Uma moderna forma de exploração

Sandra Pereira

Desregulação, liberalização e precariedade são a face de uma política que encara as novas tecnologias como uma renovada e moderna oportunidade para o aumento da exploração, a destruição de direitos dos trabalhadores e o aumento da acumulação capitalista. As plataformas digitais encarnam tudo isso!

Em Dezembro passado, a Comissão do Emprego e Assuntos Sociais do Parlamento Europeu (PE) votou e aprovou a sua posição tendo em conta a proposta da Comissão Europeia (CE) de uma Directiva relativa à melhoria das condições de trabalho nas plataformas digitais. Vale a pena referir que os trabalhadores das plataformas podiam - e deviam - ser protegidos pelas leis nacionais, nomeadamente em Portugal. Em vários países, há situações de condenação das plataformas face aos atropelos às suas leis laborais e há exemplos da protecção dos trabalhadores, nos casos em que estes solicitaram o enquadramento como trabalhadores por conta de outrem. Nesse sentido, deveria sim insistir-se na aplicação e fiscalização dessas leis.

Se é verdade que esta proposta de Directiva põe o dedo na ferida que é a precariedade dos trabalhadores das plataformas, não é menos verdade que ela não fazia falta se as leis nacionais fossem aplicadas e a protecção dos trabalhadores estivesse salvaguardada. Continuará a ser desnecessária se os Estados-Membros não disponibilizarem os meios (técnicos e humanos) e condições para fiscalizar e fazer cumprir a lei e para os trabalhadores fazerem valer os seus direitos.

Os silêncios ou a passividade do Governo e das entidades fiscalizadoras são reveladoras da cumplicidade e conivência com a continuidade deste tipo de práticas laborais, sem reconhecimento destes trabalhadores com vínculo de trabalho permanente à empresa gestora da plataforma digital.

Se dúvidas houvesse, a investigação que denunciou os chamados “Uber Files” forneceu a prova cabal da promiscuidade entre o poder político e o poder económico, no que diz respeito às plataformas digitais. As informações que vieram a público em Julho de 2022 expõem a “influência” exercida pela empresa multinacional de plataforma Uber junto de uma série de dirigentes europeus, dos Estados-Membros e das instituições da União Europeia. Sobre este processo, os deputados do PCP no PE questionaram a CE e, seis meses depois, ainda não obtiveram nenhuma resposta (o prazo para responder é de três meses). E este silêncio diz muito…

Não temos ilusões de que esta Directiva não irá reverter políticas gerais de desregulamentação e liberalização sentidos diariamente por sectores como o do táxi. Nem estabelecer elevados padrões de direitos para os trabalhadores e os clientes. Mas estes sabem que podem contar com o PCP para os defender.




Mais artigos de: Europa

Luta cresce em França para defender pensões

Cerca de três milhões de pessoas manifestaram-se em França na terça-feira, 31, contra o projecto de alteração do cálculo das pensões de reforma. Em Paris, a mobilização reuniu meio milhão de trabalhadores e registaram-se cerca de 250 concentrações pelo país.

Cipriotas vão às urnas eleger novo presidente

Em Chipre, os eleitores vão às urnas no domingo, 5, votar na primeira volta das eleições presidenciais. Candidato com grande prestígio, Andreas Mavroyiannis, diplomata, é apoiado pelo Partido Progressista do Povo Trabalhador (AKEL), a principal força política da esquerda cipriota. O presidente cessante, Nikos...