Grandiosa manifestação nacional foi poderosa afirmação de direitos

Muitos mi­lhares de pes­soas res­pon­deram ao apelo «Todos a Lisboa» e trou­xeram à Ave­nida da Li­ber­dade, no dia 18, as justas ra­zões por que se mo­bi­lizam tra­ba­lha­dores de em­presas da in­dús­tria, da agri­cul­tura, dos trans­portes, do co­mércio, da Edu­cação, da Saúde, da Ad­mi­nis­tração Local e Cen­tral, jo­vens e re­for­mados. A ma­ni­fes­tação na­ci­onal foi «uma grande jor­nada de luta», uma «po­de­rosa afir­mação dos di­reitos», uma «de­mons­tração da força dos tra­ba­lha­dores, unidos na exi­gência de res­postas e so­lu­ções», como disse a Se­cre­tária-geral da CGTP-IN.

Esta foi uma po­de­rosa afir­mação da força dos tra­ba­lha­dores unidos

Du­rante a tarde de sá­bado, das Amo­reiras e do Sal­danha para o Marquês de Pombal e os Res­tau­ra­dores, des­fi­laram os prin­ci­pais pro­ta­go­nistas das lutas de tra­ba­lha­dores já re­a­li­zadas ou em curso e, também, de lutas em ges­tação, pelo des­con­ten­ta­mento pa­tente.

Sob a comum exi­gência de au­mento geral dos sa­lá­rios e das pen­sões, como emer­gência na­ci­onal, cada sector, ser­viço e em­presa exibiu – em faixas e car­tazes e também de viva voz – mo­tivos pró­prios da raiva e do pro­testo de quem re­jeita em­po­brecer a tra­ba­lhar.

Pela Rua Jo­a­quim An­tónio de Aguiar, des­ceram tra­ba­lha­dores dos di­fe­rentes sec­tores da Ad­mi­nis­tração Pú­blica, que na vés­pera ti­nham feito uma forte greve na­ci­onal. A voz dos tra­ba­lha­dores do sector pri­vado e do sector em­pre­sa­rial do Es­tado ecoou na Ave­nida Fontes Pe­reira de Melo. Che­garam juntos à ro­tunda, cerca das 16 horas.

Nessa al­tura, ainda muitos per­ma­ne­ciam no Sal­danha e nas Amo­reiras, aguar­dando a sua vez para ini­ci­arem o per­curso.

Para descer a Ave­nida da Li­ber­dade, os di­ri­gentes da con­fe­de­ração, de sin­di­catos, uniões dis­tri­tais e fe­de­ra­ções sec­to­riais, que se ti­nham antes re­par­tido pelos dois pontos de con­cen­tração ini­cial, for­maram atrás de um grande pano ver­melho, com a ins­crição «Au­mento geral dos sa­lá­rios, emer­gência na­ci­onal, contra o au­mento do custo de vida – com­bater a ex­plo­ração», a toda a lar­gura das cinco faixas de ro­dagem.

Logo atrás da ca­beça da ma­ni­fes­tação se­guia um nu­me­roso e com­ba­tivo grupo de ac­ti­vistas da In­ter­jovem. Em al­guns car­tazes, apon­tavam já à pró­xima etapa: «Es­tamos cá hoje! Dia 28 vol­tamos à rua!».

O grupo de bombos Bar­doada foi na frente, anun­ci­ando o início da ma­ni­fes­tação às muitas pes­soas que a aguar­davam nos pas­seios. Mais atrás, mar­caram o ritmo os grupos Ba­tu­cando e To­cándar. Também se jun­taram à ma­ni­fes­tação al­guns ca­retos e o coro dos mi­neiros de Al­jus­trel.

Foi em coro, acom­pa­nhando as vozes apoi­adas em me­ga­fones ou em carros com ins­ta­lação so­nora, que se fi­zeram ouvir as pa­la­vras de ordem. Havia so­ta­ques, claro, mas o que mais se des­ta­cava eram as mu­lheres.

Foram muitas vezes en­to­adas «O custo de vida au­menta, o povo não aguenta», «Não po­demos aceitar os de sempre a pagar», «Mais sa­lá­rios, me­lhores pen­sões», «CGTP uni­dade sin­dical», «Costa, es­cuta: o povo está em luta», «O povo unido ja­mais será ven­cido», «Ca­du­ci­dade não, con­tra­tação sim», «Uma vida a tra­ba­lhar, as pen­sões estão a roubar», «Para os pa­trões são mi­lhões, para os sa­lá­rios só tos­tões», «A luta con­tinua nas em­presas e na rua».

Quando Isabel Ca­ma­rinha ini­ciou a sua in­ter­venção, às 17h15, disse, sob forte aplauso, que a cauda da ma­ni­fes­tação es­tava ainda no Marquês. Meia hora de­pois, su­bindo em contra-cor­rente, ou­vimos muitos destes, «la­men­tando» com sa­tis­fação que «já só ou­vimos e can­támos os hinos».

Não ti­nham ou­vido a Se­cre­tária-geral a ex­clamar, no início da sua in­ter­venção: «Que grande jor­nada de luta, que po­de­rosa afir­mação dos di­reitos, que de­mons­tração da força dos tra­ba­lha­dores unidos na exi­gência de res­postas e so­lu­ções». Mas, ou­vindo e can­tando os hinos, de­pois do que ti­nham visto e es­pe­rado, es­tavam a ex­primir o mesmo sen­ti­mento.

 

Vol­tamos à rua no dia 28

«Es­ta­remos na rua, dia 28, porque é ne­ces­sária uma rup­tura com a ac­tual po­lí­tica de des­va­lo­ri­zação dos jo­vens» e é pre­ciso «que­brar o ciclo das in­jus­tiças, das de­si­gual­dades, das dis­cri­mi­na­ções», afirmou Gon­çalo Paixão.

O di­ri­gente da In­ter­jovem, que in­ter­veio antes de Isabel Ca­ma­rinha, no palco ins­ta­lado na Praça dos Res­tau­ra­dores, de­ta­lhou as ra­zões para, no Dia Na­ci­onal da Ju­ven­tude, par­ti­cipar na ma­ni­fes­tação na­ci­onal dos jo­vens tra­ba­lha­dores, em Lisboa (do Rossio para o Par­la­mento) e no Porto (Vila Nova de Gaia, na Ave­nida da Re­pú­blica).
Lem­brou que «aos jo­vens tra­ba­lha­dores são im­postos cada vez mais en­traves à con­quista da in­de­pen­dência e da eman­ci­pação». A pre­ca­ri­e­dade «deixa-nos na corda bamba, entre o em­prego e o de­sem­prego, mais vul­ne­rá­veis à ofen­siva contra os nossos di­reitos e à ex­plo­ração».
Os baixos sa­lá­rios não sobem, «mas os preços con­ti­nuam a au­mentar», en­quanto «há mi­lhões de euros de lu­cros na banca, na energia, na in­dús­tria, na grande dis­tri­buição» e «há di­nheiro para “borlas” fis­cais à es­pe­cu­lação imo­bi­liária e para des­pejar no ne­gócio da do­ença», pro­testou.

 

Há forças para re­solver e mudar

«Há aqui forças para re­solver os pro­blemas e al­terar o rumo de Por­tugal», as­si­nalou o Se­cre­tário-geral do PCP, re­al­çando a de­ter­mi­nação pa­tente na «grande jor­nada de luta» de 18 de Março. Gente de todo o País veio «com muitos pro­blemas, com muitas di­fi­cul­dades, mas com uma grande de­ter­mi­nação, com esta força toda, a querer re­solver os pro­blemas».

Para Paulo Rai­mundo, ver esta «gran­diosa ma­ni­fes­tação» foi «uma grande ale­gria». Aquele foi «um grande dia de luta dos tra­ba­lha­dores», cujas ra­zões «são muitas e são justas, como o au­mento do custo de vida, os baixos sa­lá­rios, a pressão e as di­fi­cul­dades todas em torno da ha­bi­tação».

De­fen­dendo que «é pre­ciso re­solver isto, não pode con­ti­nuar assim», re­jeitou a ideia de que au­mentos sa­la­riais possam trazer in­flação. Re­cordou que, «en­quanto os sa­lá­rios são es­ma­gados, os grandes grupos eco­nó­micos têm onze mi­lhões de euros de lu­cros por dia» e «a banca tem cinco mi­lhões de euros de lu­cros por dia», in­ter­ro­gando se «isto não con­tribui para a in­flação».
Ques­ti­o­nado se as me­didas de apoio são su­fi­ci­entes, o di­ri­gente co­mu­nista re­tor­quiu: «O pro­blema não é o apoio. Esta gente tra­balha todos os dias, põe o País a fun­ci­onar, é deles que de­pende a eco­nomia. Por­tanto, eles não pre­cisam de apoios, pre­cisam é de sa­lá­rios, aquilo que me­recem: di­reitos, dig­ni­dade, res­peito e sa­lá­rios, que é com isso que pagam as contas».

In­te­grando uma de­le­gação do Par­tido – de que fi­zeram parte Ca­rina Castro, Fran­cisco Lopes, Ma­nuela Pinto Ângelo, Pa­trícia Ma­chado, Paula Santos e Vla­di­miro Vale, mem­bros dos or­ga­nismos exe­cu­tivos do Co­mité Cen­tral, e João Pi­menta Lopes, do CC e de­pu­tado no Par­la­mento Eu­ropeu –, Paulo Rai­mundo prestou de­cla­ra­ções à co­mu­ni­cação so­cial, du­rante a pas­sagem dos pri­meiros grupos de ma­ni­fes­tantes, em frente ao centro de tra­balho Vi­tória.

Mais tarde, a de­le­gação in­te­grou-se na ma­ni­fes­tação, junto com os tra­ba­lha­dores do co­mércio, es­cri­tó­rios e ser­viços.

 

Esta luta não vai parar!

«Esta luta, que au­menta, não vai parar en­quanto não es­ti­verem ga­ran­tidos o au­mento dos sa­lá­rios e das pen­sões e as nossas rei­vin­di­ca­ções», as­se­gurou Isabel Ca­ma­rinha de­pois de saudar vá­rias lutas re­centes: a greve dos tra­ba­lha­dores da Ad­mi­nis­tração Pú­blica, no dia an­te­rior, e também as lutas dos pro­fes­sores e edu­ca­dores, dos não do­centes; a luta, na saúde, dos mé­dicos, en­fer­meiros e res­tantes pro­fis­si­o­nais; a luta na ad­mi­nis­tração local e em muitas ou­tras áreas da Ad­mi­nis­tração Pú­blica.

A di­ri­gente saudou ainda «as cen­tenas de ac­ções e lutas re­a­li­zadas pelos tra­ba­lha­dores do sector pri­vado, da agri­cul­tura e das pescas, das IPSS e mi­se­ri­cór­dias, da in­dús­tria trans­for­ma­dora e ex­trac­tiva, da dis­tri­buição, do co­mércio e ser­viços, da ho­te­laria e res­tau­ração, da cons­trução civil, bem como do sector em­pre­sa­rial do Es­tado».

Des­tacou «a luta das mu­lheres tra­ba­lha­doras e a sua par­ti­ci­pação em todas as lutas na se­mana da igual­dade e em ou­tras ac­ções, nas co­me­mo­ra­ções do 8 de Março».

«Sau­damos estas lutas, não só pelos re­sul­tados que se ob­ti­veram, mas também pelo que elas re­pre­sentam na ele­vação da cons­ci­ência so­cial e po­lí­tica, pelo que elas re­pre­sentam na ma­ni­fes­tação de von­tade de mudar, pela es­pe­rança e con­fi­ança que daqui sai para rasgar os pro­jectos som­brios que nos querem impor», frisou.

Uma vez que «os pro­blemas, ne­ces­si­dades e an­seios dos tra­ba­lha­dores não podem ficar à es­pera, pre­ci­samos de res­postas e so­lu­ções no ime­diato», a Se­cre­tária-geral as­si­nalou que a luta «tem de con­ti­nuar, com a acção rei­vin­di­ca­tiva nos sec­tores, nos lo­cais de tra­balho e nos ser­viços, e tem de in­ten­si­ficar-se nas em­presas e nas ruas, com a con­fi­ança de que a uni­dade e mo­bi­li­zação dos tra­ba­lha­dores são o motor da trans­for­mação so­cial e do avanço nos di­reitos e nas con­di­ções de vida e de tra­balho».

O dia 28 de Março será o pró­ximo mo­mento de con­ver­gência de lutas, nas ma­ni­fes­ta­ções em Lisboa e no Porto, dos jo­vens tra­ba­lha­dores, aqueles «que re­cebem os mais baixos sa­lá­rios, que têm na pre­ca­ri­e­dade do vín­culo uma prá­tica ge­ne­ra­li­zada, que são mas­sa­crados com ho­rá­rios e ritmos de tra­balho longos e des­re­gu­lados, que não en­con­tram casa a preços com­por­tá­veis» e que «querem ficar no nosso País, mas a quem a ex­plo­ração con­vida à emi­gração for­çada».

«Num tempo de ataque às con­quistas e va­lores de Abril, de in­cum­pri­mento da nossa Cons­ti­tuição», a luta dos tra­ba­lha­dores «ganha ainda mais im­por­tância» nas co­me­mo­ra­ções do 25 de Abril e «terá no pró­ximo 1.º de Maio uma jor­nada maior», para «trazer à rua os pro­blemas do dia-a-dia e as so­lu­ções» e para «elevar a exi­gência de “Mais sa­lário, mais di­reitos, me­lhores pen­sões! Lutar contra o au­mento do custo de vida e assim com­bater a ex­plo­ração”», apelou Isabel Ca­ma­rinha.

 

In­ten­si­ficar a luta com razão

Numa re­so­lução apre­sen­tada após as in­ter­ven­ções e acla­mada pelos ma­ni­fes­tantes, ficou ex­presso «o com­pro­misso de con­ti­nuar a luta, in­ten­si­fi­cando a acção rei­vin­di­ca­tiva nos lo­cais de tra­balho, le­vando mais longe as rei­vin­di­ca­ções, pro­mo­vendo a con­ver­gência da uni­dade e força de todos os tra­ba­lha­dores, dando con­ti­nui­dade à luta con­ver­gente já no pró­ximo dia 28 de Março, dia na­ci­onal de luta dos jo­vens tra­ba­lha­dores».

O com­pro­misso es­tendeu-se à «par­ti­ci­pação e mo­bi­li­zação para as co­me­mo­ra­ções po­pu­lares do 49.º ani­ver­sário do 25 de Abril» e à «cons­trução de uma grande jor­nada de luta, em todo o País, no dia 1 de Maio, Dia In­ter­na­ci­onal do Tra­ba­lhador».

No do­cu­mento su­blinha-se que, «pe­rante a au­sência de res­postas aos pro­blemas, os tra­ba­lha­dores in­ten­si­ficam a luta nos lo­cais de tra­balho e nas ruas, afirmam a sua força, a sua in­dig­nação e a exi­gência de au­mento dos sa­lá­rios e pen­sões, de me­didas ime­di­atas de com­bate ao au­mento do custo de vida», «con­fron­tando o ca­pital e o pa­tro­nato e exi­gindo ao Go­verno me­didas que va­lo­rizem o tra­balho e os tra­ba­lha­dores».

Re­a­firma-se que «é pos­sível viver me­lhor no nosso País» e que, «para tal, é pre­ciso» atender às rei­vin­di­ca­ções que a CGTP-IN tem co­lo­cado, no­me­a­da­mente:

– au­mento dos sa­lá­rios em, pelo menos, 10 por cento, e num valor não in­fe­rior a 100 euros, para todos os tra­ba­lha­dores;

– va­lo­ri­zação das car­reiras e pro­fis­sões;

– fi­xação do sa­lário mí­nimo na­ci­onal em 850 euros, com re­fe­rência a Ja­neiro;

– efec­ti­vação do di­reito de con­tra­tação co­lec­tiva;

– 35 horas para todos e com­bate à des­re­gu­lação dos ho­rá­rios;

– er­ra­di­cação da pre­ca­ri­e­dade;

– re­vo­gação das normas gra­vosas da le­gis­lação la­boral;

– au­mento de todas as pen­sões e re­formas, para repor o poder de compra e as­se­gurar a sua va­lo­ri­zação;

– re­forço dos ser­viços pú­blicos e fun­ções so­ciais do Es­tado, ga­rantia do di­reito à ha­bi­tação.

 

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