­tregou no Mi­nis­tério do Tra­balho e às em­presas um aviso prévio de greve ao tra­balho su­ple­mentar, in­cluindo em dia fe­riado, a vi­gorar todo o ano 2023.

 

Va­lo­rizar o tra­balho

No úl­timo dia de 2022, houve greve na Sol­verde, que se­gundo a Fe­de­ração dos Sin­di­catos de Agri­cul­tura, Ali­men­tação, Be­bidas, Ho­te­laria e Tu­rismo de Por­tugal (FE­SAHT) é a «em­presa do sector do jogo que paga sa­lá­rios mais baixos a nível na­ci­onal». A es­tru­tura sec­to­rial da CGTP-IN re­alça que a «es­ma­ga­dora mai­oria dos tra­ba­lha­dores re­cebe apenas o Sa­lário Mí­nimo Na­ci­onal e tra­balha por turnos, à noite, fins de se­mana e fe­ri­ados». Além disso, a Sol­verde não paga sub­sídio noc­turno nem de turno aos tra­ba­lha­dores do jogo, não ac­tu­a­liza sa­lá­rios a muitos tra­ba­lha­dores há vá­rios anos con­se­cu­tivos e re­cusa o diá­logo e a ne­go­ci­ação da con­tra­tação co­lec­tiva.

No Hotel Ca­sino de Chaves, os tra­ba­lha­dores ti­nham já es­tado em greve no Natal, per­fa­zendo 15 dias de greve em poucos meses.

Na fá­brica da Co­faco em Rabo de Peixe, na ilha de São Mi­guel, as tra­ba­lha­doras estão em greve ao tra­balho ex­tra­or­di­nário com ade­sões a rondar os 70 por cento. Em de­cla­ra­ções à Lusa no dia 2, Vítor Silva, do Sin­di­cato dos Tra­ba­lha­dores das In­dús­trias Trans­for­ma­doras, Ali­men­tação, Be­bidas e Si­mi­lares, Co­mércio, Es­cri­tó­rios e Ser­viços, Ho­te­laria e Tu­rismo dos Açores (SI­TA­CEHT/​AÇORES), ga­rantia que a par­ti­ci­pação na luta es­tava mesmo «acima das ex­pec­ta­tivas».

A greve de dois dias por se­mana (se­gundas e sextas-feiras) ao tra­balho ex­tra­or­di­nário pro­longa-se até final de Abril, cen­trando-se na exi­gência de pro­gressão das car­reiras das ma­ni­pu­la­doras, a dig­ni­fi­cação e va­lo­ri­zação do tra­balho, a con­ci­li­ação da vida pro­fis­si­onal com a pes­soal e fa­mi­liar, bem como o au­mento do sub­sídio de ali­men­tação e das diu­tur­ni­dades e au­mentos sa­la­riais justos.

A Co­faco é de­ten­tora das marcas Bom Pe­tisco, Te­nório e Pitéu.

 



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