A guerra

João Frazão

A guerra está às portas da Eu­ropa. Uma guerra com in­con­tá­veis mortos. Que se­para fa­mí­lias e que, de novo, deixa mães sem fi­lhos e fi­lhos sem pais. Que ceifa, in­dis­cri­mi­na­da­mente, ho­mens, mu­lheres, jo­vens e menos jo­vens, cri­anças.

Uma guerra sem tré­guas, sem quartel, para a qual pa­rece não haver in­te­resse em pro­curar a paz e que, por isso, cresce de in­ten­si­dade a cada dia que passa.

Uma guerra que opõe dois lados bem dis­tintos.

De um lado temos os que, para de­fender, dizem eles, um de­ter­mi­nado modo de vida (será talvez o fa­moso modo de vida oci­dental), der­ramam bombas um pouco por todo o pla­neta, do Médio Ori­ente à Ásia Cen­tral, de África até à pró­pria Eu­ropa. E, no seu afã de, como ontem es­pa­lharam a fé e os bons cos­tumes, alar­garem hoje os seus do­mí­nios à ex­plo­ração das ri­quezas de vastos ter­ri­tó­rios, vão com pe­zi­nhos de lã sempre que con­se­guem, mas atacam de botas car­dadas sem va­cilar, sempre que julgam que não há outro ca­minho.

Do outro lado temos os novos fa­mé­licos da terra, vindos de pa­ra­gens dis­tantes para se jun­tarem ao exér­cito dos que pro­curam uma vida me­lhor, dos que fogem da po­breza im­posta e das bombas que che­garam, in­va­ri­a­vel­mente, com o selo dos EUA, da NATO, da UE, de Is­rael ou de grupos ter­ro­ristas por eles ar­mados e fi­nan­ci­ados, ao Afe­ga­nistão, à Síria, à Líbia, a países di­versos da África sub­sa­riana, dos que vêem os seus países e, con­se­quen­te­mente, as suas vidas, exau­ridos na fúria do do­mínio im­pe­ri­a­lista.

Nessa guerra, os se­gundos in­vestem todos os dias contra o fosso que pro­tege a Eu­ropa, o Mar Me­di­ter­râneo, e contra muros e fron­teiras que os pri­meiros, as­sis­tindo de ca­ma­rote ao drama hu­mano que ali se vive, er­guem cada vez mais altos.

Os se­gundos, que se apre­sentam ar­mados apenas da sua sede de uma vida me­lhor, se lhes fosse per­mi­tido al­cançá-la nos seus lo­cais de origem para si e para os seus, de­sis­ti­riam desta guerra de bom grado. É isso que há a fazer, as­se­gu­rando aos povos o di­reito a de­ci­direm dos seus des­tinos e a be­ne­fi­ci­arem das suas pró­prias ri­quezas.

Como nos úl­timos meses ficou ab­so­lu­ta­mente claro, não é por falta de meios que isso não é feito. Para a outra guerra que o im­pe­ri­a­lismo impõe a Leste, esta se­mana a UE de­cidiu de­dicar mais 50 mil mi­lhões de euros.

En­tre­tanto, vamos con­ti­nuar a as­sistir aos que choram lá­grimas de cro­co­dilo pelas cri­anças que dão à praia, en­quanto esse exér­cito vai con­ti­nuar a morrer nos barcos que nau­fragam à vista de todos.

 



Mais artigos de: Opinião

Ampliar a luta pela paz!

Foram recentemente divulgados pelo Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo/SIPRI dados sobre as despesas militares em 2022, que constatam o seu aumento pelo oitavo ano consecutivo, atingindo um recorde de 2240 mil milhões de dólares. Se dúvidas existissem, os dados confirmam quem no mundo tem estado...

No meio do ruído

Lusa Percorremos as linhas do tempo das aplicações de redes sociais. A rapidez, o volume, a velocidade, os comentários, a intensidade da luz projectam uma realidade paralela. Nela os problemas reais – os salários, os preços, a...

Metsola, franjas e extremismos

Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu, visitou Portugal. Os propósitos desta visita não são novidade. Sempre que há eleições para o Parlamento Europeu, cerca de um ano antes, as instituições e figuras da União Europeia lançam-se num vasto conjunto de acções e instrumentalizações com um único objectivo:...

«Correspondente de guerra»

O discurso político e mediático justificativo da guerra tem recursos poderosíssimos, a todos os níveis, nomeadamente ideológicos, militares e económicos. Convencer milhões de pessoas do «Ocidente alargado» de que a guerra e as sanções são justas, necessárias e inevitáveis é uma questão-chave para o imperialismo, que...

Rankings, exames e palavras doces

Como sempre acontece por esta altura do ano, foram recentemente divulgados os rankings que se propõem hierarquizar – com números e gráficos muito científicos, nem podia ser de outra maneira – as escolas portuguesas pelo seu «desempenho». Medindo, para isso, factores como as notas dos exames e das provas ou as médias...