Silenciamentos e inimputabilidades

No pas­sado dia 17, sexta-feira, o PCP con­cre­tizou mais uma ini­ci­a­tiva no âm­bito da acção na­ci­onal «Mais força aos tra­ba­lha­dores!», com a par­ti­ci­pação do Se­cre­tário-geral: um con­tacto com tra­ba­lha­dores do Inatel em Al­bu­feira. O efeito me­diá­tico desta ini­ci­a­tiva foi idên­tico a an­te­ri­ores ini­ci­a­tivas de con­tacto com tra­ba­lha­dores – e já são perto de uma de­zena desde a Con­fe­rência Na­ci­onal.

Quem teve con­tacto com esta acção através dos ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial apenas ouviu as res­postas a ques­tões co­lo­cadas pelos jor­na­listas pre­sentes que nada ti­nham a ver com o que ali se tratou: as di­fi­cul­dades que marcam a vida da­queles tra­ba­lha­dores e em geral dos tra­ba­lha­dores do sector da ho­te­laria, dos baixos sa­lá­rios e pre­ca­ri­e­dade à in­ten­si­dade dos ritmos de tra­balho.

Mais uma vez, a co­mu­ni­cação so­cial do­mi­nante optou por ocultar a in­ter­venção do PCP em torno dos reais pro­blemas e di­fi­cul­dades que tantos en­frentam no seu dia-a-dia. Nal­guns casos isso é feito sim­ples­mente ig­no­rando as ac­ções e ini­ci­a­tivas re­a­li­zadas, nou­tros, como neste exemplo, ig­no­rando o con­teúdo do que ali se abordou. É ver­dade que existem temas da ac­tu­a­li­dade que se im­põem nas agendas me­diá­ticas e jus­ti­ficam as ques­tões co­lo­cadas e o seu tra­ta­mento edi­to­rial, mas temos ór­gãos de co­mu­ni­cação so­cial que, quase um mês de­pois do ar­ranque da acção na­ci­onal, ainda não lhe deram qual­quer ex­pressão – o que, diga-se, con­trasta com o tra­ta­mento dado a ini­ci­a­tivas de ou­tros par­tidos, cujos temas são am­pla­mente re­tra­tados nas peças jor­na­lís­ticas sobre as ac­ções que re­a­lizam.

No caso da úl­tima sexta-feira, um dos temas la­te­rais que surgiu nas per­guntas dos jor­na­listas foi o anúncio de con­de­co­ração, pelo Pre­si­dente da Re­pú­blica, do pre­si­dente da Ucrânia com o mais alto grau da Ordem da Li­ber­dade. A po­sição as­su­mida pelo PCP – que, aliás, já tinha sido ex­pressa no dia an­te­rior em nota de im­prensa – jus­ti­ficou mais uma exi­bição do mais boçal an­ti­co­mu­nismo por parte de José Mi­lhazes, um per­so­nagem pro­mo­vido pela SIC a es­pe­ci­a­lista em tudo o que se re­la­ciona com a guerra na Ucrânia.

Mi­lhazes tem-se des­ta­cado pelo an­ti­co­mu­nismo, pelo ataque ao PCP mas também pelo es­ta­tuto de de­mons­trada inim­pu­ta­bi­li­dade que lhe é con­ce­dido pela SIC. Não é pre­ciso re­cuar e fazer uma aná­lise aos dis­pa­rates car­re­gados de ódio que disse ao longo do úl­timo ano em que tem sido pre­sença as­sídua nos prin­ci­pais es­paços in­for­ma­tivos da­quela es­tação, basta olhar para o que disse na úl­tima se­mana. O co­men­tador afirmou que a po­sição do PCP é «ab­jecta», in­si­nu­ando que serve para pagar fa­vores à Fe­de­ração Russa.

Com­pa­remos então o que disse o PCP e o que dizia Mi­lhazes antes de ser pro­mo­vido a porta-voz da guerra. Na Ucrânia existe «um poder xe­nó­fobo, be­li­cista e an­ti­de­mo­crá­tico, ro­deado e sus­ten­tado por forças de cariz fas­cista e nazi» (nota do PCP de 16 de Fe­ve­reiro de 2023). «Po­tên­cias oci­den­tais apoiam golpe ne­o­nazi na Ucrânia» (tí­tulo de texto no blogue de Mi­lhazes, 13 de Fe­ve­reiro de 2014). O co­men­tador até pode ser inim­pu­tável, mas a es­tação que o mantém e pro­move não pode ser.

 



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