Passatempos

Gustavo Carneiro

Um po­pular pas­sa­tempo, pu­bli­cado em jor­nais e re­vistas, consta de duas ima­gens à pri­meira vista se­me­lhantes, ex­cep­tu­ando umas poucas di­fe­renças. O de­safio é pre­ci­sa­mente en­contrá-las: umas mais evi­dentes, ou­tras pra­ti­ca­mente in­de­tec­tá­veis.

Nesta cró­nica in­ver­temos os termos do jogo, adap­tando-o à po­lí­tica na­ci­onal. Assim, mais do que as di­fe­renças que se­param PS, PSD, Chega e IL – e existem, al­gumas delas até bas­tante sig­ni­fi­ca­tivas –, pro­cu­ramos aquilo que os une, nada mais nada menos do que a de­fesa in­tran­si­gente dos in­te­resses dos donos-disto-tudo.

O tema não é novo por aqui, sa­bemo-lo, mas convém por vezes a ele re­gressar, pois é muito o ruído, so­lenes as pro­cla­ma­ções, ve­e­mentes as in­dig­na­ções e po­derá sempre haver quem, no meio de tudo isto, se de­so­ri­ente e con­funda.

Al­guns exem­plos re­centes tes­te­mu­nham essa con­ver­gência, ex­pressa em op­ções con­cretas, mais do que em pa­la­vras.

O PCP apre­sentou há dias uma pro­posta para con­trolar o preço do cabaz ali­mentar, de modo a travar as con­sequên­cias mais bru­tais da ele­vada in­flação que se ve­ri­fica e, com elas, a es­pe­cu­lação que a fo­menta. PS, PSD, Chega e IL re­jei­taram-na, para sa­tis­fação dos prin­ci­pais grupos da grande dis­tri­buição, que assim po­derão con­ti­nuar a acu­mular lu­cros obs­cenos com as di­fi­cul­dades da mai­oria – os da Je­ró­nimo Mar­tins/ Pingo Doce au­men­taram 29,3% e os da Sonae/ Con­ti­nente quase que du­pli­caram.

O mesmo acon­teceu, ainda em De­zembro, quando es­teve em causa o con­trolo dos preços da energia e dos com­bus­tí­veis, face quer aos va­lores cres­centes – e, para tantos, in­com­por­tá­veis – pagos por todos nós, quer aos lu­cros acu­mu­lados pela GALP e EDP, que em Se­tembro do ano pas­sado já ul­tra­pas­savam os mil mi­lhões de euros. En­tre­tanto, são cada vez mais os que têm de optar entre comer e aquecer a casa…

E quando o PCP (sempre ele!) propôs a ta­xação dos lu­cros ex­tra­or­di­ná­rios al­can­çados pelos grupos eco­nó­micos dos sec­tores da energia, dos com­bus­tí­veis, da banca, dos se­guros e da dis­tri­buição ali­mentar, qual foi a opção de PS, PSD, Chega e IL? Vo­taram contra, evi­den­te­mente. O mesmo que fi­zeram às pro­postas que vi­savam a re­dução geral das co­mis­sões ban­cá­rias, a cri­ação de uma rede pú­blica de cre­ches, o au­mento do sa­lário mí­nimo, das re­formas e das pen­sões. E a tantas, tantas ou­tras.

Mas lá con­ti­nu­arão, na As­sem­bleia da Re­pú­blica e no palco que a co­mu­ni­cação so­cial sempre lhes dá, a exibir as suas di­fe­renças, sejam elas reais ou apa­rentes. E entre diá­rias acu­sa­ções de «so­ci­a­lismo», juras apai­xo­nadas (e sempre traídas) de amor à de­mo­cracia e à li­ber­dade e gru­nhidos de ver­gonha! ver­gonha!, lá vão, os quatro, juntos, ser­vindo os mesmos.

É coisa séria, este pas­sa­tempo...




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