Conversa de circunstância

Jorge Cordeiro

En­quanto a vida rola e com ela o avo­lumar de pro­blemas com que a ge­ne­ra­li­dade dos tra­ba­lha­dores e do povo con­vivem, há quem se de­dique a cons­truir e a impor ao lado da­quela uma outra re­a­li­dade. Os cri­té­rios edi­to­riais aí estão ali­nhados para, de acordo com o que os cen­tros do ca­pital de­ter­mi­naram, moldar essa outra agenda que faça do aces­sório o es­sen­cial. Sempre se po­derá dizer, e com al­guma razão, que a di­nâ­mica me­diá­tica que aí se exibe tem con­tri­buintes lí­quidos que lhe ga­rantem a ani­mação in­for­ma­tiva.

Entre com­pu­ta­dores mi­nis­te­riais dados como rou­bados e as nar­ra­tivas para a sua re­cu­pe­ração, anun­ci­ados pa­re­ceres ju­rí­dicos que entre o «ser ou não ser» con­somem em in­can­sá­veis ave­ri­gua­ções a busca de prova exis­ten­cial, as en­sai­adas au­di­ções com ela­bo­rados guiões e es­for­çadas re­pre­sen­ta­ções dos «ac­tores» a quem foi atri­buído o de­vido papel antes da en­trada em cena, a so­bre­va­lo­ri­zação pela co­missão de inqué­rito à TAP do que apesar de menor serve à es­tra­tégia de des­truição da di­mensão pú­blica da em­presa, de tudo isto se faz o dia-a-dia de um País onde o drama da ha­bi­tação, a perda do poder de compra, sa­lá­rios e re­formas cres­cen­te­mente des­va­lo­ri­zadas, as di­fi­cul­dades de acesso à saúde se vo­la­ti­lizam.

Ler da parte do di­rector do Ex­presso que «o po­pu­lismo mata-se com in­for­mação» e com o com­bate a «res­postas fá­ceis a pro­blemas di­fí­ceis» não deixa de ter a sua graça. É ver­dade que só se pode re­agir com in­dig­nação a uma su­cessão de casos in­se­pa­rá­veis de cri­té­rios e op­ções que pre­do­minam na po­lí­tica de di­reita. Mas ali, e so­bre­tudo em ou­tros ins­tru­mentos do grupo eco­nó­mico que detém este se­ma­nário, com par­ti­cular des­taque no canal te­le­vi­sivo de que dispõe, se há algo a re­gistar é exac­ta­mente o in­verso do que em pa­la­vras se cri­tica.

Veja-se os ali­nha­mentos no­ti­ci­osos, a ob­ses­siva e do­entia fi­xação do que é tema de ques­ti­o­na­mento na co­ber­tura de ini­ci­a­tivas das di­versas forças po­lí­ticas, a os­ten­siva des­pro­porção de tempo com a pro­moção à náusea de uns e o apa­ga­mento de ou­tros, a quase total au­sência dos pro­blemas con­cretos com que os tra­ba­lha­dores e a po­pu­lação se con­fronta, para se re­velar quão dis­tante anda o que se diz ou es­creve e o que na prá­tica se faz.




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