Clamor pela valorização dos professores ressoou alto no Parlamento

As ra­zões de in­dig­nação e pro­testo dos pro­fes­sores e edu­ca­dores fi­zeram-se ouvir no Par­la­mento. Em de­bate re­cente de ac­tu­a­li­dade re­que­rido pelo PCP, em foco es­ti­veram o res­peito que lhes não tem sido dado e a va­lo­ri­zação das car­reiras que lhes tem sido ne­gada.

É pre­ciso vin­cular todos os do­centes com três ou mais anos de ser­viço

No final do de­bate, pela voz da de­pu­tada co­mu­nista Alma Ri­vera, uma frase re­sumiu a questão nu­clear em jogo: «não há Es­cola Pú­blica sem pro­fes­sores».

As op­ções do Go­verno, porém, pa­recem in­dicar que a sua von­tade é deixá-la de­fi­nhar. É o que re­sulta da sua in­tran­si­gência em não dar res­posta às rei­vin­di­ca­ções dos pro­fes­sores.

O quadro que hoje se vive é pre­o­cu­pante, jus­ti­fica o «clamor dos pro­fes­sores nas ruas e nas es­colas», como ob­servou o de­pu­tado co­mu­nista Al­fredo Maia, a quem coube abrir a dis­cussão. E há ra­zões – e ra­zões fortes - para tal.

É que são mais de 40 mil as cri­anças e jo­vens que ini­ci­aram o se­gundo pe­ríodo com falta de pro­fessor a pelo menos a uma dis­ci­plina. Outro dado re­ve­lador da di­mensão do pro­blema e de como a es­cassez de do­centes tem causa es­tru­tu­rais: «os 1200 jo­vens es­tu­dantes que ini­ci­aram neste ano lec­tivo a sua for­mação para a do­cência estão longe de pre­en­cher os lu­gares que 2401 do­centes dei­xaram vagos no ano civil pas­sado, ou o meio mi­lhar que, entre Ja­neiro e Fe­ve­reiro, vai deixar o en­sino, ou os quatro mil pro­fes­sores que, em cada ano, nos úl­timos anos desta dé­cada, vão apo­sentar-se».

Mas a aná­lise não se ficou por aqui. O di­ag­nós­tico sobre as causas para a falta de pro­fes­sores e para a re­du­zida atrac­ti­vi­dade da pro­fissão do­cente foi igual­mente tra­çado pelo de­pu­tado Al­fredo Maia: «a des­va­lo­ri­zação e a es­tag­nação da car­reira; uma pro­gressão que não in­cen­tiva nem ca­tiva; os baixos sa­lá­rios; a ele­vada carga ho­rária, a tran­su­mância mal paga e in­certa de pro­fes­sores tantas vezes des­ter­rados cen­tenas de qui­ló­me­tros e anos a fio; um re­gime de mo­bi­li­dade por do­ença que privou quase três mil pro­fes­sores da pro­xi­mi­dade dos lo­cais de tra­ta­mento, do acom­pa­nha­mento pela fa­mília ou da re­si­dência». Ra­zões, em sín­tese, para «a frus­tração e o de­sen­canto», como anotou o par­la­mentar do PCP.

Sem res­postas efec­tivas
E foi com esta re­a­li­dade que a ban­cada co­mu­nista con­frontou o mi­nistro da Edu­cação.

«Es­tamos a atacar os pro­blemas sé­rios que afectam os pro­fes­sores, com me­didas es­tru­tu­rais para acabar com a pre­ca­ri­e­dade, com a si­tu­ação de casa às costas, para me­lhorar as con­di­ções dos pro­fis­si­o­nais», afirmou João Costa, di­zendo ser esse o seu «com­pro­misso».

E no meio da nar­ra­tiva re­petiu ser im­por­tante va­lo­rizar a car­reira. «Mas como é que o Go­verno o pre­tende fazer?», foi a per­gunta-chave for­mu­lada pela pre­si­dente do Grupo Par­la­mentar do PCP e à qual o ti­tular da pasta não res­pondeu.

A ver­dade é que em termos de vin­cu­lação, como re­feriu Paula Santos, o Go­verno con­tinua a deixar de fora pro­fes­sores com 10, 15 e mais anos de ser­viço.

«No acesso ao quinto e sé­timo es­calão con­tinua a deixar de fora pro­fes­sores que cum­prem os re­qui­sitos», exem­pli­ficou, ainda, a líder par­la­mentar co­mu­nista, antes de deixar um apelo ao mi­nistro: «Não en­gane os pro­fes­sores, nem o País».

E por isso Alma Ri­vera, no final do de­bate, disse não ter vis­lum­brado «ne­nhuma pro­posta real no sen­tido da va­lo­ri­zação da car­reira e da pro­fissão do­cente».

Essa foi a grande exi­gência que atra­vessou o de­bate e que es­teve pre­sente em todas as in­ter­ven­ções dos de­pu­tados co­mu­nistas, para quem é igual­mente ur­gente um com­bate efec­tivo à pre­ca­ri­e­dade, o re­co­nhe­ci­mento do tempo de ser­viço, e a ga­rantia de fu­turo à pro­fissão do­cente e aos seus pro­fis­si­o­nais».

 

Não, não são todos iguais!

A pre­si­dente do Grupo Par­la­mentar do PCP não perdeu a opor­tu­ni­dade para lem­brar o que tem sido ao longo dos tempos o po­si­ci­o­na­mento das di­versas forças po­lí­ticas em ma­téria de edu­cação e mos­trar o mundo que as se­para. E deu o exemplo de um go­verno PSD/​CDS de onde partiu, «in­clu­si­va­mente, um con­vite para os pro­fes­sores emi­grarem».

Já em sen­tido oposto, re­alçou, foi pela in­ter­venção do PCP que foi pos­sível, no pe­ríodo que se se­guiu a 2015, «al­cançar avanços, como a gra­tui­ti­dade dos ma­nuais es­co­lares ou o fim da con­tra­tação pela BCE (bolsa de con­tra­tação de es­cola)».

In­feriu por isso que «não foi por falta de pro­postas do PCP para a va­lo­ri­zação da car­reira dos pro­fes­sores e para a va­lo­ri­zação da Es­cola Pú­blica que estas não avan­çaram». O que faltou, sim, foi a anuência do PSD, da IL e do Chega, bem como do PS, às me­didas pre­co­ni­zadas pelo PCP para con­cre­tizar aqueles ob­jec­tivos, su­bli­nhou Paula Santos, dei­xando claro que «o PCP não acordou para estes pro­blemas hoje». Desde há muito que apre­senta so­lu­ções para os mesmos, in­sistiu, dando como exem­plos as «pro­postas para o fim das quotas do quinto e sé­timo es­calão ou para a con­tagem de todo o tempo de ser­viço dos pro­fes­sores».

 



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